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Maria vai à luta

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Maria Bruno Néo é uma jovem designer portuguesa que nunca se deixou limitar em termos dos seus horizontes profissionais. Estagiou no estúdio Tord Boontje, depois esteve na Eduardvanvliet, em Amsterdão, de design de interiores, produtos e padrões ao nível de grafismo para têxteis e pápeis de parede. Actualmente é directora de design de duas marcas que pertencem a mesma empresa, a Munna, de estofos e a Ginger&Jagger, de mobiliário e iluminação, onde faz a gestão de uma equipa desde produto, stands e estratégia e ainda tem o seu estúdio em nome próprio.

Quando desenhas um produto, quais os factores que tens em consideração?
Maria Bruno Néo: Depende do produto. Se for inserido numa marca, tento valorizar a estética e o que defende em termos de visão e dou um pouco de mim enquanto à minha vivência cultural. Se se trata de um produto em que se valorize mais o design de autor é mais livre, por assim dizer, reflecte a minha herança cultural e o que acho interessante em termos dos materiais e padrões, porque trabalho muito essas duas vertentes, os materiais e os grafismos, trabalho com as memórias nos projectos.

Em termos dos teus projectos de autor, tens preocupações específicas dígamos ambientais ou nem por isso?
MBN: No geral tenho, tento utilizar materiais que venham da natureza. Defendo um pouco que não é só o deitar fora e ser biodegradável, mas que os materiais são nobres no sentido em que perduram e envelhecem com as pessoas no tempo e as pessoas tendem a não deitar fora esses objectos porque criam um elo sentimental e que podem ser, por exemplo, a madeira maciça e os metais, que acho que não ficam feios ao envelhecer.

Que outros materiais que utilizas reflectem a marca Maria Bruno Néo?
MBN: Não tenho marca, é mais um estúdio individual. Em alguns projectos utilizei cerâmica e têxteis. Fiz parceria com o Gonçalo Campos e decidimos subverter a tecnologia da cerâmica, criando moldes efémeros, mergulhámos tecidos, sempre de composição natural, como o linho e algodão e esses moldes foram queimados durante o processo de cerâmica e ficou só a forma.

Dos produtos que desenhaste, existe algum que te define como designer?
MBN: Acho que todos me definem de algum modo, porque todos provém da minha cabeça. Todos tem um pouco de mim e mostram diferentes fases da minha vida, da minha memória e do convite que endereço ao mundo. Não considero que haja um clássico da minha maneira de pensar.

No teu site afirmas que a inspiração resulta das tuas viagens e do contacto com outras culturas, achas que isso é muito importante para um designer, no geral, ou não?
MBN: Eu acho que sim. É importante as pessoas não estarem fechadas no seu mundo pequenino do dia-a-dia. Viajar permite descobrir pontos em comum com culturas diferentes e outros mais distantes, isto faz com que as pessoas cresçam e estejam mais abertas para explorar outras tecnologias, ou outras formas de pensar. Estes aspectos acabam por influenciar o trabalho de cada um.

 

  

Quando idealizas um projectos, para além das viagens, a que recorres quando crias uma peça?
MBN: Posso estar inclinada para explorar um material e tento nesse projecto encontrar uma tecnologia onde possa abordá-lo de forma diferente. Às vezes, quero explorar alguma música, ou obra de arte que me inspire de algum modo e que quero aproveitar para transformá-lo num produto. Ou então abordar a tecnologia da própria matéria, muitas vezes os materiais já estão escolhidos e aí tenho que dar a volta.

Há pouco tempo, referiste a tua parceria com o Gonçalo Campos, são importantes essas co-criações para um designer?
MBN: Acho que sim, porque todos os projectos são resultado de um trabalho de equipa, podes desenhar sozinha, mas acaba por ser outro a produzir. É importante ter esses trabalhos em parceria, no sentido em que as pessoas pensam de forma diferente e complementam-se para tornarem um produto mais rico e interessante.

Estas de partida para a bienal de Kotrijk, em que sentido as feiras são importantes para um designer?
MBN: São importantes no sentido em que é vemos o que esta a acontecer, em que áreas se esta a apostar, não só em produto e forma, mas como se apresenta em termos de mercado. Quais as cores, materiais e que tipo de linguagem utilizam nos meios de comunicação social, ou seja, como posicionam as marcas, como se apresentam, isso é muito interessante e muitas das vezes dá para ver quando se vai para as feiras. A bienal é importante, porque estou a trabalhar numa empresa, como directora de design, como nunca fui a essa feira em particular, que acontece uma vez de dois em dois anos, é importante perceber porque certas empresas vão estar presentes, vamos também verificar se as empresas são apenas locais ou não e como se apresentam para este público que é muito específico da Bélgica.

Quando começas a carreira como designer, tens de ser sempre em mente que tens de dar o salto em termos internacionais e não ficar-te pelo mercado nacional?
MBN: Sim, até porque não faz muito sentido permanecer no mercado nacional, porque somos um país pequenino.

Então para quem começa o seu percurso internacional como é que isso se faz em termos qualitativos?
MBN: Para mim foi, na altura, importante saber o que queria seguir dentro do design e como me queria identificar. Fiz uma selecção de dez designers com quem queria aprender mesmo que pudesse parecer impossível e inantingível e escrevi perguntando se poderia ir para os seus estúdios aprender com eles, consegui ir trabalhar para o estúdio Tord Boontje e ter essa percepção mais internacional, porque o seu trabalho esta espalhado pelo mundo inteiro, desde América, Europa e Ásia. Foi muito interessante, porque o mundo acaba sendo pequeno, graças às novas tecnologias, como a internet, pode chegar-se a qualquer lado e fazer essa aproximação a vários países. Na altura, consegui a bolsa do inovart que me ajudou imenso financeiramente dar esse passo.

Achas que em Portugal os novos designer são vistos de forma positiva, ou existe ainda uma certa desconfiança por parte da indústria?
MBN: Eu não acho que haja desconfiança em relação aos novos designer. O que não há é uma ideia formada sobre estes profissionais, o que existe é uma percepção sobre as marcas portuguesas, nesse aspecto esta a mudar. Antes as pessoas tinham a imagem de que Portugal era mais um pouco do que se fazia em Itália, ou seja, que iam para uma feira em Milão e copiavam de tudo um pouco, essa ideia se esta a subverter, porque agora ficam surpreendidas pela muito boa qualidade dos produtos e com projectos completamente novos, que não vão encontrar em mais lado nenhum.

E essa imagem também já se extende à indústria nacional, que não encara os designers de uma forma tão preconceituosa?
MBN: Acho que na indústria nacional há muita gente que ainda não compreendem o papel de um designer e como podem dar um valor acrescentado aos produtos, porque o que acaba por acontecer é que as pessoas vêm de fora, contratar as empresas nacionais, para produtos franceses e espanhóis e a indústria nunca chega a ter designers para estar em contacto com esses clientes.

Para além destes passos internacionais que estas a encetar dentro da empresa, que outros objectivos gostarias de atingir em termos profissionais?
MBN: Gostava de desenhar produtos para empresas lá fora, vê-los produzidos, prototipados e que se conseguem vender.

Legenda>

1- Sofa Sophia para a Munna
2- Mesas/ Bancos Seven Little Helpers para a Audiri.
3- Banco Flamenco para a Wewood.

http://mariabrunoneo.com/

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