DP: Não, tive formação multimédia, mas o desenho é inerente a mim. Antes ia até a antiga faculdade de belas artes, tinha contacto com os artistas, mesmo sem ter aulas de estética, já conhecia alguma coisa. O que acho que foi importante foi ter aprendido o máximo com as pessoas à minha volta. Quando tinham uma opinião critica, era constructiva e isso ia criando em mim novas percepções e novas maneiras de olhar. A leitura também ajudou bastante ao longo dos anos.
Os teus trabalhos são uma abstração da própria realidade, ou dos mundos que tens dentro de ti?
DP: É uma abstração dos mundos que tenho dentro de mim. Eu vou criando, não sei em que direcção, mas é intuitivo. Aos 12 anos tive contacto com a cultura zen, através de um livro e achei fascinante o que fazem em termos de contemplação, o que fazem antes de pegar num papel e caligrafarem o poema. É um processo onde não pode falhar nada nesse mundo. Achei tudo isso fascinante. Daí ter abolido o lápis por completo. Passar a trabalhar em esboços com a caneta.
Dirias que essa é uma característica do teu traço?
DP: Não sei definir o meu trabalho, tenho referências da banda desenhada, embora não a faça. Gosto da dinâmica da geometria e toda a explosão que a BD pode ter. Eu uso-a no abstracto no sentido em que é mais estranho para o exterior. Muita coisa já foi feita em termos de desenho, é o esqueleto de uma obra, muitas vezes. A partir desse esqueleto é que vemos o que é a obra em si, não completa ou acabada, o que considero acabado no trabalho dos outros artistas. Para mim é um bloqueio não conseguir perceber como chegaram lá, tinha de vê-los a partir do desenho, por isso é que Alberto Jacometti é importante, a sua fluidez, os seus traços contínuos para tentar descobrir a forma em termos de desenho, embora seja mais reconhecido pela escultura, a parte de desenho é muito precisa. É um artista que me marcou bastante em termos de trabalhar o esboço, assumi-lo como linguagem final, é um pouco expressionista e não sei em que corrente ele se enquadra, sei que teve impacto em mim e em passos rápidos ajudou-me a construir uma figura sem tirar a ponta da caneta, do giz, do lápis de cera da tela e fazer retratos fabulosos.