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O saltimbanco inusitado

Escrito por 

Ricardo Machado, bailarino e coreógrafo, trabalhou como intérprete com diversos coreógrafos e encenadores, tais como, Aldara Bizarro, Né Barros, Carlos Silva, Moncho Rodriguez, Victor Hugo Pontes, Rui Lopes Graça, Fernanda Fragateiro, Kurt Demey, Marielle Morales, Madalena Victorino. Desde 2006 que trabalha frequentemente com Joana Antunes como intérprete, co-criador e assistente de direcção artística. Em 2010 trabalhou com a Companhia Olga Roriz na criação A Sagração da Primavera e com a Companhia Instável na criação "Tuco” da coreógrafa Karine Ponties. No início de 2011 fundou a "outro vento". Criou através desta plataforma, o solo "Mulher de vermelho" em parceria com Raquel Rua. Actualmente trabalha com a Circolando no "Arraial” de André Braga e Madalena Victorino e neste momento está a colaborar com Madalena Victorino na performance "Vale” e com Karine Ponties na criação de "Lamali Lokta", além de continuar a digressão de "Tuco”.

Tu possuis um longo percurso profissional como bailarino em várias companhias de dança nacionais e não só, foste um pouco saltimbanco, o que retiraste dessas experiências profissionais?
Ricardo Machado: Acima de tudo o que me tem interessado mais ao longo destes anos todos e já lá vão doze a avançar profisisonalmente é ir beber a várias fontes. Experimentar, ver como as pessoas trabalham e tirar o melhor delas, é quase como um parasita (risos). É interessante, porque é assim que aconteceu como com a Karine Ponties, que é uma coreógrafa francesa, mas trabalha na Bélgica, trabalhámos em quatro projectos diferentes e fomos aprofundando essa relação coreógrafo-bailarino, criámos uma relação artística forte e agora com a “Circolando” estou a trabalhar há muito mais tempo.

Mas, desde o início sempre almejaste ser coreógrafo e primeiro experimentaste ser bailarino ou foi uma vontade que cresceu naturalmente?
RM: Não, cresceu naturalmente. Quando comecei tinha esta paixão pela dança, pelo corpo e pelo movimento. Mesmo a minha forma de estar na dança foi evoluindo ao longo do tempo e mais tarde veio essa vontade de dizer coisas, desenvolver e de como queria dize-las.

Então como te defines como coreógrafo? Como é que te destacas dos restantes profissionais desta área ao nível nacional?
RM: O que me interessa muito neste momento é explorar o homem comum que também pode estar dentro do palco, tanto pode ser um bailarino, como um actor e não ser um acrobata, ou um intérprete fantástico. Então, tem-me interessado explorar este lado simples de só estar e de ser uma pessoa também comum no palco e daí estar a fazer este espectáculo do “Rei Sol”.


Emtão fala-me um pouco sobre este espectáculo? Tiveste mesmo de requisitar voluntários pelas redes sociais.
RM: O “Rei Sol” nasceu há cerca de três anos e nessa altura nem sequer tinha nome quando o comecei a pensar. A primeira ideia que tive foi fazer um solo sobre a solidão, de um homem sozinho no espaço, nunca penso num bailarino, ou actor, pensei que se queria falar sobre solidão precisava dos outros.

Para enfatizar essa solidão?
RM: Precisamente. Essa solidão e não só, porque o espectáculo foi evoluíndo também para uma ideia de identidade. Então as pessoas participam no espectáculo e quero enfatizar como um intérprete que o homem e bailarino que pode ser tão comum como pessoas que não são profissionais da dança, ou do teatro.

Então o corpo não é um veículo para a dança e não faz parte da nossa essência?
RM: Faz parte, nós temos o nosso ritmo próprio.

Então queres trazer essa ideia de que a dança não é só para profissionais?
RM: Não é o meu alvo, o meu objectivo é ao contrário. É que o estar em palco também pode ser o homem comum, é o contrário até.

Então é uma desconstrução em termos do que é a dança ou não?
RM: Não, a construção é o próprio espectáculo. Trabalhei com muita improvisão, sozinho no estúdio e com alguns elementos, tenho uma boneca que se enche de ar, em que ela existe e não existe porque se esvazia, ela tem esse objecto que é importante. Depois há essa relação com o corpo e com o movimento, ver o que acontece e eu quero trabalhar coreograficamente dessa forma.

Como um jovem coreógrafo, embora tenhas uma longa carreira como bailarino, é sempre necessário ter de sair do país em tournées internacionais?
RM: Estou na dança há muito anos e trabalhei com muitos coreógrafos e essa ideia é muito recente enquanto coreógrafo. Mesmo como bailarino sempre senti a necessidade de sair. E não é que não haja muitas coisas, porque não estámos assim tão mal como imaginámos, fala-se de Portugal dessa forma, mas eu não penso assim. Eu vivi dois anos na Bélgica e quis voltar, embora tivesse muito trabalho nesse país, mas queria desenvolver projectos cá. O que eu penso é que é necessário progredir no nosso trabalho internacionalmente acima de tudo, porque é onde esta o mundo global, são boas partilhas, porque estamos num mundo diferente em que pensámos e fazemos as coisas de forma diferente. Há uns anos sentia mais essa vontade de sair do que agora, mas essa internacionalização acontece naturalmente, ou o trabalhar com outras pessoas, porque existem afinidades em termos de trabalho. Agora estou a desenvolver um projecto com uma coreógrafa búlgara, que vai estrear em Budapeste. É uma questão de afinidade artística é por isso que trabalhámos juntos e não apenas porque não tenho trabalho em Portugal.

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