
É aparentemente uma sequela do filme “o estado das coisas” que realizou em Sintra.
Win Wenders é o poeta das imagens. Das cidades que é o espaço que melhor gosta de filmar e isso nota-se nesta viagem pela cidade portuguesa, Lisboa. É também uma travessia pelos sentidos, quase nem é preciso olhar, se fecharmos os olhos, ouvimos o pulsar da cidade e reconhecemos-lhe os recantos, os muros, o lado de lá das portas . É também uma ode à música, aos Madredeus que renovaram a música tradicional portuguesa e que nesta longa-metragem são também eles parte dessa mensagem de portugalidade presente em todo o filme, porque Lisboa não é apenas a capital de Portugal, é acima de tudo, a essência mais profunda do que é ser português. As imagens são um complemento desse retrato de uma urbe de fronte para um rio que parece o mar. É acima de tudo uma homenagem ao cinema, de que gostei muito. Se eu não soubesse quem era o realizador, diria logo, é português. Captou-nos tão bem a alma lusitana que se antevê nas esquinas, nas tascas, em Pessoa, nos rincões mais escondidos, que humildemente conta a sua história sem grandes alaridos e com uma aparente simplicidade, mais era impossível. É uma viagem através de um engenheiro de som, Philip Winter, protagonizado pelo excelente Rüdiger Vloger, o senhor inverno, como lhe chamam as crianças que também o guiam pela cidade. Há um momento de grande ternura, que conta com a presença do realizador António de Oliveira, que nos remete para as origens do cinema, ao mestre Chaplin. É o mais puro do cinema, o olhar intimista de um realizador. Bom cinema.




