É uma leitura deliciosa fruto de uma reportagem da jornalista Vanessa Fidalgo.
Sempre pensei que fantasmas, assombrações e lugares amaldiçoados eram eventos paranormais confinados à velha Inglaterra descrita por William Shakespeare, no fundo dicas úteis para atrair os turistas. Enganei-me redondamente. Portugal como outro qualquer país que se preze esta também repleto destas misteriosas entidades do outro mundo que insistem em permanecer etéreos na nossa realidade em vez de partirem como é suporto e como nos é relato neste livro de Vanessa Fidalgo. A investigação da jornalista surgiu a partir de uma reportagem sobre casas assombradas e o resultado foi uma compilação muito interessante que reúne uma série de mitos e histórias com eventuais contornos paranormais que pululam de norte a sul do nosso país. Gostei tanto deste “histórias de um Portugal assombrado” porque falava de nós, portugueses, povo que não admite oficialmente ser supersticioso e firme crente na existência de entidades provenientes do outro mundo, mas oficiosamente não há nada que não faça para afastar o mau-olhado, as pragas e os fantasmas que os ensombram. Este comportamento típico faz-me recordar o célebre ditado espanhol: “yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”, que traduzido é mais ou menos assim “ eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, elas existem”. O meu relato preferido, ao contrário da maioria que escolhe as assombrações que morrem por amor, é de um tal Barão da Glória que não consegue separar-se dos seus livros, da sua biblioteca e do seu palácio, adequadamente chamado de “Beau Sejour”, que em português significa literalmente “ficar bonita”. Querem coisa mais linda do que esta? Um dandy que gastava fortuna em festas e tertúlias, que amava a palavra acima de qualquer tentação carnal e cujo actual propósito eterno é o de assombrar os funcionários dos estudos olisiponenses quase até a loucura? Pois é, terão de ler e deliciar-se com esta e as outras histórias assombradas que foram recolhidas pela Vanessa Fidalgo um pouco por todo o país, outras foram-lhe enviadas e confirmadas posteriormente e outras ainda estão descritas na internet. Não importa se são verdadeiras ou não, são relatos fantásticos, imprescindíveis para animar as fogueiras nos acampamentos, as noites frias em frente à lareira, fazendo perder noites de sono descansado às imaginações mais férteis e ajudando a criar insónias. Termino com uma experiência pessoal, real, no palácio da Dona Xica. Brasileira e muito bonita, a rica herdeira viveu numa casa apalaçada próximo de Braga e que se julga ser assombrada pela sua voluptuosa presença, os motivos de tal desdita? São os suspeitos de costume, amores não correspondidos e não pretendo perder tempo a contar detalhes dessas versões delicodoces. Bem, o que interessa é que estava empolgadíssima com a ideia de avistar a assombração, ou ouvir ruídos estranhos sem explicação. O facto é que na primeira noite estava tão excitada que decidi que não ia pregar olho e tentei, juro, só que foi enganada por Morfeu que me pregou uma partida e adormeci profundamente. Resumindo e concluindo, não vi nada e não ouvi nada absolutamente fora do normal em todo o bendito fim-de-semana em que lá estive hospedada. Ela não quis dignar-me com a sua presença, embora outros tenham jurado ouvir os seus passos na escadaria de pedra. É um relato lamentável, eu sei. Mas, pensem assim, o mito continua. HAHHHH!HOOOOHHH!