É o quinto livro de Jorge Ribeiro de Castro, que aborda vários tipos de escrita, numa linguagem mais contemporânea e satírica. Uma obra a conhecer pela sua eloquência e profundo sentimentalismo aliado a um vocabulário muito rico.
Este livro distingue-se das tuas restantes obras de que forma?
Jorge Ribeiro de Castro: A diferença reside no facto de usar uma linguagem mais contemporânea. Enveredo um pouco mais pela sátira, pela comédia, os outros livros são mais sérios, mais sombrios. A escrita era um tanto quanto poética nas outras obras tinham uma certa eloquência, mas não eram divagações atrás de divagações. Neste livro tenho histórias que tem um certo enredo, mas cuja trama só se descobre no final. É preciso apanhar o peixe utilizando um isco, digamos assim.
Estas palavras que partem de mim é uma colectânea de contos, crónicas e outros tipos de textos. Porquê?
JRC: Por que não? Eu tinha essa liberdade. Achei que o livro devia ser diferente. A minha terceira publicação tem oito contos, “o cortejo das virtuosas” tinha temática um tanto quanto fantasmagórica e fantasiosa. Este livro tem um pouco disso, mas porque não dar a conhecer o que eu penso e o que os outros pensam, mas de forma mais poética?
O título é o elo unificador de todos os textos?
JRC: O título é uma forma de apresentar o escritor as pessoas. De dizer que podem ler o que quiserem no livro, por isso é que as palavras partem de mim, o que está escrito não é uma representação realista do que é o escritor. São apenas certos momentos. O livro foi escrito ao longo de um ano e meio e claro, que escrevi mais algumas coisas antes e depois.
Na apresentação deste livro, disseste que quando escreves abstraíste do que te rodeia, contudo, a tua escrita revela muito do autor, nota-se um aprofundar do pensamento, há textos de uma tristeza inerente. Não acaba por ser um pouco de ti?
JRC: Sim é um pouco de mim, mas ao abster-me da realidade, não quer dizer que me abstenho de mim próprio. Um escritor que consegue mentir, ou que diz a verdade, tem sempre uma certa riqueza. O que eu disse é uma forma de dar a entender é que nem tudo o que estou a escrever passa-se exactamente num local recatado. Pode haver uma multidão à minha volta que eu abstraio-me dela. Naquele momento estou apenas a vivenciar o enredo e a história, mais nada. Tudo o que escrevo tem algo de mim, senão seria o quê? Eu acredito que todos temos vários universos dentro de nós. Eu, contudo, sou mais do que está escrito. Posso escrever de uma forma melancólica, porque é o que sinto, embora esteja bem. Não estou a ser falso, mas todos temos uma certa sensibilidade desde que nascemos e porque não estar a usufruir desse sentimento?
A tua literatura é descrita como sendo difícil. Achas como jovem autor que sofres por comparação com a dita literatura light que se aproxima mais de um determinado público e daí, o público afirmar que os teus livros são difíceis de ler?
JRC: Eu escrevo por necessidade. Não, porque as pessoas necessitam de ler. Isso de ser um jovem escritor com cinco livros e 39 anos de idade, acho que é um tanto quanto estranho, porque para se ser um velho escritor nestas andanças é preciso ter uma grande editora por detrás e já ter livros à venda. Eu comecei a escrever aos 21 anos de idade e já lá vão 19 anos de escrita, embora o meu primeiro livro tenha sido editado em 2005 o que faz de mim um jovem escritor para o público. Para mim sou um escritor que esta a conhecer-se a si próprio, a sua linguagem.
Colocastes os teus livros na internet gratuitamente, porquê?
JRC: Sim o terceiro e quarto livro, porque me queria dar a conhecer. Já os tinha enviado para várias editoras, algumas não responderam, outras houve que responderam que não os podiam editar, porque tinham a agenda cheia. Eu gostava que as pessoas me dissessem o que pensavam dos livros, mas o facto é que tenho muito mais histórias para escrever. Eu estou quase acabar um romance, é uma comédia absurda que se passa no século XVIII. Tenho um livro com contos e prosas poéticas, que vou rever. Eu escrevo quando posso, tenho uma profissão, porque não consigo viver só da escrita.
Quando as pessoas leem os teus livros e depois te conhecem pessoalmente há um certo choque?
JRC: As pessoas podem pensar que posso ser um tanto quanto reservado, tímido até. Só porque falo com uma linguagem de certa forma contemporânea, não quer dizer que não tenha possibilidade de escrever sobre algo mais profundo, intelectual ou sentimental. Já me disseram isso que não esperavam que eu fosse assim. Isso não interessa, porque eu acho que tem de haver uma diferenciação entre o escritor, alguém que gosta da arte da escrita, e da pessoa, tão normal como os outros.
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