Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Doze

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É um filme sobre Lucian Prodan, um jovem moldavo, que descobre o mar, a amizade e o surf em Portugal. Uma história positiva sobre a aprendizagem, o crescimento interior de um rapaz estrangeiro por terras lusas. Um documentário de Maria Eça, Miguel Bretiano e Vasco Crespo que já ganhou prémios e menções honrosas ao nível nacional.

Como é que começou a ideia do filme sobre o Lucian?
Maria Eça: Nós já tínhamos em mente fazer um filme na área do documentário, porque trabalhámos os três em televisão. Na mesma altura em que estávamos a conversar sobre isto, decidimos que não pretendíamos um projecto muito grande, seria o primeiro, surgiu então a história do Lucian. O Miguel é um assíduo frequentador da praia de São Pedro e conhecia o João que era o instrutor da escola de surf. Contaram-lhe a história do miúdo que andava por ali na praia e que queria fazer surf, que não falava muito bem português, que a praia estava a adopta-lo e ajuda-lo a praticar surf. Achámos piada a um miúdo assim, que pelos vistos teria um feitio engraçado que puxava pelas pessoas e foram eles que começaram a fazer a história. Antes, conhecemos à mãe dele, pedimos-lhe autorização para fazer o filme e para o filmar, porque ele é menor e ficámos logo agarrados a ela, porque no filme também se percebe que a senhora é muito extrovertida e simpática. Começámos a perceber para além desta história pequenina, havia outra ainda maior que era a integração do Lucian na comunidade portuguesa, através do surf. O aprender a falar português, o nadar e o surfar em apenas 3 meses.


Sei que lutaram com a falta de meios financeiros. Mesmo assim tiveram algumas ajudas para fazer este documentário. Mas, quais foram os desafios que enfrentaram nas filmagens?
Miguel Bretiano: Para além da escassez de meios financeiros, o outro desafio é tentar coordenar-nos, nós temos o nosso trabalho diário e tínhamos de conjugar os nossos horários para trabalhar a seguir neste projecto. Foi um filme que necessitou de 4 meses de gravação, de resto não foi muito difícil, a forma como fomos recebidos no "Surf in Portugal", como na família do Lucian foi tudo tão espontâneo da parte deles, o que tornou o nosso trabalho muito fácil. Se calhar é um dos segredos deste filme, a espontaneidade, o prazer de o fazer e como fomos recebidos por toda a gente.
Vasco Crespo: É o fugirmos do nosso meio de trabalho, daquele ambiente de informação que fazemos, de sair desse registo diário quase noticiário para uma situação de documentário. O maior desafio era pessoal, no sentido em que, que íamos contar uma história num registo mais documental e essa foi a nossa maior dificuldade, descolar-nos desta lógica de pensamento televisivo e passar para um meio mais cinematográfico.

ME: Por exemplo, este filme não tem narração, ele conta-se sozinho.

Há indícios para um segundo filme.
MB: Não é bem um segundo filme, este é um projecto que não acaba nestes doze anos do Lucian. Isto aqui é só o princípio. Para nós certamente se vamos conseguir ou não, depende do tempo. Vamos continuar a acompanha-lo, não sabemos o que vai acontecer, ele pode-se ir embora e aí a ligação vai ficar mais difícil, mas vamos tentar acompanha-lo. Se haverá ou não a um outro filme só o tempo o dirá.


Este filme já passou por vários festivais, qual é o feedback das pessoas?
ME: Acho que ninguém fica indiferente a história do Lucian. A simplicidade dele, ao mesmo tempo que é uma pessoa humilde é também um jovem com grande determinação, esse é o lado bonito e acho que passa para qualquer pessoa que vê o filme. Guardo sempre em mim, a resposta que dá no final da entrevista, quando pergunto: queres ser profissional de surf? E ele responde: quero, mas quero aprender primeiro. Isso resume o que o é o Lucian, aquele rapaz loirinho com uma cara engraçada e rechonchudinho, as pessoas ficam agarradas a isso, mas é a sua personalidade que passa e que esta ali. O filme tem um ano e meio e já foi a imensos festivais, ele veio á Madeira, já foi entrevistado por várias televisões portuguesas, mas mantém-se igual, despacha as coisas que tem para fazer, mas o que ele quer é surfar e vai. Acho que ninguém consegue ficar indiferente ao Lucien. Primeiro é isto, ficarem apaixonados pelo Lucien e depois é: ele não se vai embora, pois não? Fica em Portugal?

MB: Só quero acrescentar que tivemos algumas surpresas pelo caminho, quando ganhámos o festival em Singapura que é um público completamente diferente do que estamos habituados e quando fomos à Moldávia, a maneira como fomos recebidos no seu país natal, no festival documental. A maneira como abordámos a história para eles foi estranho, porque não estão habituados a este tipo de registo. Não me lembro bem a pergunta que me foi feita.

VC: O que eles punham em questão era: porque vocês não foram para o lado mais socioeconómico da história? Os pais são emigrantes e sofrem os problemas inerentes à emigração e de integração. Nós, perante uma sala cheia de pessoas ávidas de receber mais informação e conhecimento, ou seja, um país de leste que se abre agora para o ocidente o Miguel disse que: a nós não nos interessa tanto esse lado económico e social, queríamos a história da criança, sempre de um ponto de vista mais positivo, sem ter que frisar as dificuldades económicas, ou esse tipo de interpretações. A sala comoveu-se e aplaudiu de pé. É uma resposta tão simples como esta.

As pessoas querem as histórias.
MB: E o facto de ser uma história positiva.

VC: Essa se calhar foi a primeira abordagem que tivemos nesse sentido. O público moldavo até nos pediu para continuar a contar a história, o que foi uma coisa engraçada, de nós perguntarem se não queríamos ir à casa dos avós dele, disponibilizavam o equipamento de filmagem, carro, a alimentação, o que fosse preciso para continuar a contar essa história.


Depois de todas estas experiências, estes testemunhos, quero que me digam o que este filme vós trouxe pessoalmente?
MB: Para mim é o começo daquilo que queremos fazer os três juntos. É uma lição de humildade também para nós, aquelas palavras que à Maria frisou do Lucian: quero aprender primeiro, é também aquilo que estamos a fazer, estamos a aprender, a construir um projecto que queremos sustentar, fazer mais e não vamos desistir garantidamente.

ME: Seguindo a lógica do Miguel e tentando não repetir, eu acho que não há desculpas para não se fazerem as coisas, conseguem-se fazer.

VC: Para já tenho que fazer um agradecimento público à Maria e ao Vasco por este projecto, primeiro que tudo. Depois é de terem tido a capacidade de transmitir que é possível fazer isto. Se calhar dos três eu era o menos crente de todos, fosse um projecto viável ou não, que conseguíssemos fazer um documentário que pelo menos entrasse num festival. A intenção inicial era participar no festival de cinema de Ericeira e o filme foi muito mais longe do que isso, nesse ganhámos e entrámos em outros. Temos um crédito imenso e acho que o Miguel e a Maria fizeram-me acreditar que é possível ser melhor.

 

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