Porquê?
IS: Há uma grande carga humana no mesmo percurso pedestre. Nós, a organização temos dificuldade em gerir uma fila de pessoas em que desde o primeiro até o ultimo caminhante há uma diferença de 30 minutos e se houver algum problema é muito mais difícil lidar com a situação. Eu prefiro fazer mais passeios, mas nunca mais do que a meia centena que referi, porque é mais fácil de controlar. É mais fácil para caminhar. Não há uma carga humana tão excessiva nesse mesmo percurso de uma só vez.
O que tem programado para este ano para além dos percursos normais?
IS: Vamos fazer pela primeira vez a travessia pedestre do Porto Santo. É um dos objectivos do programa deste ano. Começámos num dos extremos da ilha e acabámos na outra ponta. A viagem este ano ao contrário de programas anteriores não vai ser fora do território nacional. Excepcionalmente será no Gerês, porque as condições económicas não são as melhores. Estas viagens têm sempre como pano de fundo as caminhadas. Não nos limitamos a passear. Percorremos montanhas e como o Gerês é um cantinho de Portugal com imensos percursos pedestres, isso tem muito a ver com a nossa identidade. Ao igual que todos os anos fazemos questão de ir até as desertas e não é assim tão fácil quanto isso. É diferente. Não tem tantas acessibilidades como se pensa. A travessia à ilha, que é outra das iniciativas do clube, vai ter a sua 12ª edição.
De todos os passeios que fez ao longo da sua vida há um que o marcou mais?
IS: Aqueles passeios que nos marcam mais são os que por norma os que dão mais problemas. Quando corre tudo bem, pouco tempo depois está esquecido. Nunca mais ninguém se lembra. Estou a dizer isto, porque estive num sítio em que uma senhora me reconheceu e relembrou um percurso em que choveu muito e houve uma certa dificuldade em chegar ao final. Os passeios em que temos de superar alguns obstáculos e dificuldades são os que nos marcam. Não sei se pela positiva, ou negativa. Este foi na levada dos Prazeres até a central da Calheta. É um percurso plano, mas estava a chover imenso e o caudal de algumas ribeiras por onde passamos extravasou as margens e algumas pessoas tiveram mais dificuldade em ultrapassar essa barreira. Lembro-me que tive que me colocar no meio do ribeiro com o meu bordão afincado no fundo para ajudar as pessoas a passarem. Algumas delas tinham mais medo o que é natural, nem todas são tão afoitas. No final estávamos todos molhados da cabeça aos pés.
Recentemente estiveram nos alpes, o que o atrai esse tipo de percursos?
IS: É a adrenalina, as paisagens diferentes, é um grau de dificuldade muito mais elevado, são percursos que exigem muito mais de nós. Temos que andar 3 a 4 dias em autonomia, ou seja, levamos connosco todo o equipamento, desde a roupa mais elementar até equipamento próprio para aquele tipo de temperaturas baixas que se verificam em altitudes acima dos 3 mil metros. Não são negativas, mas exigem equipamento específico e isso implica saber o que se leva, o essencial, tendo em conta o peso que se vai carregar.
Exige uma preparação ao longo do ano?
IS: Exige uma preparação muito grande, mas os passeios a pé ao longo do ano ajudam nessa matéria. Dão algum traquejo nesse sentido.
Relativamente aos percursos regionais, houve uma mudança para melhor, ou não?
IS: Tivemos após o 20 de Fevereiro uma quebra muito grande, porque quase todos os passeios sofreram com a intempérie. Felizmente foram recuperados, outros ainda estão por melhorar. Nós, antes de encetar um novo percurso levamos uma semana antes uma equipa que vai verificar o caminho e sendo necessário criámos condições para que as pessoas o possam percorrer tranquilamente. Vamos fazendo reconhecimento de percursos e já tivemos que fazer a limpeza de alguns troços de modo a permitir o acesso dos caminhantes. O clube não se limita as levadas assinaladas pelo governo regional. Nós fugimos um pouco desses percursos, fazemos outros diferentes e que muitas vezes não estão limpos e por isso fazemos esse trabalho acondicionamento.
Como é que os descobre? Esses percursos não assinalados?
IS: Não os descobrimos. Eles já existem. Estão é tapados pela vegetação, porque são raramente usados. São poucas as pessoas que lá passam. Existem percursos que desaparecem mesmo devido a invasão da mata.
Mas descobre-os através de mapas, ou do relato das pessoas mais velhas?
IS: Na maioria dos casos recorre-se as pessoas mais velhas que nos assinalam esses percursos e eu também tenho essa experiência parecendo que não eu já ando nisto há 40 anos, é já uma vida a caminhar. Há percursos que fiz em jovem que por vezes estão tão tapados, que simplesmente deixámos de os fazer.
Qual é o seu preferido?
IS: Não tenho um preferido. O que eu gosto é de caminhar. Todos eles são bonitos. Se formos para a costa norte vemos a floresta Laurissilva, a sul temos uma paisagem totalmente diferente. A caminhada até o cais da Sardinha, no Caniçal, é mais agreste. Na Madeira conseguimos ter de tudo um pouco e por isso gosto de caminhar.