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Os entusiastas do teatro

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O casca de noz nasceu em 2001, no seio da associação académica e cultural de Ermesinde, com o intuito de levar peças teatrais até o público em geral. É um grupo heterogéneo de pessoas em que o denominador comum é o teatro. Passados dez anos, a vontade de criar, montar e encenar espectáculos ainda se mantém como no primeiro dia em que se ouviram pela primeira vez as pancadas de Molière no palco. Uma determinação que se mantém à custa do amor que sentem pela arte e pelo carinho do público, duas vezes por semana com espectáculos de três horas por sessão, como nos conta uma das responsáveis e actrizes do grupo, Maria Fernanda Rodrigues.

Como surgiu o casca de noz?

Maria Fernanda Rodrigues: Surgimos como grupo de teatro em 2001. Fomos desafiados pela Câmara de Valongo para participar numa mostra de teatro amador, que já exista a cerca de 15 anos. A partir daí todos os anos pomos em cena uma peça nesse evento.

Para além de participar nessa mostra de teatro amador, qual é a restante actividade do grupo?

MFR: Criámos peças para a mostra e depois repomos para o público em geral.

Há muito público que vai até o teatro ver as peças?

MFR: Há muito público. Em Valongo existem cerca de 15 grupos de teatro amador. Nós fomos o segundo a aparecer em Ermesinde e temos uma adesão muito grande por parte do público, o auditório das artes do fórum cultural tem 300 lugares e normalmente nas nossas reposições temos casa cheia. O que é muito bom.

Qual é o critério de escolha para as peças de teatro? O que procuram?

MFR: Inicialmente começaram por ser autores portugueses. Encenámos vários, entre eles, Gil Vicente. Ultimamente fizemos uma incursão pelo teatro absurdo com Dionesco, a cantora careca. A produção mais recente foi uma adaptação de textos poéticos para teatro. Por norma, a escolha dos textos recaí no elenco e consoante as peças disponíveis para um grupo tão grande de pessoas. Nós somos entre 15 às 20 pessoas em palco.

 

 

O dia em que me queres foi então a vossa última encenação?

MFR: Sim, é uma peça que começa com um segmento do livro do génesis, que não é propriamente uma poema, mas que reflecte sobre a origem do mundo e introduz vários textos poéticos de diferentes autores, entre eles, Fernando Pessoa. A ideia surgiu de um desafio que lançámos ao encenador para dramatizar e montar um espectáculo em que existem personagens e há um enredo. É uma reflexão sobre a vida. O que andámos aqui a fazer no fundo.

Das peças que já enceram até o momento, qual foi a que constituiu um maior desafio para o grupo? E porquê?

MFR: Esta última peça foi desafiadora, mas a mais difícil para o grupo foi Dionesco, a cantora careca. O texto em si era muito complicado precisamente porque provém do teatro absurdo, o próprio enredo foi um grande desafio para os actores e para o encenador. O elenco para esta produção era mais reduzido, tinha apenas seis elementos em palco e o próprio conteúdo tornava a tarefa de captar à atenção do público mais difícil. A birra do morto foi outras das peças que marcaram o percurso do casca de noz. Foi uma comédia negra que esteve em cena em várias localidades do país, devido ao êxito que colheu no primeiro festival de teatro amador em Alijó promovido pela fundação Inatel.

Como é que um grupo de teatro amador encara a falta de apoios para o sector em geral, tendo em conta que existe uma grande actividade teatral e público?

MFR: Encarámos isso como fazer uma omeleta sem ovos. É um desafio. É como sem nada se consegue fazer alguma coisa. Quando se ouve falar da falta de apoios, ou de subsídios costumámos dizer que nesse aspecto até somos sortudos, porque nunca tivemos quase nada. As únicas ajudas que sempre tivemos foram da Câmara Municipal de Valongo que já é muito grande. A edilidade cede o espaço para ensaios e para a reposição das peças. Como somos uma associação colectiva de utilidade pública sem fins lucrativos, digamos que trabalha no seu todo em regime de voluntariado. Nós pagámos a um encenador profissional, porque gostámos de fazer um trabalho com qualidade e por sermos amadores não quer dizer que sejamos toscos. Somos amadores, porque temos outras profissões e porque dedicámos o nosso tempo disponível ao teatro. Mas, quando começámos dizíamos na brincadeira que existiam duas formas de fazer teatro: o profissional e o amador. Nós estávamos numa terceira via, que era aqueles que pagavam para o fazer. São os actores que suportam os custos do trabalho de um encenador profissional. É muito complicado e difícil nesse sentido, mas como somos uma associação que esta bem inserida na comunidade, ou seja, todas as pessoas que estão envolvidas ao nível da direcção e órgãos dirigentes, desde que ela foi fundada, para trabalhar junto da população, formar públicos e trazer o teatro até as pessoas. A falta de apoios foi de inicio um desafio para nós, fazer acontecer teatro praticamente só com um espaço, com o trabalho voluntário de todos os envolvidos, desde figurinistas, cenógrafos e de certa forma do próprio encenador, a quem pagámos apenas despesas de deslocação. É um repto á criatividade e com retorno, já que temos a adesão do público nota-se e sente-se isso. Temos um grande apoio das pessoas.

O grupo cobra o preço dos bilhetes para obter fundos para futuras peças?

MFR: Inicialmente a câmara municipal comprava espectáculos. Por exemplo, fazíamos três reposições e uma delas era paga. Ultimamente, isso não acontece. Cobrámos um valor simbólico, 2 a 3 euros, ou o que as pessoas quiserem dar, mas na mesma tem acesso ao espectáculo. O que achámos é que deve haver um compromisso de quem esta a ver e o facto de ser gratuito não predispõe as pessoas a ver uma peça de teatro.

O futuro?

MFR: Enquanto nos deixarem fazer teatro e houver vontade, o trabalho continuará. Nós somos um grupo não profissional, que encara o teatro como uma terapia, como uma forma de predispor as pessoas a verem teatro e achámos que devemos continuar a faze-lo desta forma. Enquanto houver vontade estaremos sempre lá para trabalhar.

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