Então não há um estado de grande reflexão?
TV: Já foi. Eu já passei por essa fase. Eu poderia ter neste momento, três linhas de trabalho sobre a bananeira, porque descobri mais vertentes com capacidade de desenvolvimento para outro tipo de trabalhos.
É fruto da maturidade?
TV: Eu diria que sim, o processo já esta dentro do meu organismo. É quase um processo biológico, flui com grande intensidade. Talvez porque já fiz muita pesquisa na minha área, já foi buscar muita matéria para desenvolver. Esta de reserva. Também faço muitos apontamentos, tenho muita matéria para produzir. Chega a ser mais espontâneo porque, fiz um trabalho de maturação.
Nos primeiros anos, como referiu a pouco, pesquisou imenso, era uma questão de insegurança?
TV: Não, precisava mesmo, porque tinha que representar aquilo que via, que eu queria, sob a forma que eu entendia. Uma dessas vertentes, levou cerca de dois anos, era tentar representar a textura do talo seco da folha, que é castanho. Tive de arranjar com os poucos materiais que dispunha, com plásticos e tintas, formas que me pudessem conferir aquela textura, para que as pessoas ao visualizar aquele objecto artístico fizessem a ligação. Identificassem o objecto. Aí foi onde demorei mais tempo. O trabalho que esta aqui, que é mais recente, é com a seiva, que faz parte do contexto do desenho. Eu corto uma bananeira pequena ponho em cima de uma tela inclinada e a partir do líquido que escorre vou desenhando. O que me dá imenso prazer é fazer uma obra de arte ecológica, que não levou qualquer produto químico. Temos algodão, que é a lona em cru e a seiva. O pigmento é que deu forma ao desenho.
Então como faz os desenhos?
TV: Este trabalho tem de ser feito com muita rapidez. A bananeira tem os chamados filhos, uma designação dos trabalhadores, eu corto os rebentos mais pequenos e deve-se deixar um, senão tira a força as outras. Depois, deixo-as “sangrar” em cima da tela e conforme o percurso do pingo, eu com a ponta de uma faca faço as linhas de uma casa, por exemplo.
Porque seca muito depressa?
TV: Ele de facto começa logo a oxidar, mas é mais pelo facto do pingo correr para fora da tela, corre demasiado para a outra extremidade e eu perco a oportunidade de criar alguma coisa. A ideia é levar o pigmento para onde quero, para o seu seguimento, começo pelo telhado, as portas e as janelas e depois levar esse pingo para uma outra casa e assim sucessivamente. É um trabalho, de 42x42 cm, feito num minuto, senão a tinta começa a escorrer para os lados e eu não tiro proveito dele.
Tem, no entanto, aquilo que chama os carimbos?
TV: Sim, eu pretendia registar o corpo da bananeira, a ideia é criar o fóssil da planta. Criar o seu próprio organismo, porque elas estão em extinção em diversos países na América do Sul, devido a um vírus que provém da terra. Então eu decidi criar esse registo interior, por isso, corto a bananeira, deixo umas horas sobre a tela depois tiro e dá um aspecto de um fóssil. É uma matriz da planta. Este tipo de exposição tem tido muito sucesso, porque eu explico muito este conceito de arte, porque mesmo os meus trabalhos abstracto nascem de uma realidade visual e isso as pessoas percebem.
O seu processo criativo depende da sua preocupação ambiental?
TV: Muito. Sem dúvida. Há muita implementação de produtos biológicos, de não usar produtos químicos.
Mesmo assim procura criar pigmentos a partir de terra como referiu a pouco?
TV: Sim e também usei areia, mas tinha que usar um aglutinante. Para fixar. Neste caso, a linha das bananeiras é inteiramente ecológica, não lavei pincéis na água e deitei fora, para mim é um grande prazer que não se polua o meio ambiente e esse trabalho é uma prova disso. Eu tenho telas grandes dentro deste género, mais rudes.
Isso não é um contra-senso? O artista pretende perpetuar-se no tempo através do seu trabalho e no entanto estes trabalhos que desenvolve são biodegradáveis.
TV: Não são. A seiva de uma bananeira é de uma permanência diria quase infinita. Nada o é, mas tem mais durabilidade do que algumas tintas que temos no mercado. Eu garanto. Já pintei t-shirts com esse pigmento natural e a tendência é de escurecer, só. Não desbota. Pode deitar lixívia, vai a camisa á vida, rasga o material e fica a tinta.
Quando começou a usar a seiva teve isso em consideração?
TV: Claro, tudo o que faço é muito pensado. Um desses aspectos é a durabilidade. Eu não vou estar a vender uma peça de arte, que após cinco anos vai desbotar, ou começar a desfragmentar-se. Com a bananeira temos essa garantia de durabilidade, basta olhar para os trabalhadores que lidam com a banana, se observarmos com atenção estão sempre cobertos de nódoas, no entanto a roupa é lavada. Durante o meu historial já tive várias temáticas, desde as rochas que tem muito a ver com a ilha e outro dos temas foram as forças da natureza, terrestres e aquáticas.
Sim, mas o tema da natureza continua a ser transversal em toda a sua obra como artista?
TV: Sim, mas isso deve-se ao facto de residir na ilha.
Se vivesse numa cidade não seria assim?
TV: Seria difícil. Eu já residi seis anos em nova Iorque. Eu formei-me lá e depois retornei a esta cidade várias vezes. Poderia eventualmente fazer uma coisa do género. A natureza é a grande fonte e a nossa mãe. Hoje em dia vai ser a nossa grande salvação, porque o resto não é. A grande tecnologia não é a resposta, o homem não está a direccionar a sua inteligência para o que interessa. O que ainda prevalece é a natureza e vamos ter que regressar a ela. Acho que é o caminho a seguir e a arte associada a natureza ainda é mais fantástico.