Como é que fizestes o casting para a actriz principal?
FMS: Fizemos dois castings um em Castelo Branco onde vivo e outro na Covilhã. Foram em escolas com alunas da idade da personagem, logo na primeira apareceu a Joana, e não sei bem explicar, mas ela fez muito bem o casting. Ficámos surpreendidos. Ela faz parte de um grupo amador de teatro, por isso, já tinha alguma experiência em termos de representação. Na Covilhã, por exemplo, as raparigas que aparecerem não tinham qualquer experiência em termos de teatro amador. A joana como disse, surpreende-nos logo, para já, porque fisicamente era o que queríamos e depois ela conseguiu captar a personagem, depois teve uns ensaios para entrar nos seus caminhos mais violentos, mas sempre conseguiu tudo de uma maneira muito natural e evoluiu bem sem muitos problemas.
Surpreendeu-te o sucesso de “últimos dias” ao ser selecionado para vários festivais e ter colhido alguns prémios ao longo desse percurso?
FMS: Surpreender não me surpreendeu. Eu enviei os filmes para os festivais com a esperança que fossem selecionados, mas também enviei para muitos outros onde não foi selecionado. Deixou-me muito feliz que tivesse passado de norte a sul do país e até nos Açores. Mais surpreendido fiquei com a reação das pessoas quando coloquei o filme na internet, tenho tido um feedback bastante positivo de estrangeiros.
Mas nem sequer tinha legendas.
FMS: Pelo facto de ter recebido comentários de alguns brasileiros e não pensei que uma história bastante fria lhes fosse apelativa.
Ficaste admirado, porque por norma não perceberem o nosso português?
FMS: Sim isso também, porque o português era diferente.
Fala-me do “Cool” e como surge neste teu curto trajecto como cineasta.
FMS: O “cool” surgiu de um suceder de acasos felizes. Na altura tinha acabado o curso, não tinha trabalho, nem nenhum projecto para desenvolver e dois amigos que eram finalistas de outra escola também em Castelo Branco pediram-me ajuda para desenvolver um conceito. Andámos a ver histórias, tivemos várias reuniões para desenvolver ideias para um filme sem muitos meios, nem actores, porque se na Covilhã tinha sido difícil e havia algum apoio, em Castelo Branco não tínhamos apoio nenhum. Descobrimos então um livro de contos de um autor local, que era muito cinematográfico, sobre heróis de acção e foi uma questão de falar com o escritor para obter a autorização, depois foi criar um guião e ao princípio eu que só os queria ajudar, vi-me envolvido num projecto que não era meu, que escrevi, realizei e produzi que era o “cool”.
Tanto em “cool” como em “últimos dias” há actores consagrados do panorama português, como é que consegues que eles embarquem nestas tuas aventuras?
FMS: A maior parte deles estão muito dispostos a ajudar quem esta a começar. O mais difícil talvez é o obter os contactos, mas eu tive esse trabalho facilitado, porque os consegui através dos meus professores da UBI. Depois de contactados os actores, desde que não tenham nenhum trabalho em mão, são muito acessíveis, mesmo quando não recebem qualquer tipo de cachet. Às vezes é uma questão de procurar e falar com as pessoas, explicar de que se trata o projecto e suas condicionantes. A maior parte acaba por aceitar.
Acabado de sair da universidade como vês o panorama nacional para jovens cineastas como tu?
FMS: É difícil, é preciso arriscar com pouco material e tentar mostrar esses trabalhos em alguns festivais. Para obter um financiamento é preciso estar ligado a uma produtora. Depois de chegar até lá com um guião é preciso convence-los para apresenta-lo como um filme deles e isso é algo para o que não nos preparam, (falo por mim), na universidade. É um mundo muito fechado, nem sequer fazem castings para técnicos. O que resta é fazer trabalhos independentes e aparecer em festivais. É sempre bom ir criando o nosso nome, mas é difícil faze-lo profissionalmente.
E haver uma instituição ligada ao cinema, o instituto de cinema e audiovisual (ICA) ajuda ou no teu caso é completamente indiferente?
FMS: É-me completamente indiferente, porque para conseguir obter dessa instituição algum apoio é preciso ter alguma experiência ao nível profissional, ora se não me ajudam obtê-la acaba por ser indiferente. No geral em termos de cinema acho que também o dinheiro que tem disponível para apoiar é muito pouco, pouco mais de cinco longa-metragens nacionais, acho que é preciso fazer algo mais.
A única saída para jovens como tu é fazer curtas-metragens.
FMS: Sim pequenas curtas, pequenas participações que ajudam a criarmos um curriculum, um portfólio. Actualmente, há uma nova produtora na Covilhã que esta a tentar obter apoios do ICA, estou a escrever um guião que pretendo submeter para ver se consigo alguma coisa. Mas, sim acho que passa por aí, por não estarmos parados e fazer trabalhos por mais pequenos que sejam, porque aprendemos e ao mesmo tempo mostrámos qualquer coisa nossa.