Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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A minha língua é a minha pátria

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A Casa da língua Portuguesa (CLIP), através da "âmago associação cultural", é um espaço de convergência de várias culturas do mundo lusófono, através das diversas vertentes das artes. Um projecto encabeçado por Bernice Bernstein e Valéria Carvalho que se traduz na peça de teatro "Chico em Pessoa" e não só.

Na peça "Chico em Pessoa" existe sempre uma dualidade, Portugal e Brasil, duas culturas opostas, musicalidades diferentes, mesmo na peça ONNI, que versa sobre a descoberta do Brasil, ela é encenada a partir do ponto de vista de ambos os povos.
Valéria de Carvalho: Na verdade a âmago é uma associação cultural que criou esse projecto que é a casa da língua portuguesa, que tem como missão a proximidade das comunidades através da arte. Trabalhámos em várias vertentes, o teatro, dança, audiovisual, literatura, artes plásticas e música. Trata-se de um projecto que estamos levando, eu e a Bernice Bernstein, esse espectáculo esta nesse âmbito, o que o oceano às vezes separa.


A peça surgiu porque o seu pai era fan do Chico Buarque, também há Fernando Pessoa porque quando chegou a Portugal lia muito esse autor e afirma que ambos têm um ponto em comum, são suburbanos, mas onde é que ambos são suburbanos?
VC: A ideia que tenho é ao contrário, Chico Buarque tem personagens controversos e suburbanos e Pessoa é outro lado, seria o inconsciente desses personagens, um seria o céu e outro é a terra.


Esta peça é uma viagem, porque as malas são muito importantes em cena, cada mala é uma mulher diferente.
VC: Também.


É também um períplo pela língua...foi esse o objectivo deste trabalho?
VC: É engraçado, eu acho que a viagem começa no fim da peça. Eu acho giro esse feedback, como as pessoas sentem esse espectáculo, ver como as pessoas o vêm, que o que criámos é aquilo que recebem. Eu acho que no fim quando faço aquela nau, é como um ultimato de Pessoa, o mundo quer sensibilidade nova, o mundo tem sede que se crie e ele até diz: eu proclamo saudando o infinito, é como se agora tivéssemos de resgatar o espirito daquelas pessoas, a raça dos descobridores.

 

Que também esta subjacente no ONNI.
VC: É uma comédia deliciosa encenada por John Mowat, que é um encenador maravilhoso.
Porque a escolha de um encenador inglês para uma peça sobre três culturas que lhe são completamente alheias?
VC: Africa, Portugal e Brasil, três actrizes em palco, uma portuguesa, uma brasileira e uma africana e tinha de ser o John Mowat, porque é um encenador de teatro físico e com quem eu já queria trabalhar fazia muito tempo. Depois queria contar os descobrimentos da perspectiva do índio, então queria que fosse uma comédia, principalmente para estrear em Portugal, queria que fosse uma coisa ofensiva. Como sou fan do humor inglês, dos Monty Phyton, por isso tinha que ser a faze-lo, porque a Casa da língua portuguesa é a aproximação das comunidades, não tem de ser lusófonas.

 


Os portugueses sentiram-se chocados com a peça?
VC: Não, adoraram. Estivemos em vários encontros internacionais de teatro, no MITO (mostra internacional do teatro em Oeiras), depois recebemos um convite do festival internacional da Covilhã, estivemos em Tondela e no Chapitô fizemos uma grande temporada. Depois uma das actrizes ficou grávida e tivemos de parar. As pessoas gostaram muito, porque a comédia tem uma coisa engraçada, tem a ver com a verdade, quando se identifica a verdade não há hipótese nenhuma aí tem graça, quando se fala do descobrimento do Brasil aí não tem hipótese.


O achamento.
VC: sim é verdade! (risos).


Quando abordei a questão da dualidade também foi porque aparece num projecto musical, que é "um cantinho e dois violões".
VC: Agora é um cantinho, dois vilões, um baixo e um saxofone, daqui a pouco vai haver repercussão. É algo que começou com a bossa nova, eu e uma viola, sozinha, e depois todas as músicas que chegavam viraram bossa nova e foi engraçado essa junção com o Jazz e acabámos fazendo muitas músicas portuguesas com bossa nova.
Outra das vertentes da Casa da língua portuguesa é o "recriando", na cadeia em Tires.


VC: Eu faço trabalho social faz muitos anos. Desde 2004 comecei no bairro do Turela, que é uma comunidade africana, Cabo-Verdiana, depois fui para os Navegadores, nesse estive muito tempo, foi um trabalho profundo. Eu sempre tive vontade de trabalhar na prisão, primeiro foi na unidade fechada de Caxias, com jovens, foi a minha primeira experiência. Depois eu sempre quis trabalhar com as mulheres, então, é um trabalho voluntário, falei com a directora desta instituição, mostrei o trabalho que já tinha e criei um projecto que ela aceitou logo, então fomos para a prisão colar cartazes e ver quem se escrevia. Ao todo inscreveram-se 15 mulheres, desenvolvi o trabalho com elas, a peça de teatro que representaram e o sucesso dos objetivos atingidos superaram as nossas expectativas em todos os níveis.


Qual foi o feedback que houve do público e delas com esse trabalho?
VC: No começo, das 15 mulheres, seis não falavam com as outras, cinco estavam obrigadas por uma delas e eu fui com uma psicoterapeuta que é Assunção Grade, fomos as duas, o teatro vai quebrando todos esses vícios de comportamento colocando toda gente num patamar que é o ser humano. Então toda a gente começa a relacionar-se num outro nível, esse grupo se transformou totalmente, era um encontro semanal, onde havia muitos lenços de papel, muito choro, muito riso, muitos abraços na concretização do espectáculo e então esse grupo transformou a ala delas, que por sua vez se reflectiu no pavilhão. Quando fizemos o espectáculo final, no dia em que entravam com uma música de Mercedes Souza, que reza assim: Gracias a la vida, que me ha dado tanto...elas agradeciam a vida com uma flor que entregavam as outras e foi maravilhoso.


É uma catarse para elas?
VC: Não, é um ampliar da consciência, de quem nós somos, o que estamos a fazer aqui, quais são os nossos limites, de onde viemos e para onde vamos. Por exemplo, tive uma mulher que no exercício de meditação, quando acabou perguntei como tinha sido, as que conseguiram fechar os olhos, porque nem todas conseguem, uma disse-me assim: eu não sabia que aqui tinha passarinho. E eu quando entrei pela primeira vez nas instalações, pensei graças a deus, aqui está cheio de pássaros e ela estava lá há sete anos! E nesse tempo ela não sabia que ali havia passarinhos, só para se perceber o stress. Não interessa onde você esta, podes modificar o teu presente, o momento do poder é o agora e depois a mim transformou-me como pessoa, de perceber que as angustias delas, são as mesmas que as nossas cá fora. Então começas a perceber o que é prisão, começa por aí.


Porque algumas delas não fechavam os olhos?
VC: Porque algumas não conseguem dominar o corpo, não conseguem relaxar, não conseguem respirar, é um estado de alerta constante.


Outras das vossas vertentes é um programa de música africana.
VC: Todos os projectos que estas a citar estão relacionados com a casa da língua portuguesa. O âmago é uma associação que criou a casa. No âmbito dessa instituição, criámos esse projecto de audiovisual que se chama " estamos juntos" que é uma parceria com a afro music channel, onde sou apresentadora do programa e recebo três músicos, um de origem brasileira, africano e português, no último programa tivemos o Rui Veloso, a Lura e o Luís Avelarque, isso é uma mostra. São 42 convidados e que tem a ver com a missão da casa que é a aproximação da comunidade, através de arte. É uma conversa informal onde há uma jam session, com improvisos e depois percebemos que apesar dessas diferenças há semelhanças em termos de referências musicais, de berço. Estou muito feliz com esse programa, que via passar no afro music channel e estamos em negociações com outros canais para ver se conseguimos ampliar o programa e realizar a segunda série.


Tem outro projecto para um futuro próximo?
VC: Sim, pretendo repor o ONNI para o ano que vêm. O "Chico em Pessoa " vai rodar mais, queremos que vá até Angola, Guiné, Cabo Verde e Brasil. Queremos fazer mais uma boa temporada boa em Lisboa e depois surgem tantas ideias que é preciso focar algumas de cada vez. Depois tem a própria estrutura da CLIP que dá muito trabalho, porque pretendemos conseguir uma parceria, uma cedência de um espaço, para a casa ter teto e ter chão. Até agora sempre tivemos parcerias, mas queremos no futuro ter uma sede, a lição da casa é que é para profissionais, temos formação para quem quiser, temos o "recriando", mas a missão da CLIP é um trabalho voltado para os profissionais, de juntar todos, de várias etnias e origens, para obrigar a inflexão e a troca.

http://valcarvalho.wix.com/amago#!espet%C3%A1culos

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