Tens neste livro algumas imagens nocturnas, mas que parecem de dia.
DF: Não, esse é um momento que os fotógrafos chamam de hora mágica, que são os últimos quinze minutos do dia, que não são nem dia, nem noite. Ficas com uma penumbra luminosa, que não é luz solar, é muita próxima do dia, mas tem rasgos nocturnos.
Quais são os locais adequados para fazer esse tipo de fotos?
DF: Nesse caso em particular, necessitava de fazer uma imagem diferente do museu vicentes. Outra das minhas preocupações é não cair no lugar-comum, não fazer o que esta feito. Este espaço não tem muitas opções, em particular, na parte exterior. Então joguei com a luz, vais encontrar muitos destes enquadramentos em que só a luz é que é diferente. Jogo com os tempos de exposição.
É muito difícil fazer uma imagem na hora mágica?
DF: É difícil porque num dia tens apenas esses 15 minutos. Requer experiência nessa área e saber o que queres fotografar. Tens de estar lá, não podes ir à procura para fotografar aquele momento. Não. Tens de saber qual é imagem que pretendes, tens o tripé montado e esperas.
É um jogo de paciência.
DF: A fotografia é um trabalho de paciência. No livro tenho uma imagem com dez minutos de atraso em relação a hora mágica. O azul do fundo não deveria ser tão escuro. (risos). A fotografia não é má, mas 10 minutos antes seria fabulosa. Esse tempo faz a diferença.
Qual foi de todas as fotografias que colocastes no livro a que constituiu um maior desafio?
DF: Há várias fotografias que foram um desafio, por exemplo, o material do museu de arte sacra, os baixos-relevos, são relativamente complicados de captar. Não podes ter nem demasiada, nem pouca luz. Tem de ser bem medida. Para mim funciona quase por impulso. Às vezes tenho de vergonha de dizer que para mim foi fácil, porque a luz é-me algo quase instintivo. Eu chego ao ponto de colocar a iluminação uma única vez e já esta, sei que está bem.
O objectivo é que este tipo de fotografias não mostre as sombras?
FD: Não, tu tens de ter sombras, porque se não as tiveres não notas os contornos dos baixos-relevos, na fotografia até se vêm os cortes na madeira. A luz tem de ser relativamente rasante para conseguir obter uma boa imagem. O problema é que ao colocar-se demasiada luz, ou a posição não ser a mais adequada, posteriormente o resultado é uma imagem lisa. No museu do Açúcar fotografei botões, são peças muitas pequenas, mas ao olhar para imagem consegues ler tudo. Tudo tem a ver com a luz, a posição em que a colocas para obter os relevos da peça. Ao contrário da porcelana que tem de ser trabalhado quase em contraluz para não ficar com reflexos. Foi muito interessante. Este projecto foi algo que fiz em seis meses, por norma, tudo o que tem a ver com o turismo demorava esse período de tempo. Março e Abril são os meses ideais para trabalhar, gosto muito da luz de inverno.
O que tem especial?
FD: É uma luz um pouco mais dura, porque o sol está mais baixo, como há menos temperatura no ar é menos difusa, mas depois o que fotografas é mais definido. Tens contornos, não há mesclas.
Nesse aspecto viver na Madeira torna tudo diferente?
FD: Tu vives no meio do Atlântico. Tem influência. O primeiro banco de imagens do baixo Alentejo foi feito por mim. Já tinha fotografado o Algarve que esta à beira mar e foi uma experiência completamente diferente. A luz da planície dourada não tem nada e ver com a da Madeira. Depois a ilha tem outro aspecto a ter em consideração, tu muito facilmente estas a 800 metros de altura e nessas altitudes encontras as ultravioletas, que para mim cria um efeito muito bonito. Muitos fotógrafos, no geral, usam filtros para compensar. Eu não. Se o azul é escuro é esse que vês na imagem, não compenso o comprimento de ondas, porque é o que esta lá. Se há nevoeiro eu fotografo-o e o resultado são imagens fabulosas. Quando as pessoas estão dentro de casa nos temporais, eu estou na serra a fotografar. (risos).





