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Uma revista à moda do TEC

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O grupo de Teatro Experimental da Casa do Povo da Camacha foi fundado em 1989 com um objectivo de promover a cultura numa forma de arte menos reconhecida pelo público. Passados 27 anos de existência possuem já um curriculum vasto, mas não param de crescer e criaram até um festival de teatro único na Madeira. Participam activamente na semana de arte Camachense com uma revista à madeirense que é o ponto alto deste evento, tal é a adesão em massa do público. Um espectáculo que movimenta cerca de 40 elementos do grupo que integram as quatro rábulas de crítica social, com música e dança, como nos contam os principais responsáveis do TEC.

Porquê a escolha de uma revista para apresentar em público?

Basílicia Fernandes: A revista normalmente transmite o seu sentido de humor. E estamos perante um público que na sua grande maioria tem da ideia de que o teatro é para rir, em que se apenas faz humor, embora as pessoas não desconheçam de todo que somos um grupo que pomos em cena todo o género de peças. A revista é mais para animar o público, tem de ser mais viva e transmitir a nossa crítica.

Sara Branco: É uma forma de crítica social perante tudo o que se passa aqui na vila, na Região ou no Continente. O teatro é por excelência esse palco. Quem pode fazer crítica de forma gratuita e sem consequências? Somos nós. Por isso, pegamos nessas vivências, nos temas mais fortes do ano, este ano é a crise e falamos dela. Não há outra hipótese.

BF: No passado fizemos as sete maravilhas da Camacha. O que retratamos? Aquilo que nós achamos que estava mais degradado, esquisito e triste, foi esses os temas que escolhemos. Foi muito bem aceite pelo público.

Pelo que sei a adesão a este espectáculo é em massa, de tal forma que as pessoas mal se conseguem mexer.

BF: Sim, é um facto. As pessoas vêem propositadamente ver o teatro e daqueles quatro ou cinco dias que funciona o festival de arte Camachense, tendo uma noite de rock, folclore e jazz e cantores reconhecidos pelo público em geral, de facto ninguém consegue encher a praça como nós e somos um grupo de teatro amador. No ano passado, foram contabilizadas 2000 mil pessoas.

SB: As pessoas estão curiosas para saber qual deles vai ser alvo da nossa crítica. Nós criticamos a população local, no bom sentido, a brincar, sem ferir susceptibilidades. As pessoas acabam por saber de quem falamos e eles riem-se. Como a revista faz em geral. É um espectáculo completo, pomos dança, pomos canções e sketches, tal qual um teatro de revista. Embora, a percentagem das rábulas sobre a realidade nacional seja muito pequena, quando comparada com todo o resto. Desde as letras das músicas até os textos, tudo se relaciona com à Região.

Podes levantar um pouco do véu do que vai ser o espectáculo?

José Ferreira: Bem, não podemos faze-lo demasiado, porque as pessoas estão atentas. É quase como um segredo de Estado. Essencialmente foi buscar os temas relacionados com a Camacha e a Madeira. Muda de espectáculo para espectáculo, porque no fundo somos amadores. Procurámos abordar o que as pessoas tem mais de genuíno e tentámos adaptar. É buscar a essência do que temos e nunca tentar imitar uma revista profissional, como as que são posta em cena em Lisboa. São situações diferentes.

Como surgiu a ideia de uma revista?

BF: Em 1989 fomos os primeiros a organizar em parceria com o Inatel, deve-se frisar que a nossa existência deve-se muito a esta instituição, o primeiro ciclo de teatro amador madeirense com vários grupos da Madeira. Para levar à cabo esse projecto, juntamos sketches soltos e o coordenador da altura do Inatel, o Carlos Pereira, deu a ideia que desse conjunto de trabalhos humorísticos que déssemos o nome de revista à Camachense. E assim ficou. Nesse mesmo ano apresentámos uma peça ao ar livre, mas não resultou muito, porque não havia uma aparelhagem adequada na altura. Mais, tarde é que tentámos levar para a cena a verdadeira revista à nossa moda.

SB: Nós ao longo do ano vamos criando textos isolados. Depois reunimos todo o grupo e vão surgindo ideias até chegar ao tema. Junta-se tudo para que haja um espectáculo inteiro.

BF: O espectáculo está pensado dessa forma, porque no passado havia espaços mortos e para evitar que isso aconteça criámos sketches a imitar um momento publicitário. O objectivo é que alguém entre logo em cena para que haja um seguimento. Nós temos um ritmo alucinante para evitar que o público se aborreça. As pessoas dizem-nos que após uma hora e meia saem dali com os pés dormentes, porque infelizmente não temos ainda um auditório em condições.

Como grupo de teatro notam a diferença em termos de público, quando se encena uma peça dita séria e outra com uma vertente mais humorística?

BF: Sim, notámos essa diferença. Já tivemos peças em que o público era muito restrito. As pessoas agora já estão mais habituadas e vêm até o teatro ver seja que peça for.

SB: Mas, nota-se mesmo assim uma discrepância.

Curiosamente a Camacha tem uma grande agenda cultural. Como é o caso do festival de teatro, um tipo de eventos que se organizam por norma nos grandes certos urbanos, mas tal não acontece, porque?

BF: A Camacha é apelidada de capital da cultura madeirense e eu cada vez mais acredito que é verdade. Apesar da cidade do Funchal ter muitos eventos, mas são isolados e mais diversificados. Nós temos uma panóplia de grupos diferentes cá. Do folclore á grupos corais, há de tudo um pouco.

SB: As pessoas que vivem cá estão abertas à cultura. A casa do povo da Camacha também foi essencial neste processo. Faziam a diferença porque estiveram receptivas à cultura. Há lugares onde entrámos e estão receptivos, outros nem sequer nos abrem a porta. Acho que isso conta. Depois temos outro factor também muito importante, na Camacha não existe um jovem que não tenha educação artística seja ela qual for. Existe uma cultura familiar nesse sentido, os jovens ou fazem teatro, ou tocam um instrumento, ou dançam no grupo folclórico e fazem-no naturalmente.

O vosso grupo também é disso exemplo.

BF: Sim, temos muitos jovens e isso é porque eles se deixam influenciar pela revista. Os pais trazem-nos a ver as peças. Eles chegam a abordar-nos nos bastidores, e eu aí peço para aguardarem, porque o nosso grupo embora sendo amador, tem a particularidade de ao longo dos anos apostar na formação. Esses elementos todos no final do curso acabam por entrar no espectáculo da arte Camachense. Aderem com uma vontade férrea e quando temos de levar uma peça para cena, o José Ferreira como é o encenador tem de escolher quem melhor se adequa ao papel. E eles entendem e aceitam.

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