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As memórias não se apagam

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Um documentário de José Vieira Mendes que evoca 40 Anos da Revolução dos Cravos e 50 Anos do Golpe de 64 no Brasil.

O que levou a fazer este filme?
José Vieira Mendes: Foi uma espécie de 'encomenda' do FESTin-Festival Itinerante da Língua Portuguesa, que nasceu de uma ideia que partiu de mim de evocar neste festival a Democracia e a Ditadura, num ano de comemorações em Portugal e no Brasil.
Porquê quiseste estabelecer o paralelo entre o os 40 anos da revolução em Portugal e os 50 anos do golpe no Brasil?
JVM: Estamos em 2014 numa altura em que muitas liberdades e garantias dos cidadãos em Portugal e no Brasil (e em todo o mundo também, como vemos todos os dias nos telejornais) estão sendo ameaçadas pelo poder político e pelo capitalismo financeiro sem rosto, que não cria riqueza, mas desigualdades e instabilidade nas nossas vidas. É preciso lembrar a todos e principalmente aos jovens que me parecem um pouco acomodados, que em Portugal e no Brasil, muitas pessoas, foram presas, torturadas e lutaram pelo estabelecimento da democracia, contra a repressão e a ditadura. Isto precisamente em dois países ligados pela língua e a cultura. E depois porque o exemplo da Revolução dos Cravos influenciou muito as primeiras aberturas e a transição para a democracia no Brasil.


Porquê entrevistar um padre, o Alípio Freitas, qual é a sua importância em termos da revolução de Abril?
JVM: O Alípio já não é padre há muito tempo. É uma figura quase mítica e um símbolo da resistência e da luta armada no Brasil, que faz muito bem a ponte com o 25 de Abril, já que o Zeca Afonso, lhe dedicou uma canção chamada precisamente 'Alipio de Freitas', incluído no álbum 'As Minhas Tamanquinhas'. É uma canção no fundo dedicada a todos os presos politicos e resistentes às ditaduras e repressão. Apesar de estar preso no Brasil, o Alípio acompanhou com grande emoção, clandestinamente, às escondidas dos carcereiros e através de um pequeno rádio a pilhas a Revolução dos Cravos em Portugal. Assistiu no fundo como muitos portugueses do interior do País e da Madeira também (as movimentações deram-se basicamente em Lisboa) à revolução através na altura do media mais democrático e com maior poder de penetração.


Durante a rodagem do teu filme o que foi mais difícil e desafiante no decorrer do processo?
JVM: O filme é basicamente uma longa entrevista com o Alipio de Freitas (1h30), reduzida a um filme de 32', combinando com imagens da Revolução dos Cravos e do Golpe de 64. Desafiante foi a apropriação e selecção dessas imagens. Fiz como o Jean-Luc Godard 'apropriei-me' dessas imagens disponíveis no Youtube e remonteias-as e trabalhei-as, graças ao precioso trabalho do Eduardo Amaro (o editor).


Que ilações retiras no final do documentário?
JVM: Esperava mais impacto nos media até pela figura do Alipio de Freitas, que entretanto está bastante doente e infelizmente não pode assistir à estreia do filme.


O que significa agora o 25 de abril para ti 40 anos depois?
JVM: Tinha 14 anos quando se deu o 25 de Abril. Vivi intensamente essa evolução na minha juventude, sabendo que felizmente não ia à guerra e seria a grande oportunidade de nos tornar-mos uma democracia e um país mais aberto ao mundo. Para mim o 25 de Abril é agora um misto de utopia e desilusão! Numa altura em que vivemos um verdadeiro retrocesso civilizacional, em que se está a perder o mínimo que é o direito ao trabalho e em que se teima em apagar a memória, os valores do 25 de Abril. Estou um pouco desiludido com esta sociedade! À minha maneira vou continuar a lutar (mesmo que seja a escrever ou a fazer filmes), por aquilo que acredito, lutar contra a ganância, por uma sociedade mais justa e de bem estar para todos. Não quero acabar com os ricos, quero acabar com os pobres e como o Alípio de Freitas e o Zeca Afonso, acreditar na 'capital da alegria'.

https://www.youtube.com/watch?v=6HtXsHdqN-c

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