Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

Os suculentos

Escrito por 


Rodrigo Vairinhos é um designer português, sediado na Alemanha, que constantemente cria produtos únicos de vanguarda, que apresentam uma elegância pós-moderna e divertida, sem esquecer a sua funcionalidade.

Porquê escolhestes o design?
Rodrigo Vairinhos: A decisão de enveredar pelo design não foi uma coisa que ponderei muito cedo, foi algo de que me apercebi durante a escola secundária, a partir do 10.ano...desde cedo que me sentia bem no campo criativo das artes e nos trabalhos que puxavam mais para o campo das técnicas manuais, mas para alguém muito jovem na altura, depois da escola secundária, e antes de entrar para a universidade, para mim, o conceito de "design" era uma coisa muito complexa e indefinida, que depois mais tarde, durante a Universidade, se foi consolidando, a partir dos meus 19 anos. De qualquer forma, a minha decisão não podia ter sido mais acertada, pois estive quase a pender entre o curso de arquitectura. Contudo, não quero dizer que tenha escolhido design por acaso, mas na altura sabia que seria a decisão certa, pois nesta área estava implícita a parte artística que tanto gostava, e por outro lado, a parte comercial, que a princípio me iria sustentar.

Qual foi a primeira peça que desenhastes e o que representou para ti?
RV: A primeira peca que desenhei, para a minha marca, foi uma cadeira. Chama-se "V.CHAIR" e representa o início da minha carreira como profissional independente. Na altura, o design da cadeira foi bastante apreciado, era uma peca de aparência muito interessante, geométrica, inspirada nas estruturas das pontes de ferro, depois associada a cores bastante fortes. Estivesse onde estivesse, a cadeira era sempre o centro das atenções. Foi uma peca muito importante que me abriu as primeiras portas e me projectou para o mundo do design. Muito mais de que um simples objeto, depois da criação da cadeira surgiram convites para exposições e feiras. Emergiram também, os primeiros contactos com o público e negócios. O reconhecimento internacional seguiu-se com os contactos da imprensa de todo o mundo e as primeiras publicações a mostrarem o meu trabalho.

As ideias para os teus produtos surgem a partir dos materiais ou de uma necessidade básica?
RV: As ideias para os meus produtos surgem, entre outras circunstâncias, a partir de uma necessidade associada a uma forma e a um material. Uma necessidade materializada numa forma em que diferentes "componentes" se conjugam. O meu trabalho desenvolve-se muitas vezes também a partir de uma forma, que depois de explorada, se solidifica e enquadra numa necessidade. O meu processo criativo é muito diversificado e a forma como me inspiro é muito diferenciada e não metódica.


O que constitui um desafio em termos de design ou não?
RV: Qualquer projeto seja ele "simples" ou não, encaro-o sempre como tal. Tudo o que desenho representa um desafio. É quando falo em apresentar no mercado um produto que pretende ser melhor que o da concorrência, quando dou de mim 200%, quando me entrego na totalidade a reflectir acerca de um novo design. "Ser melhor" é o meu desafio. É isso que me move enquanto criativo/criador. É ir para além do mainstream, é desafiar as convenções e o tradicional. Desafio para mim também é o desconhecido, é não saber no final qual o resultado que vou obter, o inesperado. E aquilo que para mim não representa um desafio é monótono e simplesmente abandono a ideia, ou nem sequer me interesso.

Como te diferencias em termos de outros designers que existem num mercado tão competitivo como o teu?
RV: Enquanto designer tento que os meus produtos sejam genuínos e que transmitam os valores de funcionalidade e de estética que defendo. Tento ser original á minha maneira, faço bastante pesquisa para que isso aconteça, o que é importante, porque o que me distingue da concorrência é o resultado do meu trabalho, o que me distancia do resto, são os meus produtos. De qualquer forma, a "originalidade" a que me associo, não tem que ser complicada, nem fazer uso de materiais high-tech, a inovação está em pegar em formas que a princípio nos são familiares e transforma-las em algo novo e inesperado. Eu oriento-me segundo a minha filosofia de simplicidade, gosto da geometria básica que me possibilita criar objectos que se enquadram bem em qualquer ambiente de forma neutra, sem provocar grandes contrastes com os espaços onde as pessoas pretendam inserir os meus produtos. Gosto de materiais "tradicionais" como a madeira, a cerâmica, a cortiça e o vidro, materiais com que as pessoas se sintam bem ao usar e que saibam como as manusear e as manter. Não sei se respondi à questão do que me distingue dos outros designers, mas esta é realmente a minha filosofia criativa e comercial.

Há alguma peça que seja mais impossível de inovar? Ou pelo menos mais seja mais difícil?
RV: Uma peca difícil de inovar? Não. Hoje em dia penso que os milhões de designers espalhados por todo o mundo inovam diariamente nalguma peça que usámos no nosso quotidiano. Qualquer peca que possa imaginar tem potencial para inovar! O que é preciso é ter a ideia de pegar nessa peça, seja ela qual for, reflectir acerca do seu potencial e dar-lhe uma roupagem mais actual. Inovação é algo que está sempre implícito á medida que a humanidade evolui.

Existem diferenças entre os mercados alemães e portugueses?
RV: A diferente que existe entre estes dois mercados é que na Alemanha o país tem uma cultura industrial muito grande e a importância do papel do designer é desde décadas reconhecida. Aqui é muito fácil trabalhar com os industriais e as empresas estão constantemente abertas a investir em coisas novas e a colaborar com designers. Existem também muitos eventos de design de renome internacional, sente-se que a produção é bastante fomentada. A localização geográfica possibilita também a deslocação de designers e de gente interessada nesta matéria, por isso penso que na Alemanha as condições para vencer neste campo são bastante favoráveis, o mercado também é muito maior que o mercado Português e cria mais oportunidades de negócio. O público Alemão é diferente do Português. Estamos a falar de mentalidades, culturas e de hábitos diferentes, e o clima é também muito diferente. Na Alemanha o frio faz com que as pessoas passem mais tempo dentro de quatro paredes, as pessoas investem mais no conforto dos espaços interiores, da mesma forma que os países escandinavos, em que o design é superdesenvolvido. Em Portugal o clima quente e ameno faz com que as pessoas estejam mais tempo fora de casa, e que não haja um cuidado tão acentuado em decorar ou em investir em design de qualidade para interiores. Mas atenção, não estou a generalizar.

Que tipo de pessoas gosta mais do teu trabalho?
RV: No meu caso, penso não ter um estereótipo de pessoa que gosta dos meus produtos..., porque tudo é simplesmente uma questão de gosto, mas gosto de ver como todo o "tipo" de pessoas aprecia o meu trabalho, cada um à sua maneira. Desde os mais aos menos jovens. É exactamente isso que aprecio. Gosto de ver como toda a gente, para além de fronteiras culturais, sociais ou de geração, sente as minhas criações e percebem a mensagem que tento comunicar.

Como encaras a tua profissão em termos de futuro?
RV: Penso que em termos de futuro, não tenho de me preocupar com a minha profissão, futuramente o mundo do design vai continuar a desenvolver-se. A minha teoria é que a produção vai continuar a existir sempre que haja indústria. Pessoalmente, para o meu negócio, espero continuar a impressionar e a inspirar os meus clientes. Desde que mantenha o meu espírito criativo, o meu capital, penso ter o futuro assegurado.

 

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos