Como te preparas?
DP: Depende. Primeiro há um estudo sobre os animais e os sítios, normalmente faço um reconhecimento nessas zonas e passo lá muito tempo. Em cada um destes projectos despendo um ano, passando pelas várias estações do ano, para tentar obter o maior número de animais, poder gravar o seu comportamento durante essas etapas, a sua evolução e tornar a história mais rica. Mas, é um trabalho um pouco solitário, tenho que passar muitas horas a observar animais e os fenómenos naturais para poder obter essas imagens.
Acampas nestes locais com frequência?
DP: Também, mas por norma tenho a logística por perto, por exemplo, para fazer as filmagens nocturnas tenho que estar nesses locais.
Em termos técnicos necessitas de câmaras especiais para fazer as imagens?
DP: Não, neste momento as câmaras de vídeo e fotográficas fazem qualquer plano desse filme, excepto “slow motion” que necessita de uma máquina específica. A tecnologia evoluiu muito e câmaras até amadoras conseguem fazer um bom trabalho.
Então onde encontras os maiores desafios nestes filmes?
DP: Há bastantes desafios. Para filmar o mundo natural estámos sempre dependentes da natureza, os meus actores dígamos nem sempre aparecem. (risos) Tenho que estudar tudo muito bem para conseguir filmá-los. Existe uma taxa de insucesso muito grande, aliás, quando elaborámos o guião fazemos um resumo das espécies que queremos filmar e depois no terreno vemos como é tudo possível. Mas, consegue-se uma taxa razoável de sucesso filmar o mundo selvagem, mas com muito trabalho no terreno. Para os animais mais difíceis de encontrar, esse é o principal obstáculo, tenho sempre a ajuda de biólogos e de pessoas especialistas para cada uma das espécies.
Porquê escolheste esta área da natureza?
DP: Eu tenho uma formação em audiovisuais, em rádio e estive na Fundação Calouste de Gulbenkian, mas sempre gostei da natureza. Vi que chegou a altura certa nesta área para apostar na natureza, achei que podia juntar as duas coisas que gosto mais de fazer, podia estar a filmar e gravar som e aplicar tudo isso no mundo natural, em filmes mais convencionais. Faço o que gosto, foi juntar o útil ao agradável.
E notas que há um mercado ao nível nacional, ou tem de ser apenas internacional para este tipo de documentários sobre a natureza?
DP: O mercado internacional há décadas que existe em muitos países com grandes audiências em qualquer canal generalista e por cabo em canais mais específicos. Em Portugal esta a ser criado o mercado, existem várias pessoas a trabalhar nesta área nos últimos anos, é uma indústria que antes não existia no nosso país de forma genérica. Eu penso que o público se começa a aperceber que existem produções feitas em Portugal, porque cria-se a procura, ao mesmo tempo valorizámos o nosso património natural que no geral é desconhecido do grande público.
E fala-me do feedback que recebeste desse filme. Eu vi imagens que desconhecia sobre o território natural em Portugal.
DP: Sim, é precisamente isso. Eu trabalho com pessoas da área da biologia e da natureza que tem esse conhecimento profundo, gostam na mesma de ver esse tipo de imagens, mas não se admiram tanto. É fascinante ver as reacções do público em geral, porque dizem-me que não faziam a ideia de termos estes animais todos e nestas paisagens, é uma das mais-valias destes trabalhos. Não é necessário ir para áreas remotas para encontrar espécies interessantes. É verdade que há países mais identificados com a natureza, somos um país pequenino, mas bastante diverso. É uma questão de explorar. Contudo, não queria passar a mensagem que no nosso território existe assim sem nenhum problema, não, este “Portugal selvagem” existe em muitos poucos sítios, a maioria já não é muito natural, também queria passar a ideia que é necessário conservar estas zonas e se possível apoiá-las em termos de turismo da natureza. É só as pessoas quererem explorar, cada um na sua área, mas penso que é um projecto com futuro.
E neste momento qual é o projecto em que estas a trabalhar?
DP: Estou a gravar um filme promocional, com um cariz mais profissional, de história natural e convencional, sobre observação de aves, temos um grande potencial nessa área. Temos aves únicas na Europa, possuímos muitas espécies a residir no nosso país, somos até bastantes ricos em termos de espécies, nós e a Espanha que faz muito nesse sentido, mas Portugal esta mais atrasada. Temos quase o mesmo potencial que os nossos vizinhos, só precisámos de comunicá-lo da forma mais correcta. Há um público muito grande, na Grã-Bretanha e nos países nórdicos, mas também temos turistas americanos e canadianos a visitar-nos.