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Crónicas de marta caires

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Ela é jornalista e publicou as suas crónicas numa revista de um jornal diário, que retratam as várias etapas da sua vida, ao longo dos seus 40 anos, num beco, no Laranjal, na cidade Funchal.

O que te levou a escrever sobre a tua infância numa cidade como o Funchal?
Marta Caires: Essas coisas não aconteceram de um dia para outro. Quando comecei a escrever era Outubro, estávamos na altura do "pão por Deus", eu via tudo com imagens do Halloween e achei que era altura, aquilo não era a nossa tradição, era algo importado e comecei por aí. Aos poucos sem dar por isso, apercebi-me que era o que os leitores queriam saber, o que eu sentia, o que eu tinha visto, desde essa perspectiva da memória, da saudade, do que já não existia e estava apenas na nossa cabeça. As pessoas queriam o seu passado, a sua história e de alguma forma que não sei explicar, porque essas coisas não tem uma explicação lógica, eu descobri que essa era a minha voz e de muita gente, se calhar de várias, porque antes o tempo não corria tão depressa como hoje. Há várias gerações de madeirenses que passaram pelas mesmas experiências, toda a gente teve um beco, um descampado, uma mãe e um pai e depois tudo isto acabou em livro.

Sim, mas como te chegou esse feedback das pessoas? Como te apercebes que era isso que os leitores queriam tendo em conta que se trata de um jornal diário?
MC: Era também o que queria, não era apenas o que os leitores queriam. Eu arrisquei, depois chegou ao coração das pessoas não sei como e tocou. Actualmente vivemos num tempo em que não existe passado e isso não é bom. Para estares bem precisas de saber de onde vens e necessitava que as pessoas se lembrassem, porque era um passado que não era mau, nem triste, nem feio, não tinha sido feito de riquezas, nem pujante, ou cheio de coisas, mas era bom, era delas, era essa a vida que as pessoas tinham vivido e isso era muito importante.

Não sentiste um certa dúvida, porque estavas a expor o que sentias?
MC: Era algo muito importante que devíamos fazer todos, nós só podemos falar sobre o que sabemos, só podemos escrever sobre isso e depois eu exponho a parte que é pública. A tua vida também terá coisas parecidas ao do vizinho do lado, as pessoas dizem-me isso, parece que cresci consigo, que vivi no Laranjal. É uma espécie de sítio onde toda a gente viveu. Não acho que seja nada de muito revelador, ou íntimo, não éramos ricos, mas todos tiveram este tipo de problemas.

Uma das pessoas de quem falas mais é a tua mãe, abordas as discussões, as vossas diferenças geracionais. O que ela te diz sobre isso?
MC: O livro é dedicado à memória da minha mãe. Quando eu comecei a escrever ela já tinha morrido há dez anos. E em relação à minha mãe, foi como trazê-la de volta e se estivesse viva não sei o que acharia. Mas, o que eu escrevo, devo-lhe a ela, o ter chegado aqui.

 

 

O teu irmão e o teu pai o que pensam?
MC: Meu pai sempre foi um apoio muito grande e o meu irmão também, aliás ele ajudou-me a fazer a selecção das crónicas.

Nem se sentem intimidados pelo facto de falares sobre eles?
MC: Não, como eles dizem, ninguém sabem quem são, são quase como personagens.

Qual foi o fio condutor na selecção das crónicas deste livro? Tens imensas e há espaços temporais diversos.
MC: Tentar que fossem abrangidas várias épocas, que retratasse o tempo, os meus últimos 40 anos. Possui vários momentos, a infância, a adolescência, os lugares, as pessoas e o que eu pensava sobre o futuro e Lisboa que foi também uma etapa importante da minha vida.

Quais das tuas crónicas é a que preferes?
MC: Não te sei dizer, existem umas que gosto muito, há umas que choro, existem outras que me dão vontade de rir.

E qual é a melhor que te descreve quando eras mais jovem? Embora há sempre um pouco de ti em todas elas.
MC: As crónicas da minha adolescência quando estou no liceu e em Lisboa na universidade. Essa sou eu, a aventura, o ter decidido fazer isso, mas estou lá em todas elas, não mudámos assim tanto, somos quem somos desde miúdos, o tempo apenas aperfeiçoa quem somos.

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