A primeira empresa que criaste foi aos 26 anos.
RMA: Era uma empresa de informática com mais dois sócios, no inicio era de fotocópias, mas eu achava que deveríamos mudar, porque começaram a aparecer os scanners e as impressoras multi-funções, isto foi em 2001. O conceito era tentar vender computadores marca branca a preço reduzido, mandávamos vir as peças e montávamos cá. Éramos uns miúdos que tinham pouca experiência. Depois começámos a criar sites, mas era muita coisa. As ideias eram boas, mas não conseguimos controlar tudo e acabei por vender a minha parte, achei que precisava de uma outra visão.
Desde o inicio quisestes ser empresário individual?
RMA: Sim, quando começas a trabalhar para ti, não queres trabalhar para os outros. É importante o trabalho que desenvolvo no escritório, mas não é o mesmo. Aos 26 anos essa empresa serviu como oportunidades de aprendizagem, eu nunca o vejo como fracasso. A ideia não funcionou, porque não se preparou tudo devidamente, nem havia equipa para tal e faltou o marketing. A culpa foi nossa, depois tive sempre aquela ideia de abrir uma loja de BD.
Começou então a 7 ª dimensão.
RMA: Como gostava de BD mandava vir muita coisa de Lisboa e do Porto, depois quando os meus amigos souberam, mandavam vir também. A certa altura, eram tantos os pedidos que já dava para abrir uma conta no fornecedor e fazendo as contas tendo em conta a margem de lucro, dava para alugar uma sala pequenina e começou assim. A 7ª dimensão era uma coisa de que gostava, porque se fosse algo que semi-gosto quando começassem os problemas a sério, ia-me fartar logo daquilo. O que acontece com muitas pessoas é que dizem, vou abrir um café, eu questiono: mas tu adoras café? Dou-lhe dois anos. Só mesmo quem adora o que faz prevalece, mesmo com adversidades.
Nesta aventura estás sozinho, porque não quisestes sócios?
RMA: Porque para teres sócios precisas que tenham todos a mesma visão. Se não, não estamos a puxar a empresa para o mesmo rumo. Daí que pensei, na altura, prefiro avançar sozinho. Decidi abrir uma livraria independente e toda a gente disse: és doido, só a minha mãe acreditou, ela disse-me: se o estás a fazer é porque tens alguma razão. Tudo começou na sala mais baratinha que consegui arranjar. Eu já tinha clientes fixos. Arranjei uma área no segundo andar, na rua Câmara Pestana. Mais tarde abri o espaço actual. Depois veio o pessoal da Magic. Mais do que um local para vender livros, é um ponto de encontro para convívio, um grupo que é uma espécie de uma comunidade. Aqui ninguém é excluído. Conheço todos os clientes pelo nome. É uma vantagem que tenho em relação á Fnac, mesmo depois da abertura desse espaço os clientes continuaram fiéis. A ideia é que seja especial, mais do que uma livraria, quero que seja um espaço onde há uma vivência. Temos que dar algo mais do que um produto.
Onde é que surgem as formações no teu percurso?
RMA: No seguimento da missão da sétima dimensão. No fundo é permitir um espaço de refúgio. Aos poucos comecei com os miúdos que precisavam de ensino, com os workshops de BD. Fiz o curso de formação para formadores e comecei também a dar formação em informática com métodos pouco habituais. Punha o pessoal a saltar e lá pelo no meio assimilavam conceitos. O feedback era muito bom e gostava de ver como as pessoas aprendiam e conseguiam aproveitar os seus conhecimentos. Eu ficava todo contente. (risos)
Mas, como é que começastes com esses workshops financeiros? Notastes que havia uma lacuna no mercado?
RMA: Sim, as pessoas não têm noção de como gerir o seu dinheiro. Tu falas com elas e dizem, não sei onde foi parar o ordenado. A mim esse tipo de afirmações incomoda-me. Como é que não sabe? (risos) Sei quanto é que gastei em comida, em gasolina e quanto é que tenho para gastar até o final do mês. Mediante as categorias e os gastos que faço em cada uma delas, giro o meu orçamento. Se por exemplo gastei menos em comida, significa que este mês posso comer fora. As pessoas não sabem gerir. Dá-mos ideias em como poupar. Quando questiono os formandos, de quanto é que custa o teu trabalho por hora? Respondem invariavelmente, o total do ordenado do mês. Eu digo, não foi isso que perguntei e assim dão-se de conta, que nem sequer sabem quanto é que vale uma hora do seu trabalho.
Ensinas então as pessoas a gerir o seu dinheiro?
RMA: Isso é só uma das fases, daí o nome universidade financeira. Os formandos definem a sua missão, assim como fazem as empresas. A razão pela qual estamos no mundo. A tua é de índole cultural, razão pela qual tens a revista. Procurámos desenvolver essas capacidades nas artes, na música, no que queiram. As pessoas tem que parar para pensar em si, em focar, muitas não fazem a mínima ideia quais as áreas onde são melhores ou não. Fazemos um teste para determinar onde essa pessoa se enquadra e poder orienta-la nesse sentido, para o efeito definimos objectivos e como atingi-los. Falámos de motivação, estratégias de poupanças e investimento ao longo de um ano, cinco anos e projectos de dez anos.
Qual é a média de idades dos teus formandos?
RMA: Desde estudantes com 19 anos até os 50 anos. Começaram o ano passado. Era uma ideia que estava a amadurecer e foi com um amigo, o Eduardo Grácio até Londres, ao National Achivers Congress, são três dias em que ouves vários oradores, como Richard Branson, Tony Robbins, entre outros. São 10 mil pessoas reunidas num pavilhão só para ouvi-los falar dos seus percursos. Como ele tinha a mesma visão, a ideal, criámos uma formação que não é de todo idêntica ao que as pessoas estavam habituadas. A crise acabou por ser uma altura ideal para colocar estas ideias em prática. Tal como esta ideia pretendo abrir mais uma empresa de desenvolvimento infantil, o Gymboree
O que é uma empresa de desenvolvimento infantil?
RMA: É um espaço onde decorrem diversas aulas, estruturadas por cientistas americanos, no sentido de desenvolver as competências das crianças mediante a idade. Começa dos zeros aos seis anos de idade. São programas educativos testados, que até permitem que os miúdos comecem a andar aos nove meses é uma forma divertida de ajudar os pais num período crítico. As pessoas pensam que os bebés só comem e dormem, mas dos zero aos três anos são o período em que o cérebro dispara e os neurónios são constantemente bombardeados com informação. O objectivo é que atinjam o máximo do seu potencial.
Como chegastes depois ao conceito dos pechakuchas?
RMA: Descobri quem eram através de um livro sobre multimédia, é um conceito japonês. Pesquisei o assunto, entrei em contacto e disse-lhes que gostava de estabelecer uma parceria, assinei o contrato e realizei o evento cá.
Não tens velhos do Restelo?
RMA: Tenho, mas não ligo. Ouço isso também em relação aos workshop. Depois começo a pensar, o que perderia se os organizasse? Tempo e dinheiro, mas depois se não o fizesse remoía o assunto. Prefiro perder tempo e dinheiro, do que passar a vida a pensar o que aconteceria se tivesse feito algo.
Achas que a tua geração é pouco empreendedora?
RMA: Acho que devia ser mais. Nós temos o potencial agora com o advento das novas tecnologias de evoluir. No passado estávamos mais isolados, no meio Atlântico, uma ilha dentro de uma ilha, agora não. Com a internet posso contactar com o Japão, depois negociar as condições e passados umas horas assinar um contracto digital que me permitiu participar num evento global. A minha geração devia ser mais empreendedora porque agora já não esta limitada ao mercado local.
Não achas que isso advém das pessoas quererem um emprego?
RMA: É isso. As pessoas estão muito acomodadas. É mais confortável estar a trabalhar das nove as seis da tarde com a garantia de um ordenado no final do mês, do que correr riscos. Há uma frase que gosto de Eleanor Roosevelt, faz todos os dias algo que te assuste. Nos workshops da universidade financeira eu noto que há muitos jovens, eles sentem que tem um potencial que pode ser rentabilizado. São uma geração diferente. Mais activa.





