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De corpo e alma

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Jorge Neto descortinou a sua vocação para a arte de representar de forma inesperada. Uma descoberta que lhe permitiu encetar uma carreira de actor com mais de dez anos, alguns dos quais dedicados a uma personagem memorável que lhe trouxe a fama e o reconhecimento do público português, o famoso rato da saga balas e bolinhas.

De que forma surgiu a tua primeira experiência como actor? Foi no balas e bolinhos?

Jorge Neto: O inicio de tudo foi essa proposta de amigos de se juntarem para fazerem uma curta-metragem. A ideia inicial era fazer um filme sobre um grupo em torno de uma mesa, no seu ambiente natural. Queríamos fazer algo engraçado. O conceito visava criticar o mundo à nossa volta, naquele contexto. A minha personagem surge naquele momento, nos ensaios, uma vez por semana, foi crescendo mediante aquilo que era escrito e construído. Ele foi ganhando as suas características próprias, diferentes dos outros, como é natural e na forma como vemos um roedor e como olhámos para os “ratos” que abundam no nosso quotidiano. Depois procurei adicionar a forma frenética de ser deste animal e alterei a voz.

O que acrescentastes mais no segundo filme?

JN: O que torna mais credível este personagem são as situações que foram criadas nesse filme. A produção teve essa preocupação. É diferente colocares o rato numa rua, do que numa cena a interagir com outras personagens e mais figurantes. Há uma evolução, como era natural. Era impossível repetir o que fiz no primeiro filme

Então o que mudastes?

JN: As frases que o público gostou mais, que foram usadas novamente pela personagem e complementamos esse discurso com novas reacções. Eu enquanto actor nesta segunda longa-metragem, faço uma abordagem mais cinematográfica do rato, porque nessa altura estava a estudar cinema. A forma como enquadrar-me perante a câmara e tudo o que está à tua volta. Embora, o personagem é o mesmo.

Neste terceiro, este rato é mais físico?

JN: A ideia é que a saga termine por aqui e embora seja influenciado pelos outros dois filmes, já não existe uma grande quantidade de improviso. Nesta terceira parte, não podemos fugir muito do argumento para que o dia de rodagem termine de forma positiva. Do ponto de vista da actuação em si, terei mais cenas, agora é tudo mais cronometrado. Está feito como foi programado e não há muito espaço para mudar.

Quando tivestes a percepção da popularidade do rato? Foi no Fantasporto?

JN: No Fantasporto foi o reconhecimento de cinquenta amigos que estavam na sala. A pouco tempo estive num jantar onde conheci pessoas que estiveram nessa estreia, e que ficaram agradados com o meu personagem. Era um filme caseiro para nós e quando o lançamos passou a ser do público. Na verdade a grande explosão foi na SIC radical, as pessoas repetiam as minhas frases na rua e vinham ter comigo de forma carinhosa.

O personagem ajudou-te na tua carreira como actor?

JN: No reconhecimento junto do público, sim. Em termos profissionais, não tenho feito muitos trabalhos, ou porque não me convidam, ou porque não estava lá no momento certo. Já participei numa série de televisão que foi “a Ferreirinha” e num trabalho de animação. Faço voz off para desenhos animados. Recentemente, integrei o “raízes”, filmado no parque natural da Peneda-Gêres, é um documentário ficcionado sobre a vida no período neolítico. Os projectos em Portugal, por outro lado, não são assim tantos quanto isso, em termos de cinema, e tão diferentes como o balas e bolinhos.

É difícil ser actor no Porto, tendo em conta que estás longe da capital, onde muito acontece?

JN: É. Torna tudo muito difícil. Há uma grande confusão no meio. Privilegia-se uma cara conhecida em detrimento do actor, são dois aspectos completamente diferentes. Eu vejo e faço teatro pelo país inteiro e vou ao cinema e quando assistes a um filme que tem uma dessas personalidades reconhecidas pelo grande público, notas que não é a mesma coisa. Vês aquela pessoa a fazer de si própria e não é isso que se pede. Pede-se ficção, magia e quer-se que o actor crie uma personagem. Nós, temos que nos desnudar, ou seja, quando mostras o personagem anulas a tua personalidade. Isso é fazer arte e o que vemos muitas vezes é uma capa por cima de uma pessoa.

Como artista como vês a cinematografia portuguesa?

JN: Vejo-a muito bem. Existem excelentes actores de teatro que fazem a transição para cinema com naturalidade. Há diferenças tendo em conta os sets, os décors e mesmo as câmaras. Há outra questão relevante, são os argumentos. Existe uma lacuna que é escrita de cinema para o público. No geral, como actor vejo que se fazem coisas muito boas no nosso país.

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