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Os transcendentes

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Teogonia marca o arranque de um projecto artístico com origem num poema mitológico escrito por Hesíodo no século VIII antes de Cristo. É uma obra com 1022 versos que descreve a origem dos deuses, assim como do seu envolvimento com os homens e os heróis que foi transposta para a tela por dois artistas Nair Morna e Roberto Macedo Alves. Duas visões pessoais que derivaram em 11 reinterpretações de fotografias de pessoas “comuns” sob a forma de divindades gregas. Uma exposição a não perder na Casa das Mudas.

Teogonia/1 porque a escolha deste tema?

Roberto Macedo Alves: Tem a ver com a busca da transcendência. Foi uma questão que abordei com a minha colega de exposição a Nair. Achámos que neste mundo tecnológico tínhamos perdido um pouco a magia do transcendente, tudo tinha uma explicação científica que acaba por tirar um pouco do encanto destas coisas. Abordámos a importância dos mitos, das tradições antigas e essa conversa acabou por derivar para outra que foi a importância do retrato e assim surgiu a experiência de desenhar onze pessoas normais como se fossem deuses gregos ou criaturas estranhas e retratar de alguma forma a transcendência que há em cada um de nós.

Sim, mas também há um mundo paralelo. Alguns dos retratos reflectem o teu universo pessoal, profissional e até o teu gosto, muitos dos quadros são das pessoas que te estão mais próximas.

RMA: É uma interpretação desse mundo grego. No fundo temos dois tipos de trabalhos, os meus e os da Nair. Os trabalhos delas são mais rigorosos, muito mais académicos e formais. O meu é o mundo dos gregos, pelo filtro do artista, como eu os vejo. O artista sempre deixa algo de si na sua obra, daí a utilização de alguns elementos pessoais para realçar os retratados, esse aspecto do divino e a tal nobreza de caracter que vejo em muitos deles. Neste caso foram parentes e amigos, porque foram os que alinharam na brincadeira, haveria pessoas que poderiam levar a mal serem retratadas como deuses.

Esta dualidade entre o teu trabalho e da Nair foi sempre o ponto de partida, ou surgiu posteriormente?

RMA: Foi sempre o ponto de partida, portanto a base foi sempre a mesma. Partimos da mesma fotografia e o mesmo deus e o que cada um de nós fazia com isso. Não comunicamos enquanto decorria esse processo criativo. Não trocámos nenhuma ideia, para não haver interferências de um lado ou de outro. À partida só veria no final os deuses gregos segundo a Nair e o mesmo comportamento se aplicou em relação a ela. Queríamos ver como a sensibilidade de cada artista filtrava a mesma base, uma fotografia e uma palavra.

Nas tuas obras desta feita usaste as colagens, porquê?

RMA: É uma forma de conseguir sobrepor várias camadas de conteúdo. Quase como os papiros antigos, em que tinhas texto escrito em cima de texto e que revelava outro conteúdo. Quis brincar com essa sobreposição de conceitos, para enriquece-los. Cada detalhe está relacionado com cada uma das obras, com o deus específico e a minha visão de cada um deles. A colagem permitiu enriquecer mais o trabalho.

 

É um projecto em aberto para continuar?

RMA: Sim, ficamos muito entusiasmados com esta ideia logo de início. Queríamos que fossemos 11 pessoas e do nosso círculo mais próximo. No entanto, o poema grego que deu origem a esta exposição faz tantas referências a tantos deuses, que considerámos engraçado seguir retratando-os sem os repetir. Ir acrescentando novos deuses e fazer por exemplo, uma exposição anual. A ideia é fazer crescer este grupo e acrescentar mais pessoas a este conceito.

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