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Uma lufada de ar fresco

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Uma selecção de dez propostas dos artistas que integram o colectivo mad space invaders acorreu ao repto de realizar um obra artística contemporânea, tendo como base o "vinho". A temática explora as suas vinculações conceituais e literárias, a sua involvência, a vida, as circunstâncias intrínsecas, o seu acto e os seus prazeres num espaço simbólico que é do Instituto do vinho, bordado e artesanato na Madeira. Uma mostra que estará patente até o dia 17 de Fevereiro.

Como é que surgiu a parceria entre artistas e o instituto do vinho, bordado e artesanato da madeira (IVBAM)?
Fátima Spínola: Surgiu através de um contacto feito pela Nair Morna ao IVBAM. A ideia é realizar uma exposição relacionada com o vinho e fazer essa ponte num espaço que não é tão convencional em termos de mostras artísticas. Normalmente, ocorrem nestas instalações eventos relacionados com artesanato e musicais. Neste caso concreto, vamos realizar uma exposição de arte contemporânea.

De que género? O que vamos ver?
Hernando M.Urrutia: O vinho é só um apontamento para o trabalho dos artistas. Ou seja, não podemos retratar a temática tal qual, mas sim tendo em conta, o processo da embalagem, a vida, o ambiente que rodeia e o sistema que envolve o vinho. Todos os elementos inerentes à sua história e a forma de produção. São estes os fundamentos que servem para conceptualizar e manusear esta proposta artística.

Quando lançaram o repto aos artistas, eles tiveram que ter em consideração o local? Ou não?
FS: Nós fizemos uma primeira abordagem do local através de fotografia. Enviámos imagens e a planta do espaço a todos os artistas que participaram. Posteriormente, colocámos uma lista nas instalações do IVBAM para que cada um deles pudesse visitar à área designada para a exposição. Era muito importante ver o local em si e fazer um projecto a pensar neste espaço. É um edifício com uma atmosfera muito peculiar. Mesmo o cheiro, alguns orifícios que tem a ver com a produção e os barris que fazem parte da sala podiam ser utilizados. Todos estes aspectos foram referidos e pensados para que houvesse obras ligadas ao espaço.

Quantos artistas vão apresentar os seus trabalhos no “toma-te vinho”?
HMU: Seis artistas. A escolha foi feita através de uma convocatória, não obrigámos ninguém e endereçámos ainda convites a outros artistas fora do MADS. Houve contudo, uma pré-selecção que tinha em conta a justificação do conceito, ou seja, o que vai fazer na sua obra? E logo eu, que sou comissário, faço uma escolha dos que cumpriam todos os parâmetros exigidos previamente. Se não estão mais é por falta de tempo, porque se trata de um tema específico. Os artistas estão habituados a ter uma linha de trabalho, sua própria linguagem e é muito mais fácil desenvolver algo em que nos debruçámos constantemente, do que dizer estes são os conceitos e premissas que vais abordar. É mais difícil, portanto, o artista tem que pensar, conceptualizar e realizar os trabalhos. Tudo isso consome tempo e por consequência as obras são em menor número.

Quais foram as premissas que tivestes em consideração, para além do tema?
HMU: O mais importante, quando se fala em arte contemporânea é o conceito. Depois, através de um elemento simples de representação, esse aspecto está ali expresso. O artista inteligentemente através da sua obra está a fundamentar uma ideia. A arte contemporânea tem essa possibilidade, já que se trata de uma obra mais intelectual. Tem um valor estético, plástico e inclusive agride os espectadores, o público em geral. Isso depende de cada um. Por vezes o artista quer chocar visualmente as pessoas. Há muitas formas de representação na arte contemporânea e isso faz com que seja muito mais intelectual, se fomos comparar com a pintura e a escultura moderna, a sua linguagem por excelência é a instalação. Assim, em termos de conceitos acaba por ser mais amplo, porque fornece uma panóplia de possibilidades do pensamento.

Esta exposição não foge da vossa actividade dos MADs?
FS: Eu acho que não, porque não é um espaço usado para as artes plásticas. Tem uma ambiência fora do comum e acho que vai ser interessante ver aqui as obras associadas a esta temática, muitas delas ligadas à instalação que não tem tido tanta visibilidade na Madeira. Acho que vai ser interessante virem ver como resultou a exposição em si.

HMU: O facto de terem o mesmo tema faz com que cada artista planeie a sua composição, ou conceito, através do vinho. Ou resolver o seu problema estético, nesta caso da obra. Então vamos ver como partindo do mesmo recipiente comum, que neste caso é a embalagem, vão fazer a sua obra. Outros partem do processo de produção e da forma como passa de um suporte para o outro e mesmo o ambiente que rodeia o vinho. Todos são diferentes e isso é muito interessante.

Quantos trabalhos foram submetidos?
HMU: Para além dos seis seleccionados, quatro ou cinco mais, contudo alguns eram constituídos por grupos de seis artistas cada. Um dos seleccionados é um duo, uma das pessoas dedicou-se à fotografia e a outra a literatura. Fizeram vídeo-arte e é curioso ver esse resultado.

O sucesso dos mad space invaders resulta da falta de espaço para os novos artistas?
FS: No caso de alguns sítios em particular, que expõem sempre os mesmos nomes e estão fechados a jovens artistas e para todos aqueles que não se inserem bem nessas categorias, sim. Os mad space invaders abrangem pessoas de todas as idades, artistas com carreiras mais visíveis e outras menos, vários tipos de formações e até auto-didactas. Nós procurámos outro tipo de espaço de intervenção para que as obras possam ser vistas em diferentes âmbitos e para que haja uma outra abertura. Não é só uma questão de espaços, é sobretudo a forma como os expomos.

HMU: O mais interessante dos MADs é haver uma mentalidade muito aberta em relação as pessoas que constituem o colectivo artístico. Aceitámos todo o tipo de pessoas que sentem uma grande necessidade de expor, que provém de outros cursos, que vêm com essa vontade de expressar-se e que não teria sido possível em outros âmbitos. Eu penso que todos os seres humanos têm um lado artístico dentro de si, só que uns exploram mais essa vertente mais do que outros. É uma oportunidade para os mais jovens poderem entrar nos museus, nas mostras artísticas e em bienais, que são meios complicados, porque precisas de ter um percurso. É como um ensinamento para os que nunca participaram neste tipo de eventos. O facto de conceptualizarem uma obra, como apresenta-la perante um público, tudo isto são conceitos que são aprofundados ao exporem as suas obras. Ajuda-os a compreender o que é arte contemporânea, a sua significância e simbolismo. Não é só pintar uns riscos e ter uma certa beleza estética, embora faça parte, os cânones artísticos vão mudando consoante as gerações. Às vezes oiço as pessoas dizerem: eu não percebo nada isto! É acima de tudo uma mudança na atitude mental e de consciência. Daí a importância deste tipo de mostras artísticas junto do público geral.

No entanto, existem artistas contemporâneos que defendem a ideia de que é o espectador que deve interpretar. Esta no olhar de quem vê.
HMU: Eu, por exemplo, não coloco títulos nas minhas obras, o meu trabalho como artista assenta no simbolismo, porque estou a conceptualizar essa obra, escrevo para mim próprio e potencialmente para um eventual júri, porque senão eles pensam que não sei o que ando a fazer. Por isso é que defendo essa ideia na arte contemporânea, porque depende da interpretação de cada um. É uma forma de ampliar os horizontes dos artistas que incorrem nas artes plásticas e no olhar de aqueles que as vêem. É uma semente. A partir de esta exposição as pessoas vão ter uma maior oportunidade de participação, porque é um grupo novo com muitos jovens artistas em processo de aprendizagem e é normal que receiem uma obra contemporânea, porque não sabem como actuar, ou a resposta que tem de dar ao paradigma. É um processo que os vai impulsionar no seio da comunidade artística.
FS: Só o questionar mesmo que não traga uma conclusão é a função da própria obra. O gostar e não gostar, o bonito e o feio, hoje em dia não é a verdadeira resposta da arte.

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