Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

O pintor poeta

Escrito por 

 

Eduardo Bragança é um artista plástico auto-didacta que pinta com alma. As suas obras são um reflexo das emoções que inundam, das pequenas coisas que embelezam o mundo e das pessoas que conhece ao longo desse percurso que o levou até ao Brasil.

Estiveste ligado à moda e depois mudaste de rumo para as artes plásticas, porquê essa mudança?
Eduardo Bragança: Apesar da minha formação ser de design de moda, eu fui convidado logo no fim do curso para fazer parte de uma equipa de design de calçado português e aceitei o desafio apesar de estar quase a mudar radicalmente de área, porque ainda assim o mercado da moda em Portugal era demasiado competitivo para a dimensão e espaço que o país tinha. Avancei com esse projecto e estive dois anos a trabalhar em calçado, nas minhas primeiras visitas pelo país em feiras, em museus e pelo mundo em busca de inspiração para uma linguagem visual encontrei na pintura esse meio. Com o tempo tornei-me um auto-didacta e criei a minha expressão artística de que sempre gostei, na arte encontrei esse objectivo de uma forma muito mais desprendida, sem aquela necessidade, aquela busca e procura competitiva de um resultado. A pintura trouxe-me um resultado mais altruísta e muito mais digno, essa busca também resultou de um desgaste em relação a uma área que é um meio muito podre, de que se vive muito da competição e passado um tempo já não gostava tanto como idealizava o que seria o meu percurso na moda.

É então que decides sair desse universo?
EB:Não, depois com essa experiência profissional passei do criador para o criativo numa empresa também ligada a moda, mas mais na parte do audiovisual, publicidade e anúncios na tv. Durante 4 anos esse foi o meu percurso empresarial, em ruptura com a empresa surgiu o intuito de tornar a pintura em algo mais sério, os meus amigos empurraram-me e estimularam a ideia de mostrar os trabalhos que fazia na garagem. Na primeira exposição que fiz vendi alguns quadros, mas só na seguinte vendi todos e como continuei a ter sucesso comecei a mostrar os meus trabalhos uma, ou duas vezes por ano.

Vamos abordar as tuas obras, há várias fases no teu trabalho, na primeira pintas as tuas emoções, foi uma busca interior neste primeiro processo?
EB: Foi sim, foi uma fase de descoberta. Numa altura em que quase rompi com as minhas ligações profissionais para me dedicar exclusivamente à pintura, falar disso foi um vínculo muito forte, abordei os valores humanos, coisas que simbolizavam mais do que o trabalho expressavam a busca de entendimento e relação e de amor entre as pessoas. Durante todos estes anos em que me fui descobrindo enquanto pintor, também fiz o mesmo em relação às relações humanas, fui-me vinculando mais aos temas pessoais e humanos que estão sempre presentes em todos os meus trabalhos, através de frases, ou pequenos poemas.

Outra das tuas inspirações já numa fase mais posterior, provém do exterior, quando começaste a viajar, fizestes imensos retratos de pessoas e até realizaste um projecto de vídeo arte, que é o “exploring emotions”. Fala-me dessa obra e de como começaste a explorar o vídeo que era uma área que ainda não tinhas explorado.
EB: Bem, foi em 2011 que decidi que o meu trabalho teria um salto, já que comecei a vender para a Grécia e a ver mais resultados. Pensei que se me voltasse para o exterior o meu trabalho teria um volte face diferente, uma outra contra-partida e isso seria positivo, porque quando vendi minhas obras em Atenas tive um retorno interessante. A partir daí houve um apelo para explorar um projecto mais num contexto fora do meu país e que me fez repensar o que estava a fazer, o que deveria realizar enquanto criador. Seria uma alternativa diferente e então decidi juntar uma das ferramentas que já conhecia que era a filmagem para idealizar um projecto também muito emocional, ligando pessoas e registando-as em filme após responderem a uma simples pergunta, de forma a que todos esses indivíduos estivessem presentes de uma maneira bonita, ou real. O meu objectivo era trazer esse conteúdo de cada viagem, descortinar as respostas e conteúdos das muitas pessoas que respondiam à minha pergunta e depois retratar tudo isso, esses esboços num só trabalho por cada país. O processo foi aleatório quer na escolha da pessoas, quer no teor das perguntas, porque tudo foi feito por mim andando pelas ruas da cidade durante horas até escolher esse álguem e estabelecer um diálogo, estar cinco minutos ou duas horas e isso trouxe-me um grande enriquecimento pessoal e profissional.

Agora tens um novo projecto em vídeo?
EB: Estou a fazer uma curta-metragem com uma actriz portuguesa e outra não actriz, estou a acabar este pequeno filme, porque envolve várias pessoas de vários países, a banda sonora é de Caetano Veloso e os restantes estão em Londres. Estou neste projecto há quase dois anos e espero este ano ter tudo finalizado. Não tenho como intuito profissionalizar-me nesta área, apenas quero dar a conhecer uma história feita por várias pessoas.

Mas, esta é uma nova fase do teu trabalho, os vídeos artísticos? Deixaste de parte a pintura de parte ou nem por isso?
EB: Não de forma alguma. Desde 2012 que faço viagens e faço a divulgação do meu nome, de passar a mensagem de quem sou e o que faço, mas de uma forma desprendida sem ter uma galeria por detrás ou um agente. Conheci muita gente nesta deambulações, dei-me a conhecer e isso sem dúvida abriu-me muitas portas, de uma forma mais profissional. Fui até o Brasil onde tive muito sucesso e arranjei cá uma agente que me apresentou uma galeria que assinou comigo em Curitiba, dessa relação profissional de alguns anos acabei por me ligar-me a ela de forma pessoal, mudei a minha vida radicalmente e só agora estou a acabar o meu estúdio cá. Como tudo isso demorou muito tempo, fiz uma paragem na pintura, tive de trazer todo o meu material, é uma logística complicada de Portugal até o Brasil e fui nessa paragem que estive concentrado na curta-metragem. No entanto, continuei a pintar bastante, mas nem sempre exponho, porque felizmente não sinto essa necessidade de mostrar e vendo na mesma, são dois a três trabalhos por mês e isso é uma média muito exigente para um artista, practicamente anula a necessidade de expor em detrimento de ter de vender.

O que inspira estes novos trabalhos?
EB: O que me inspira é essa ligação diversificada com as pessoas, com relações de diferentes estilos e em diversos países conhecendo directamente o meu cliente em que não faço a abordagem típica do artista que esta ligado à galeria e deixa que esta faça todo esse contacto. Sou uma espécie de one man show, tenho arquitectos de diversos pontos do mundo a quem vendo o meu trabalho, também através da minha página profissional, tenho pessoas a solicitar trabalhos e dessa forma obtenho uma grande diversidade de relações e experiências muito boas enquanto pessoa e artista. Eu tenho uma capacidade muito grande de trabalho, possuo muita sensibilidade e bom gosto e com isso tudo consigo sempre produzir novas obras. Posso acrescentar que um dos meus clientes convidou-me para apresentar um projecto em Macau, é um fotógrafo de moda e convidou-me para fazer uma intervenção plástica no seu estúdio, num das paredes, eu aceitei e fui uma relação gratificante. Este tipo de estímulos à criação surgem nas viagens, conhecendo novas gentes e inspirando-me com coisas bastante simples, naquilo que sinto. Aliás, no projecto “exploring emotions” eu senti uma transição muito grande com a chegada da crise à Portugal não ao nível financeiro, mas ao nível emocional e isso levou-me às ruas e às pessoas de uma forma mais instropectiva, será que não é mais importante dar menos valor as coisas de que não precisámos, mas ao próximo? Eu fui batendo nessa tecla e o meu trabalho reflecte esse mesmo assunto, mostrando a relação de amor entre duas pessoas, ou de entreajuda ao próximo, ou uma relação de caridade, sempre em torno disto, acho que esse é o meu cunho pessoal e ando sempre em volta desta temática. Há também tanto do simples que me inspira e por mais horrores que veja nas notícias, crio algo que é o contrário do que é noticiado. Agora, o Brasil passa por uma crise forte, como entrou em Portugal e sente-se isso, mas a energia deste povo, a felicidade, o carnaval, a cor e forma como encaram tudo isto é também uma fonte de inspiração e isso tudo modificou à minha pintura. Desde que cá estou não mostrei nada, mas os meus trabalhos estão mais vivos fruto de uma vida mais colorida no Brasil (risos).

Esse então é o teu novo projecto mostrar essa fase mais colorida da tua pintura?
EB: Sim, mas eu não lido muito bem em mostrar estes trabalhos. Eu tenho um projecto que esta a ser exposto no museu de arte contemporânea de Curitiba, esta ligado a uma instituição de solidaridade social. As minhas obras que estão lá expostas foram imprimidas em t-shirts para serem vendidas de forma a obter fundos. Outra exposição irá ter lugar no museu Guido Viaro que me propôs um espaço para mostrar os meus trabalhos, mas esta por agendar, porque a data depende de mim. Tenho andando a vender muitos trabalhos em papel, porque me tem pedido muito isso, as telas requerem uma logística muito grande, depois há um outro problema nas obras em tela que é o transporte, encare muito ao ponto de ser quase o preço da obra.

Nestas tuas últimas obras há muitas frases em francês.
EB: Tenho muitos clientes de Paris e por norma acabo por escrever algo que muitas vezes ajuda a identicar esse meu cliente e não só, porque mais do que essa ligação que tenho com esses países, trata-se de uma forma poética de expressar aquilo que senti de uma forma mais bela e não tão plana que outras palavras teriam, porque não tem essa sonoridade. Já usei italiano, português e só me recuso a utilizar línguas nórdicas, porque não faria sentido. Tenho clientes suecos, mas as frases acima de tudo reflectem este meu lado poético, gosto de falar e expressar-me nessas línguas, aprecio essa exploração fonética e de ver esse resultado no fim.

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos