Mais um livro surpreendente do escritor angolano, Pepetela.
"O quase fim do mundo" é um romance maravilhoso, carregado de uma ironia refinada e envolto numa narrativa deliciosa que expõem as fragilidades, as incongruências e as virtudes dos seres humanos, independentemente da cor da pele, do estatuto social e capacidade económica. O fio condutor desta história é simples, tal qual o título sugere, o mundo como o conhecemos desaparece e não vou adiantar como, mas o que posso dizer é que ao contrário dos outros livros que descrevem cenários apocaliptícos, ou de guerras, ou de grandes catástrofes naturais, ou ainda de invasões alienígenas para justificar o fim de todos os seres humanos que habitam o planeta, aqui tudo acontece por um único motivo, puro preconceito. Acima de tudo creio que "o quase fim do mundo" é um livro que nos faz pensar, não apenas sobre as questões relacionadas com as diferenças raciais, étnicas, culturais e sociais, mas em particular sobre o valor que dámos as coisas, se quase todos os seres vivos pura e simplesmente se esfumassem, qual seria o verdadeiro valor dos bens materiais para os poucos que ficam? O que seria essêncial e o que passaria a ser supérfulo? O que nos moveria? Trata-se de um exercício literário perturbante no sentido em que se nos colocássemos nessa posição, como reagiríamos, perante a perda total da nossa identidade? Agora, imagine como seria o mundo se tudo permanecesse intacto e só você e um punhado de pessoas sobrevivessem? Bem, o escritor responde, e tudo o que tem de fazer é ler. Boa leitura.