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O diário de outros prazeres

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O terceiro aniversário da Galeria dos Prazeres, na Calheta, foi o mote para a criação de um diário gráfico. Uma mostra artística interactiva e que nos transporta pagina, após página a um mundo criativo, colorido e pessoal dos artistas convidados.

Explica como chegastes a ideia de um diário gráfico?
Patrícia Sumares: A ideia surgiu para comemorar o terceiro aniversário da Galeria dos Prazeres, no dia 24 de Outubro de 2011. Nessa data foram distribuídos os cadernos aos artistas. Realizamos de novo um encontro artístico, como ocorreu na inauguração, no primeiro ano de existência do espaço. Fizemos um passeio em que juntámos os artistas daqui na ilha no Rabaçal e organizamos um jantar em que toda a gente trazia algo para esse convívio. No final, distribuímos os diários e cada artista fez a sua própria intervenção artística. O tema inicialmente era a ideia dos Prazeres, como nem todos podiam estar presente nesse fim-de-semana, porque houve artistas que foram convidados e que não residem na Madeira, tive mesmo de enviar o diário por correio, então lembrei-me de alterar o tema para “outros prazeres”. Os artistas podiam desenhar, registar ideias, imagens e resultou nesta exposição.

Como foi feita a selecção dos artistas? Foram escolhidos tendo em conta já terem exposto os seus trabalhos na galeria, ou por serem madeirenses?
PS: Acho que o primeiro critério que uma boa galeria deve ter é escolher os artistas pela qualidade do trabalho. Esse é o primeiro ponto. Depois se tem uma ligação com a galeria, neste caso com a galerista e há artistas que já participam nestas mostras colectivas desde o primeiro momento de existência deste espaço. Dessa forma cria-se uma ligação. Uma galeria tem os artistas que representa. Esse espólio não se cria de um momento para outro. Leva algum tempo para conhecer o trabalho do artista e se é responsável ou não. A maioria deles já participaram na primeira edição e por isso o convite foi direccionado a essas pessoas. Alguns desistiram, outros surgiram, outros ainda mantiveram-se e é isso que se pretende neste espaço cultural. Que se crie um ciclo que não seja vicioso, mas sim dinâmico e intentar sempre mudanças que sejam positivas, é sinal que há vitalidade e é isso que interessa.

Foi por isso que escolhestes os cadernos, porque era fácil de usar?
PS: Os cadernos surgiu de um diálogo com uma colega a Helena Sousa que até participou e foi uma ideia que tivemos a partir do curso superior de artes plásticas da Madeira que ambas frequentámos. Nesse espaço na rua da carreira havia uma pequena sala onde os artistas expunham, os melhores alunos, obviamente e que infelizmente deixou de existir. Em conversa, relembrámos a exposição de um artista plástico que fez vários desenhos em múltiplas agendas e que foram pendurados em fios. A partir dessa ideia, desse diálogo chega esse conceito, então porquê não juntar diversos artistas nos Prazeres, para desenhar, passear, jantar juntos e fazer no final uma exposição? Agora estamos em Fevereiro de 2012 a comemorar este terceiro aniversário. O que não faz mal, o que interessa é o objectivo final e o sonho que se concretizou.

Eu sei que é uma pergunta muito ingrata, mas quais são diários que mais te marcaram.
PS: Há uns que gosto mais pela ideia, pelo conceito. Há outros em que se verifica que foi dedicado tempo, agora é preciso nomes? Acho que não vale a pena. O que existem é trabalhos muito bons e é uma exposição que da forma como está organizada é uma mais-valia. A ideia é ser uma mostra inter-activa. As pessoas podem cheirar, tocar, virar as páginas e esse aspecto torna-a muito dinâmica.

O que ficou patente na sua viagem pelos “outros prazeres”?
Helena Sousa: No meu caso foi um diário gráfico interior e exterior. Foi uma viagem pelos Prazeres. Começámos pelo passeio a pé e este foi o mote para explorar outros prazeres. São percursos que dão continuidade a minha expressão artística e que estão no papel, através do desenho essencialmente. Em termos exteriores, expressei pequenos prazeres do quotidiano, da vida.

Isabel Natal: Foi uma viagem felina. (risos) Eu gosto muito de animais, mais de gatos. Na altura peguei no caderno, sentei-me e comecei a observar o que estava à minha volta, vi as minhas gatas a dormir e pensei perfeito. Desenho e pinto muito, mas é muito raro na minha obra desenhar gatos, por isso decidi fazer uma viagem felina. Foram mais colagens devido ao suporte ser muito fino e fiz outras técnicas. Foi uma brincadeira, um trabalho lúdico. Levei algum tempo a faze-lo, mas todas as vezes que pegava no caderno entusiasmava-me cada vez mais. Também comecei a escrever sobre os gatos, fiz uma pequena pesquisa. Pensei, não vou por gatos de qualquer maneira, tem de haver mais conteúdo e encontrei coisas muito engraçadas sobre estes animais.

Renato Barros: A minha viagem foi a parte intimista de olhar para as pessoas. Há a apetência do desenhar, do pintar. Depois existem aqueles rostos que não consigo pintar mesmo. E nesta agenda fiz o registo de pessoas anónimas, que iam passando por mim e que ficaram registadas.

Martinho Mendes: Abordei no diário esta questão que é muito madeirense, se calhar há umas décadas atrás, em que as pessoas tinham nas suas casas canteiros com plantas antigas. Então, decidi mostrar essa relação, essa vontade de cuidar os jardins domésticos. Acabo por explorar estas flores mais tradicionais, as metáforas e a própria simbologia associadas a elas. O “coração” neste canteiro da Galeria foi o mote inicial e fiz uma comparação, se existe ou não uma fruição da natureza e os elementos naturais nas obras de artes. A partir desse binómio estabeleci uma comparação com algumas exposições deste espaço que abordava essa mesma temática. Faço uma referência ao trabalho de uns artistas italianos que foram buscar essas referências locais e nas redondezas, através de desenhos e culturas que foram expostos na Quinta pedagógica aqui ao lado. Abordo também à Lourdes Castro que além de ter um conjunto de trabalhos que identificam algumas fases da sua vida, tem uma série de obras dedicadas ao herbário e aí vemos como uma artista através da análise atenta da natureza, pode plasmar através das suas sombras essa temática tão regional. Nesse dia até, estava a decorrer a festa de nossa senhora das neves, onde víamos a ser loteados vasos com essas plantas em forma de coração e os tapetes de flores. Há sempre uma ligação forte com as plantas, que só um olhar atento consegue vislumbrar o quanto é importante para a vivencia regional. Portanto, acabo por fazer essa exploração, que é um pouco teórica, devidamente documentada, através de um trabalho fotográfico que nasceu de uma residência artística onde identifiquei outras casas com a mesma arquitectura tradicional como esta galeria. E ainda, outras plantas, outros “corações”, espécies de begónias e fiz essas associações.

Alexandra Carvalho: A viagem do diário gráfico é pelas minhas figuras. Mais, daquelas que habitualmente faço e que tem características muito particulares. Falo de bichos, todos eles tem uma peculiaridade. São os olhos que viajam de figura em figura e também se reflectem na bicharada. No fundo retratam os prazeres deles e o prazer que temos com eles e que também nos dão no fundo.

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