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Os opostos atraem-se

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A Mouraria galeria de arte promove o trabalho dos artistas plástico ao nível nacional. Trata-se de um projecto inovador, fruto de uma parceira entre a arte contemporânea e arte antiga, que já dura a dez anos, no mesmo edifício. Fomos conhecer o novo desafio proposto pelo galerista Ricardo Ferreira “contraponto”, que aposta nas obras de arte de pequenas dimensões. Duas visões díspares sobre um determinado objecto.

Porque esta exposição contraponto?

Ricardo Ferreira: É uma época próxima do Natal, em que as galerias preparam colectivas de pequeno formato. Isto é, apostam em algumas das peças dos artistas com que habitualmente trabalham em pequenas dimensões pensando no lado mais comercial, porque é uma época de ofertas, mesmo no campo das obras de arte, ou seja, é talvez das melhores alturas do ano para se venderem estas obras. Esta mostra tem uma particularidade, ou pelo menos um lado mais original, a galeria seleccionou um determinado grupo de artistas, convidou cada um deles para apresentarem uma peça de arte para esta colectiva e por sua vez os desafiou para mostrar lado a lado, um outro artista do acervo permanente da galeria. A ideia resultou em algo curioso, que está divido pelas três salas do espaço. Em todas as paredes se encontram dois trabalhos em exposição. O da esquerda simboliza o artista apresentado pela galeria e a peça da direita seja escultura, pintura, fotografia ou desenho representa o autor convidado para esta mesma mostra.

Qual foi o critério de escolha para os artistas convidados?

RF: O critério obedeceu a uma grande diversidade das várias áreas artísticas. Englobam os quatro tipos de vertentes artísticas divulgadas e comercializadas em permanência nesta colectiva mista. Tentámos variar um pouco dentro da escultura, pintura, fotografia e o desenho. A ideia foi gerar um confronto, em estéreo, em sintonia, ou um contraponto, daí o nome da exposição e dividir o espaço da parede com alguém escolhido por eles e não pela galeria. A originalidade reside nesse ponto e todos os artistas gostaram da ideia e aderiram de imediato, agora vamos ver a reacção do público.

Como defines o mundo arte em Portugal, tendo já uma carreira assinalável nesta área?

RF: O meu percurso galerístico tem cerca de 15 anos. À frente da filosofia desta galeria estou a dez anos, os anos anteriores foram dedicados a um espaço em Setúbal, que tinha sucursais no Porto e Madeira. Depois foi destacado para essa galeria satélite no Funchal. O projecto terminou, eu desvinculei-me e fiquei por cá. Surgiu então, a oportunidade de fazer uma joint-venture entre um galerista e um antiquário. Esse tipo de união entre arte antiga e contemporânea, um local com antiguidades e uma galeria de arte ao mesmo tempo, no mesmo edifício para os madeirenses, mas não só. Também virado para o exterior, para as pessoas vindas do continente de norte ao sul do país e para o público visitante estrangeiro.

Eles compram arte?

RF: Atenção, os turistas representam um grande número dos visitantes, mas não compram. A maioria dos coleccionares de arte é local, ou nacionais e não estrangeiros que representam uma percentagem muito simbólica.

Os compradores possuem um conhecimento profundo dos artistas?

RF: As pessoas que gostam de ir coleccionando essas obras de arte, tendo em conta as suas preferências, ou a lógica da sua colecção, ou até mesmo adquirem uma obra porque lhes diz algo tendo em simultâneo a vantagem de ser um bom investimento, é um público que diria muito variado. Não há uma única tendência nas artes plásticas.

Os artistas em Portugal queixam-se que é muito difícil singrar neste meio, partilhas de esta opinião?

RF: Sim e por vários factores. O galerismo em Portugal é uma tradição com poucas décadas. Enquanto no estrangeiro, as galerias de arte já existiam a muito tempo. No nosso país, se repararmos bem, com a excepção de um ou outro espaço que já surgiu a mais de 40 anos, o caso da Alvarez, na cidade do Porto e a galeria 111, em Lisboa, o boom do aparecimento destes espaços verificou-se sobretudo a partir da década de oitenta. Muitas entretanto fecharam e outras abriram nos anos noventa, no século passado, mas é um mercado recente.

Achas que isso deve-se também ao facto de não haver tradicionalmente compradores para essa mesma arte?

RF: Se repararmos bem, alguns investidores, coleccionadores de arte e pessoas que gostam de fluir por estes meios e que acabam por apostar em arte, rondam os 45 anos até os 65 anos, por exemplo, a grande maioria. Já começam a aparecer potencias compradores mais novos, nomeadamente casais, que antes não apareciam no tempo dos nossos pais ou avós. É habitual jovens pares adquirem uma peça, ou uma fotografia contemporânea. Não há só o lado comercial da colecção como investimento, ou do sucesso do artista a, b ou c, às vezes pode ser uma questão de moda. Acabo por ficar um pouco decepcionado com o mercado nacional de arte, por ser muito especulativo, não há uma linha vigente, é feito de altos e baixos, não há regras bem definidas e cotações adequadas. Anda tudo ao sabor das tendências como já referi. Nota-se que é um país em que os galeristas estão de costas virados uns para os outros. Não há uma união. Este é o aspecto negativo, por outro lado, é um privilegio conseguir trabalhar neste mundo nos dias que correm, acaba por ter as suas compensações.

A pouco referistes o tipo de público que visita a galeria da Mouraria, mas não me dissestes qual é o balanço que fazes destes dez anos?

FR: Em termos de percurso, costumo dizer que, um espaço não é uma galeria sem fazer dez anos de existência. Atingindo uma década já se pode considerar como tal, porque tem muitas exposições organizadas, promovidas e divulgadas. Há muitos artistas difundidos e muito boas colecções de arte que ajudámos a construir. Apesar de ser uma galeria privada, que não tem qualquer tipo de apoio, ou subsidio, é um espaço que não está só interessado em apostar nos valores mais seguros, ou em modismos, há uma vontade em apostar nos novos artistas. Em 2006, criámos o Project room, a nossa sala de projectos, que é um conceito que não se vê nas galerias de artes e que foi um passo importante na filosofia e percurso da galeria. É claro, que existem factores externos que impedem a Mouraria de participar, porque é inviável nesta fase, nas feiras de arte contemporâneas. Trata-se de um tipo de investimento que implica muita base financeira e tem de ficar em stand-by neste momento. Mesmo assim, pegando no lema de vai para fora cá dentro e divulgar a prata de casa, há muito trabalho que tem sido feito que não se restringe ao espaço físico da galeria, as suas paredes. Promovemos outro tipo de eventos, refiro-me as parcerias que estabelecemos com diversas entidades, como sejam clínicas, com simpósios e algumas bibliotecas escolares, em que levámos uma pequena colectiva de artistas seleccionados, porque achámos que apesar do espaço de venda habitual ser dentro da galeria, como montra exterior devemos ir ao encontro das pessoas precisamente com arte e com as propostas plásticas dos artistas residentes.

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