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Lápis de cor

Escrito por 

Ailton Pinheiro é produtor do filme, dirigido pela estudante de Cinema e Audiovisual da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), Larissa Santos, natural de Salvador e integrante do movimento de cinema negro Tela Preta. O documentário aborda a representação racial no universo infantil e a maneira como o padrão de beleza eurocêntrico afeta a auto-imagem e auto-estima de crianças negras, revelando a ação silenciosa do racismo na infância.

Fala-me um pouco sobre este filme e como as crianças olham para a sua cor de pele?
Ailton Pinheiro: "Lápis de cor" é um filme diferente dos que falam de racismo, ali é as crianças dizendo como elas se vêem e existe um processo, falando de algo bem brasileiro, que é o embranquecimento das pessoas. Nós podemos ser multiculturais mantendo à nossa identidade e a identidade das pessoas negras que é negra. A gente não pode negar o que é. Isso não significa que acreditemos que temos de trocar de lugar, nós queremos caminhar juntos, mas para isso é preciso uma igualdade de direitos e de oportunidades. O filme trata um pouco sobre isso, como o processo racial no Brasil é perverso ao ponto de uma criança não se ver em algo tão simples como um lápis de cor. Não existe um lápis que simbolize a cor negra, o bege é cor de pele, nunca pode ser a minha cor, ou dessas crianças. Aí elas crescem sem referencial, a sua referência é eurocêntrica. Não tenho nada contra, mas temos de saber quais são os nossos referenciais, porque isso diz muito do que somos, então eu sou uma pessoa negra, com uma herança africana, de alguma forma portuguesa, mas nunca vou ser visto como português. Vou sequer visto como africano, então é um filme trata um pouco sobre esse tema que é o racismo na infância, que não acho que seja peculiar do Brasil. Chegando a Portugal, esta é a primeira vez no vosso país, eu deparei-me com situações naturais, eu sou um negro rasta, é natural que no aeroporto seja parado, porque não sou português e isso esta internalizado nas pessoas. O papel da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) é desconstruir isso, porque é sobre culturalidade, diversidade e caminhar com respeito, com momentos de encontro e fortalecimento de multiculturalidade sem peder a identidade. O filme fala sobre esse padrão que nos querem impôr.

Como escolheram as crianças que aparecem no filme? O que tinha aquele grupo escolar em particular para o terem escolhido?
AP: Aquelas crianças são da família da realizadora do filme, são as irmãs, os primos, são pessoas muito próximas. É um filme que nasce na cabeça dela, com esses questionamentos que ela tem dentro da própria família. Se formos falar das mudanças e no processo do racismo, ele esta dentro da sua casa, aquilo é o que ela vivência quotidianamente, a irmã chegando na escola e sendo chamada de macaca. Aí ela abriu a vida, o íntimo dela, para trazer um retrato das crianças brasileiras, do Brasil todo, elas tem esses pensamento, porque são educadas pela televisão, pelos meios de comunicação a serem o que são, a serem sempre um outro.

Qual é a reflexão aqui, tem-se que mudar a escola?
AP: Nós acreditámos que a educação e a cultura tem um papel fundamental. Nós fazemos arte e o nosso papel fundamental é descontruir os pensamento racistas e de preconceito na sociedade mundial. É necessário que as pessoas enxerguem que a mudança vem da educação e da cultura, mas existe algo central, que para nós é importante, que é o racismo. É algo secular, que não se pode negar todas as atrocidades feitas contra o povo negro e africano. Então a gente precisa voltar para a história e a partir dessa reflexão, dar passos que possa incluir todos de uma forma real e igualitária, que possa caminhar nessa multiculturalidade, então tem essa pluralidade de seguimento de pessoas, que tenha negros, brancos, portugueses, brasileiros, cabo-verdianos e africanos. Para a gente é importante que a cultura seja pensada a partir desse referencial. Aí sim, estamos promovendo essa diversidade, enxergando nessa multiculturalidade essas diferenças e as identidades.

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