Tinha uma escrita despudorada, tanto como a vida que levava e até mereceu uma bibliografia.
Deve ser um dos poucos autores portugueses do qual se pode afirmar sem o mínimo de exagero que a sua vida era maior que a sua obra. Luiz Pacheco era mais conhecido pela sua irreverência e modo de vida absolutamente debochado e libertino, do que propriamente pelos seus textos, embora a qualidade literária da sua escrita seja irrefutável. Era acima de tudo uma personalidade desconcertante, mais conhecida pela sua vida pessoal, as suas aventuras sexuais, os seus casamentos com mães adolescentes (que só tem paralelo com o marquês de Sade) do que propriamente pelo que publicou. Não pretendia ser uma pessoa respeitável, muito pelo contrário sempre alimentou o mito de libertino com uma vida amplamente desregrada, dissoluta e quase imoral. Era hipersensível ao álcool, pediu esmola, comeu na sopa dos pobres, falsificou selos do estado e tinha o hábito de pedir dinheiro emprestado aos amigos que claro, nunca devolvia. Apesar de todas estas “fraquezas” de caracter, como o erudito Carlos Loures afirma, granjeava junto da comunidade literária um grande respeito. O que não era de todo estranho, tendo em consideração que denunciou sempre na sua escrita o regime salazarista, mas também amigos de longa data, como foi o caso do celebre desentendimento com Fernando Namora que acusava de ter plagiado no seu livro, “Domingo á tarde” a “Aparição” de Virgílio Ferreira. E ainda, ajudou a fundar uma editora, a contraponto que publicou grandes autores da língua portuguesa, como Herberto Hélder, Natália Correia, Mário Cesariny, Raul Leal, entre outros. O seu percurso pessoal é caso para dizer, a minha vida dava um filme…interdito para maiores de 30 anos. Sem exagero! Contudo, o que ninguém pode negar é que a sua notoriedade se deve sobretudo, aos outros. Às pessoas fascinadas por todo este seu mundo retorcido que perpetuaram o mito deste homem que se estava nas tintas para a restante humanidade. E fica a obra para imortaliza-lo.