Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

O deambulador

Escrito por 

  

Gonçalo Campos é um designer que aposta em peças únicas, diferentes e com uma dupla funcionalidade. Adequa os seus produtos as necessidades das marcas e procura oferecer soluções inovadoras tendo em conta as características das indústrias para as quais trabalha.

Uma das características das tuas peças de design é a desconstrução. Acontece com os objectos de cerâmica, forneces uma outra função ao próprio material. É uma marca tua em termos de design?
Gonçalo Campos: Sim, tem a ver com a produção. Eu gosto de trabalhar muito próximo das empresas, perceber como funcionam e fazer isso muita vezes facilita em termos de produção. No caso das cerâmicas uma caneca é feita normalmente em duas partes, o copo e a pega separadamente, sabendo isto pode-se brincar um pouco com a peça e desconstruí-la. É uma maneira mais simples de fazer algo especial, diferente e também para que as empresas percebam que não é necessário um grande instrumento para trabalhar com designers, não é essencial ir muito longe para se fazer algo original, novo e às vezes isso é o suficiente para as marcas.

Algumas das tuas peças de madeira são de uma simplicidade quase desconcertante, quase não tem produção, trabalhas muito em termos da função. É sempre uma preocupação tua?
GC: Não é sempre. Eu encaro da mesma forma, muitas vezes há maneiras de fazer uma peça simples que seja funcional e ao mesmo tempo especial, isso interessa-me. Os produtos que desenho tem de ter em conta, não a economia, mas a dificuldade de produção, porque se abordo uma empresa e o produto for muito complicado, é uma razão para o seu desinteresse, em detrimento de um mais simples, que eles percebam como produzir.

Porquê dizes isso, continua a haver esta dificuldade de interacção entre a indústria e os designers, é isso?
GC: Sim, muitas vezes, não há vantagens sequer. Em alguns casos a culpa é dos designers que não conhecem a empresa o suficiente, nem o mercado onde estas companhias trabalham, não entendem a sua dimensão, já nem todas fornecem os mesmos tipos de clientes e os produtos que se desenham não são adequados. Eu aprendi isso tendo mais interacção com as empresas, com os mercados e as marcas. Foi isso que me empurrou para a exportação, perceber bem as necessidades das empresas e desenhar de acordo com isso, porque é isso que as marcas portuguesas necessitam neste momento, soluções interessantes tendo em conta as capacidades que dispõem e desenhar a partir daí. Ao contrário do designer que esta de fora de todo este processo e que acaba por adiar um projecto, muitas das vezes as companhias querem licitar, querem ter produtos novos, especiais, competitivos, mas necessitam de criar produtos tendo os recursos que dispõem aos preços que praticam, em vez de investir mais dinheiro à procura de um cliente para esse novo produto, que acaba por não fazer parte do contexto da empresa.

Isso acontece com qualquer tipo de empresa, quer seja portuguesa ou não?
GC: Sim, no geral.

 

 

Então em que se distanciam os produtos que crias para essas empresas e o teu design de autor? Ou práticas os mesmos conceitos tanto para uma marca como para os teus próprios produtos em nome próprio?
GC: O princípio é o mesmo, os produtos que desenho não sou eu que os faço, eu é que tenho de perceber bem o potencial desse sítio, os seus limites e o que consigo fazer tendo em conta tudo isso. É diferente no sentido em que posso procurar aquilo que se adapte ao que eu procuro, em vez de limitar-me as capacidades de uma empresa. Se penso só no desenho depois tenho que procurar empresas mais indicadas, nesse sentido é pouco diferente, mas o princípio continua lá. Em Portugal neste momento é muito difícil encontrar alguém que faça uma cadeira em contraplacado dobrado, se o tiver de fazer tenho de ir até Espanha onde já o fazem. Mas, se quiser desenhar uma peça com esse material no nosso país, não o posso utilizar essa tecnologia porque sei que vai ser muito difícil de fabricar, é um exemplo muito específico, mas é assim.

Tens materiais preferenciais ou não?
GC: Não, eu gosto mais desse desafio de perceber bem o material seja ele qual for e trabalhar sobre isso. Há um produto que criei para a Vista Alegre, uma pessoa que perceba de porcelana entende que é interessante, mas o leigo acha bonito por outros aspectos e isso interessa-me, esses dois caminhos. Uma pessoa muito técnica percebe que as pregas do tecido dão-lhe uma estructura muito importante para quando vai ao forno e não precisa ter uma peça externa, que é o que acontece muitas vezes. Mas, quem não entende, aprecia a peça pela sua forma. Eu gosto deste tipo de jogo, por um lado, resolvo um problema técnico e por outro tenho um primeiro impacto que é suficiente para a peça se tornar interessante.

Quando pensas num produto ou objectos de design começas por onde?
GC: Procuro primeiro conhecer o material e a produção que existe e isso vai ajudar seja qual seja o produto que vou criar. Para mim isso é o mais importante, mas percebendo isso consigo trabalhar nesse parâmetros. O meu objectivo não é fazer peças que sejam muito difíceis de produzir, que não vão vender, que não tem interesse nem para eles, nem para mim. Tem de ser produtos comerciais e que me representem.

E no desenho de autor como é o produto surge?
GC: Pode ser a partir de uma ideia, ou outras coisas interessantes que possam surgir.

Outro aspecto do teu trabalho, é que possui uma dualidade, para além de serem muito prácticos, isso é parte de ti como designer, ou tem a ver com os objectivos que são requisitados em termos da encomenda?
GC: Não, isso normalmente vêm de mim, sou eu que acho interessante esse tipo de produtos, porque é uma mais-valia, não ser mais um igual aos outros, de ser especial. Na verdade hoje em dia constroem-se casas cada vez mais pequenas e este tipo de produtos começam a ser interessantes. Em termos de mercado também é vantajoso, não é apenas uma mesa, tem uma outra função, ou uma estante que pode ser facilmente transportada de uma casa para outra, ou uma mesa de centro, que pode ser usada como apoio, ou quando remodelámos a sala e desta forma coloca-se a peça em outras posições. Tenho que ter algum outro argumento nos meus produtos, ou seja, pode-se vender uma mesa de centro, como mesa de apoio, esse tipo de lógica é vantajoso em termos comerciais, mas também é relevante na casa das pessoas.

Tens preocupações ambientais, em termos de origem?
GC: Não tenho muito, mas normalmente as empresas têm. Trabalhei numa que produz burel e a marca tem essa preocupação desde a sua origem, só utilizam lã portuguesa, porque a ideia inicial foi restructurar o tecido empresarial da zona de Manteigas. A Wewood, por outro lado, tem todas as madeiras certificadas, que são recolhidas em florestas certificadas. Em Portugal, cada vez mais se tem essa preocupação, é uma vantagem comercial, há clientes que tem essa exigência e se uma marca quiser trabalhar no mercado mais exigente, esse tipo de produtos tem de existir.

Como te definirias como designer?
GC: Eu gosto de pensar que os produtos que desenho quando são para as empresas resolvam problemas, possam ser utilizados pelas pessoas e ao mesmo tempo aprecio a ideia de que quando estou a desenhar estou a ajudar a empresa e contribuir para o seu sucesso. Para mim isso é cada vez mais importante, quando trabalho em Portugal penso dessa forma. Mas, como designer acho que faço produtos especiais e únicos e que representam da alguma maneira a minha maneira pensar.

Qual é o teu próximo passo em termos profissionais?
GC: Quero continuar a trabalhar para várias empresas como tenho feito até agora, não há um objectivo em concreto para atingir, só quero crescer, ter mais trabalho com empresas portuguesas e ajudá-las a crescer.

Vives em Berlim por motivos profissionais?
GC: Não gosto de viajar, estou cá desde 2005. Passo um ano em cada país e já vivi em Itália, na Inglaterra, França e em Fevereiro vou para Paris. É normal para mim mudar.

Isso estimula também a tua capacidade criativa mesmo em termos design?
GC: Sim, estar numa cidade nova, estar disposto a receber certos estímulos, conhecer pessoas diferentes e cada vez que vou para uma cidade nova gosto de me encontrar com designers, com pessoas de outras áreas, criativos, fotográfos e visitar novos museus. Em Londres, onde reside durante um ano e meio, há muito disso a acontecer, é uma cidade muito rica, mas há sempre outros lugares interessantes.

Não emigrastes por motivos profissionais?
GC: Não, faço isto porque me apetece. Antes em Portugal, estive a viver no Porto, em Paredes e em Aveiro. Sempre em várias cidades, mas achei que estava na altura de sair do país. É algo que tenho sempre feito e me dá um certo gozo.

http://goncalocampos.com/

1 comentário

  • Ligação de comentário mobile.usablenet.com quarta, 31 dezembro 2014 06:12 postado por mobile.usablenet.com

    Hey there superb blog! Does running a blog similar to this
    require a lot of work? I've vitually no expertise in cooding but
    I had been hoping to start my own blog soon.
    Anyhow, if you have any ideas or tips foor neww blog owners please
    share. I understand this is off subject nevertheless I
    simply needed to ask. Thanks a lot!

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos