É uma das obras de José Saramago mais aclamadas pelo público português. É a história de um amor que cresce ao ritmo da construção de um convento.
O primeiro livro que li de José Saramago foi precisamente o Memorial do Convento e continua a ser um dos meus preferidos. É uma obra difícil de ler pela falta de pontuação, mas ao mesmo tempo, é um golpe de génio do autor, porquê? Porque somos obrigados a ler as construções frásicas com maior atenção e testemunhar a beleza estética da escrita, para não perder-nos nem uma pitada de uma das mais belas histórias de amor da literatura portuguesa. Temos de ler os capítulos num fôlego só para perceber o enquadramento da acção e o esmiuçar dos pequenos detalhes pictóricos que fazem desta obra uma leitura obrigatória. Os belos diálogos entre os personagens tem de ser lidos de princípio ao fim, porque parar a meio é perder o fio a meada.
A Blimunda, a nossa heroína anónima, é uma personagem que alberga em si poderes especiais, ela vê as pessoas por dentro. Baltazar Sete Sóis, seu amado, é um aventureiro, vai ajudar a construir o aparelho voador do padre Lourenço, a famosa passarola. O pano de fundo é a construção do Convento de Mafra uma promessa do Senhor El-rei de Portugal, João V, que por obra e graça de Deus lhe concedeu um herdeiro
Talvez a edificação do monumento eclesiástico não seja secundária, na medida em que acompanhamos paralelamente a vida conjugal dos Reis de Portugal que é um complexo processo muito elaborado e bem descrito no primeiro capítulo e a história de amor singela e ao mesmo tempo estranha de Blimunda e Baltazar. Até a escolha dos nomes dos personagens principais é tão inusitada, tão pouco português. Não faz mal, hão-de perdurar pela eternidade. Boa leitura.