Então em que se distanciam os produtos que crias para essas empresas e o teu design de autor? Ou práticas os mesmos conceitos tanto para uma marca como para os teus próprios produtos em nome próprio?
GC: O princípio é o mesmo, os produtos que desenho não sou eu que os faço, eu é que tenho de perceber bem o potencial desse sítio, os seus limites e o que consigo fazer tendo em conta tudo isso. É diferente no sentido em que posso procurar aquilo que se adapte ao que eu procuro, em vez de limitar-me as capacidades de uma empresa. Se penso só no desenho depois tenho que procurar empresas mais indicadas, nesse sentido é pouco diferente, mas o princípio continua lá. Em Portugal neste momento é muito difícil encontrar alguém que faça uma cadeira em contraplacado dobrado, se o tiver de fazer tenho de ir até Espanha onde já o fazem. Mas, se quiser desenhar uma peça com esse material no nosso país, não o posso utilizar essa tecnologia porque sei que vai ser muito difícil de fabricar, é um exemplo muito específico, mas é assim.
Tens materiais preferenciais ou não?
GC: Não, eu gosto mais desse desafio de perceber bem o material seja ele qual for e trabalhar sobre isso. Há um produto que criei para a Vista Alegre, uma pessoa que perceba de porcelana entende que é interessante, mas o leigo acha bonito por outros aspectos e isso interessa-me, esses dois caminhos. Uma pessoa muito técnica percebe que as pregas do tecido dão-lhe uma estructura muito importante para quando vai ao forno e não precisa ter uma peça externa, que é o que acontece muitas vezes. Mas, quem não entende, aprecia a peça pela sua forma. Eu gosto deste tipo de jogo, por um lado, resolvo um problema técnico e por outro tenho um primeiro impacto que é suficiente para a peça se tornar interessante.
Quando pensas num produto ou objectos de design começas por onde?
GC: Procuro primeiro conhecer o material e a produção que existe e isso vai ajudar seja qual seja o produto que vou criar. Para mim isso é o mais importante, mas percebendo isso consigo trabalhar nesse parâmetros. O meu objectivo não é fazer peças que sejam muito difíceis de produzir, que não vão vender, que não tem interesse nem para eles, nem para mim. Tem de ser produtos comerciais e que me representem.
E no desenho de autor como é o produto surge?
GC: Pode ser a partir de uma ideia, ou outras coisas interessantes que possam surgir.
Outro aspecto do teu trabalho, é que possui uma dualidade, para além de serem muito prácticos, isso é parte de ti como designer, ou tem a ver com os objectivos que são requisitados em termos da encomenda?
GC: Não, isso normalmente vêm de mim, sou eu que acho interessante esse tipo de produtos, porque é uma mais-valia, não ser mais um igual aos outros, de ser especial. Na verdade hoje em dia constroem-se casas cada vez mais pequenas e este tipo de produtos começam a ser interessantes. Em termos de mercado também é vantajoso, não é apenas uma mesa, tem uma outra função, ou uma estante que pode ser facilmente transportada de uma casa para outra, ou uma mesa de centro, que pode ser usada como apoio, ou quando remodelámos a sala e desta forma coloca-se a peça em outras posições. Tenho que ter algum outro argumento nos meus produtos, ou seja, pode-se vender uma mesa de centro, como mesa de apoio, esse tipo de lógica é vantajoso em termos comerciais, mas também é relevante na casa das pessoas.
Tens preocupações ambientais, em termos de origem?
GC: Não tenho muito, mas normalmente as empresas têm. Trabalhei numa que produz burel e a marca tem essa preocupação desde a sua origem, só utilizam lã portuguesa, porque a ideia inicial foi restructurar o tecido empresarial da zona de Manteigas. A Wewood, por outro lado, tem todas as madeiras certificadas, que são recolhidas em florestas certificadas. Em Portugal, cada vez mais se tem essa preocupação, é uma vantagem comercial, há clientes que tem essa exigência e se uma marca quiser trabalhar no mercado mais exigente, esse tipo de produtos tem de existir.
Como te definirias como designer?
GC: Eu gosto de pensar que os produtos que desenho quando são para as empresas resolvam problemas, possam ser utilizados pelas pessoas e ao mesmo tempo aprecio a ideia de que quando estou a desenhar estou a ajudar a empresa e contribuir para o seu sucesso. Para mim isso é cada vez mais importante, quando trabalho em Portugal penso dessa forma. Mas, como designer acho que faço produtos especiais e únicos e que representam da alguma maneira a minha maneira pensar.
Qual é o teu próximo passo em termos profissionais?
GC: Quero continuar a trabalhar para várias empresas como tenho feito até agora, não há um objectivo em concreto para atingir, só quero crescer, ter mais trabalho com empresas portuguesas e ajudá-las a crescer.
Vives em Berlim por motivos profissionais?
GC: Não gosto de viajar, estou cá desde 2005. Passo um ano em cada país e já vivi em Itália, na Inglaterra, França e em Fevereiro vou para Paris. É normal para mim mudar.
Isso estimula também a tua capacidade criativa mesmo em termos design?
GC: Sim, estar numa cidade nova, estar disposto a receber certos estímulos, conhecer pessoas diferentes e cada vez que vou para uma cidade nova gosto de me encontrar com designers, com pessoas de outras áreas, criativos, fotográfos e visitar novos museus. Em Londres, onde reside durante um ano e meio, há muito disso a acontecer, é uma cidade muito rica, mas há sempre outros lugares interessantes.
Não emigrastes por motivos profissionais?
GC: Não, faço isto porque me apetece. Antes em Portugal, estive a viver no Porto, em Paredes e em Aveiro. Sempre em várias cidades, mas achei que estava na altura de sair do país. É algo que tenho sempre feito e me dá um certo gozo.