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História de antiguidades

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Para Rui Afonso Santos, no prefácio que escreve sobre o seu amigo, estas crónicas de aventuras e cumplicidades são deliciosas, porque “com extraordinário deleite e prazer se lêem estas narrações, através das quais o Anisío Franco afirma a sua pujança como historiador e aventureiro, desbravador de novos caminhos histográficos”.

Por norma, quando entrevisto um autor de um livro, nunca cito frases dos textos, mas para aguçar à vossa curiosidade sobre este escritor e as histórias maravilhosas e ao mesmo tempo hilariantes que tem para contar e que tive o prazer de ouvir em mais uma palestra sobre “Dar a Ver” vou buscar duas crónicas, a primeira, intitulada, “a minha bigoduda”... “ Mal a avistei, periclitantemente encostada à escada, jurei que havia ser minha, mesmo com o marido ali ao lado. Mas, quem era ela, a brava senhora com cara de poucos amigos e lábio superior ornado de bigode?”.

“O ídolo”... “ Um agente da Guarda Nacional Republicana apresentou-se junto do presidente da Cooperativa Agrícola Unidade de Manços. À pergunta sobre o paradeiro da escultura romana, reponderam-lhe outra: O Santo Antoninho?As coisas azedaram quando o ídolo voltou a ser reclamado”.

Queria saber há quantos anos é que faz esta colecção de retratos?
Anísio Franco: Esta especificamente, porque o coleccionismo começa muito antes, focou-se provavelmente em 1988, quando tive a possibilidade de comprar e adquirir peças de arte. No princípio até não era uma colecção, era algo que achava graça, tinha a ver com o que estudava, a retratística, os retratos e as séries régias, depois comprei, uma e outra pintura e transformou-se em algo muito sério.

E no total possui quantos retratos?
AF: Cerca de 300 retratos, pinturas de pessoas feias, bonitas, altas, magras, o que me importa é a figura humana. Há um teor humanista nesta colecção, interessa-me preservar a memória daquelas pessoas. Contudo, foram esquecidas e mais tinham o desejo de que alguém os preservasse, uma vontade que acabou por não ser respeitada.

Conseguiu descobrir já todas as histórias dos seus quadros?
AF: Não e ainda bem que não. Eu não gosto de retratos por saber quem é que esta representado. Eu prefiro o desafio, tem a ver com a minha formação de história da arte. O estilo e história verdadeira dos quadros que comprei é o que menos me interessam, por exemplo, tenho um quadro na sala de que sei tudo, o nome do autor, do pintor, quem fez a moldura, a tela, tudo e só o acho decorativo. Para mim o mais importante é sempre o desafio e ainda bem que há muitos que nada sei, porque ainda tenho muito para trabalhar e estudar.

Já alguma vez se interrogou porque gosta tanto dessa área artística tão específica?
AF: Sim, já, porque gosto dos seres humanos. É uma questão humanista. As pessoas que estão ali retratadas viveram, tiveram os seus problemas, as suas idiossincrasias, como aquela mulher do bigode. Interessam-me pelo respeito que tenho pela humanidade.

De entre todos esses retratos que encontrou, houve algum que tivesse descoberto que se tratava de um tesouro artístico, não em termos da pessoa em si, mas sim do autor da pintura?
AF: Sim, claro. Eu já tive retratos que pensei que era uma coisa e afinal era algo melhor. Mas, esse é o aspecto que menos me interessa, definitivamente. Até porque depois não tenho vontade de os trocar por dinheiro, o facto das pessoas acharem maravilhoso, porque se trata de um artista com um certo valor no mercado, isso não me entusiasma nada, particularmente. Já o que me importa sendo bom ou mau, e não há muitos maus retratos por uma questão muito simples, ninguém gosta de ser mal retratado e o pintor estava sempre em frente do retratado, é quem lá esta.

Existe algum quadro, dos muitos que não conhece as verdadeiras histórias e não incluo as que inventa para alguns dos seus retratos, com o qual esteja obcecado por descobrir?
AF: Existem alguns, a questão é que com o tempo as verdadeiras histórias vão aparecendo, quando menos espero, como conto no livro, como quando encontrei uma gravura onde uma das minhas pessoas estava retratada.

Como é que fez a selecção para este livro “histórias de antiguidades”?
AF: Foi muito difícil, porque eu tinha escrito muitas histórias ao longo dos anos, mais em duas revistas sobre arte, a “Arte Ibérica” e a “L+ Arte”. Depois acabei por fazer uma selecção temática, uma em torno dos retratos, outra enfim sobre objectos de arte, não foi algo que me tivesse sido fácil, porque havia muitas outras histórias para publicar e as condições editoriais não eram propriamente folgadas, por isso, era necessário reduzir e acabei por escolher as mais empolgantes, as mais divertidas.

As que não publicou em livro, já pensou em usá-las para outras publicações?
AF: Sim, já, mas entretanto, tudo passa pela questão editorial deste momento. Em Portugal, ao contrário do que acontecia há alguns anos, o autor impunha o que pretendia publicar e actualmente o público é que manda no que quer comprar e as editoras vivem disso. Depois existem outras áreas mais interessantes para os leitores, como por exemplo, com esta vaga de turismo, tenho o “Caminhar por Lisboa” e essa vertente editorial é muito mais apelativa para o mercado.

E o que pensa fazer com todos os seus retratos quando envelhecer?
AF: É uma das questões que me preocupa, mas as colecções tem de ser preservadas. Bem, pensei que podiam ir até o museu de Lagos, por exemplo. (risos)

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