Este filme já passou por vários festivais, qual é o feedback das pessoas?
ME: Acho que ninguém fica indiferente a história do Lucian. A simplicidade dele, ao mesmo tempo que é uma pessoa humilde é também um jovem com grande determinação, esse é o lado bonito e acho que passa para qualquer pessoa que vê o filme. Guardo sempre em mim, a resposta que dá no final da entrevista, quando pergunto: queres ser profissional de surf? E ele responde: quero, mas quero aprender primeiro. Isso resume o que o é o Lucian, aquele rapaz loirinho com uma cara engraçada e rechonchudinho, as pessoas ficam agarradas a isso, mas é a sua personalidade que passa e que esta ali. O filme tem um ano e meio e já foi a imensos festivais, ele veio á Madeira, já foi entrevistado por várias televisões portuguesas, mas mantém-se igual, despacha as coisas que tem para fazer, mas o que ele quer é surfar e vai. Acho que ninguém consegue ficar indiferente ao Lucien. Primeiro é isto, ficarem apaixonados pelo Lucien e depois é: ele não se vai embora, pois não? Fica em Portugal?
MB: Só quero acrescentar que tivemos algumas surpresas pelo caminho, quando ganhámos o festival em Singapura que é um público completamente diferente do que estamos habituados e quando fomos à Moldávia, a maneira como fomos recebidos no seu país natal, no festival documental. A maneira como abordámos a história para eles foi estranho, porque não estão habituados a este tipo de registo. Não me lembro bem a pergunta que me foi feita.
VC: O que eles punham em questão era: porque vocês não foram para o lado mais socioeconómico da história? Os pais são emigrantes e sofrem os problemas inerentes à emigração e de integração. Nós, perante uma sala cheia de pessoas ávidas de receber mais informação e conhecimento, ou seja, um país de leste que se abre agora para o ocidente o Miguel disse que: a nós não nos interessa tanto esse lado económico e social, queríamos a história da criança, sempre de um ponto de vista mais positivo, sem ter que frisar as dificuldades económicas, ou esse tipo de interpretações. A sala comoveu-se e aplaudiu de pé. É uma resposta tão simples como esta.
As pessoas querem as histórias.
MB: E o facto de ser uma história positiva.
VC: Essa se calhar foi a primeira abordagem que tivemos nesse sentido. O público moldavo até nos pediu para continuar a contar a história, o que foi uma coisa engraçada, de nós perguntarem se não queríamos ir à casa dos avós dele, disponibilizavam o equipamento de filmagem, carro, a alimentação, o que fosse preciso para continuar a contar essa história.
Depois de todas estas experiências, estes testemunhos, quero que me digam o que este filme vós trouxe pessoalmente?
MB: Para mim é o começo daquilo que queremos fazer os três juntos. É uma lição de humildade também para nós, aquelas palavras que à Maria frisou do Lucian: quero aprender primeiro, é também aquilo que estamos a fazer, estamos a aprender, a construir um projecto que queremos sustentar, fazer mais e não vamos desistir garantidamente.
ME: Seguindo a lógica do Miguel e tentando não repetir, eu acho que não há desculpas para não se fazerem as coisas, conseguem-se fazer.
VC: Para já tenho que fazer um agradecimento público à Maria e ao Vasco por este projecto, primeiro que tudo. Depois é de terem tido a capacidade de transmitir que é possível fazer isto. Se calhar dos três eu era o menos crente de todos, fosse um projecto viável ou não, que conseguíssemos fazer um documentário que pelo menos entrasse num festival. A intenção inicial era participar no festival de cinema de Ericeira e o filme foi muito mais longe do que isso, nesse ganhámos e entrámos em outros. Temos um crédito imenso e acho que o Miguel e a Maria fizeram-me acreditar que é possível ser melhor.