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Uma nova perspectiva da história da madeira

Escrito por 

É a segunda edição mais completa do livro publicado anteriormente pelo advogado e historiador, Rui Nepomuceno.

Porquê a segunda edição deste livro?
Rui Nepomuceno: Porque o primeiro esgotou. Depois continuei a estudar, a ler documentos, a ir aos arquivos e cheguei a conclusão ou que tinha que emendar o primeiro, ou acrescentar muito mais. Então resolvi fazer um livro com o mesmo título, mas uma segunda edição, melhorada e aumentada.

Quanto tempo levou a estudar este tema?
RN: Cerca de vinte anos, porque tive de ver documentos e ler tudo o que se publicou sobre este tema.

A outra versão já é extensa.
RN: Mas, este é ainda mais. Repare a história da Madeira nunca se tinha verdadeiramente contado, porque nas universidades portuguesas não existe. Durante anos fiz fichas exaustivas sobre o tema. No meu tempo não havia computador, portanto fazia tudo à mão. E um dia reparei que tinha doze anos de ficheiros e pensei e se eu morrer? Esta aqui tanto trabalho perdido, então decidi publicar o livro.

Então esta é a versão final?
RN: Sim, agora tenho outro livro para sair.

 

 

Mas, voltando ao mesmo assunto, onde foi fazer a pesquisa, ou consultar esses dados?

RN: Nas actas da Câmara Municipal do Funchal, que tem muita coisa, e também no arquivo regional.

Existem períodos em que esses documentos são escritos por estrangeiros e não apenas portugueses?
RN: De uma forma geral são mais os portugueses. Sobretudo havia muito monografia, muitos assuntos específicos. Uma visão de conjunto não existia. Por exemplo, a ilha já era conhecida por Dom Afonso, em 1366. Já íamos para as Canárias, passavam pela ilha barcos nossos, quando a Coroa portuguesa resolveu vir para à Madeira foi porque perdeu as ilhas Canárias para Castela e a Guiné passou a ser nossa. Passámos a ser fornecedores de cereais, trigo sobretudo, para servir de apoio à expansão, isto já foi em 1418. Então, houve um grande desenvolvimento por causa do trigo, ficava aqui 1/3, o outro era para a Guiné e o resto ia para o Continente, e o que achei espantoso, é que nas primeiras actas da Câmara do Funchal, já eles discutem à saída de sacas para o Norte de África, mas não havia pressão demográfica que justificasse isso, mas em 1489 havia gente a morrer de fome na Madeira. Então o que aconteceu? Houve uma grande produção de trigo, mas também existiu uma enorme reconversão agrária para a cana de açúcar que dava mais dinheiro e já não tínhamos tanto trigo. Não foi a primeira, porque encontro crises de subsistência desde o século XV até os nossos dias. Então fomes porquê? Se ganhávamos dinheiro com a cana de açúcar e podíamos importar? Em primeiro lugar produzíamos trigo para sobrevivência, depois as águas estavam infestadas de corsários que impediam a chegada dos barcos e havia fome para as classes mais pobres. Havia também guerras internacionais e um outro factor a que não se dá muita importância é que o porto do Funchal é do final do século XIX. Antes tudo era desembarcado no calhau, quando havia tempestades do quadrante sul, com grandes ondas, as caravelas tinham que zarpar e por isso, sempre houve crises de subsistência, porque não tínhamos o suficiente para viver. O açúcar que nos deu uma enorme riqueza foi exportado para o Brasil e São Tomé, inclusive as técnicas de produção, e isso ironicamente provocou uma enorme crise económica, porque não conseguíamos competir com esses mercados. E depois viramo-nos para o vinho, o famoso vinho Madeira.

Nesta pesquisa que fez que outras curiosidades encontrou?
RN: Exportámos gente para o Brasil no século XVI, havia zonas desse país chamadas a nova Madeira. E desde sempre tivemos conflitos com o poder central, sempre houve antagonismos desde à colonização.

Mas, porquê logo no inicio da colonização temos conflitos com Lisboa?
RN: O infante dom Henrique queria logo 1/3 do açúcar que se produzia e portanto lutámos um pouco contra isso, passou então a ser 1/5, eram sobretudo questões fiscais.

Era por sermos ilhéus e estarmos longe de tudo?
RN: Não, eram as características de então. Os poderes reais viviam por conta de grandes latifúndios que eram penosos para as regiões e às vezes lutámos contra isso. Agora lutámos contra os impostos e é igual, embora nessa época a luta era maior. No século XV quando os engenhos de cana de açúcar se industrializaram, havia separação de tarefas e os processos deixaram de ser manuais e passaram a ser mecânicos, a Coroa ainda aplicou um imposto maior. Claro, que houve resistência e fizemos quase uma greve e conseguimos ganhar, mas conflitos sempre houve contra o sistema. Já no século XX, antes do 25 de abril, eu e um grupo pequeno de jovens madeirenses tivemos problemas graves com a polícia política, a PIDE, em 1968, porque invocámos a autonomia para a Madeira e também a democracia contra o fascismo, porque dos impostos gerados na região, no tempo de Salazar ficava aqui 1/3 e o resto ia para a continente. Fomos sempre explorados. Quando surge à revolução dos cravos ficou decidido que todos os impostos gerados na ilha ficam aqui, veio também uma tranche do orçamento de estado para as ilhas e depois entrámos na união europeia e chegaram os milhões. Agora, veja a necessidade que os nossos antepassados passaram e porque tiveram de guerrear.

Acha que as jovens gerações conhecem a verdadeira história da ilha da Madeira?
RN: Não conhecem. Nós ganhámos autonomia política e além disto de toda a receita fiscal, temos uma assembleia legislativa que produz leis para a Madeira e ainda um governo regional, isso merecia pelo menos um estudo da história geográfica e económica, mas não há, porquê? Porque os professores não a estudaram, é tão simples quanto isso. Quem da aulas de histórias nas nossas escolas? Pessoas formadas nas universidades de Lisboa, Porto e Coimbra que não tem nos seus programas aulas específicas sobre a história das ilhas. O actual governo não se interessou muito para que haja cultura, porque isso iria provar que quem inventou todo o instrumento autonômico foram os nossos avôs em 1920/25, depois veio Salazar e acabou com as nossas reivindicações. E penso que nunca interessou muito ao poder regional à cultura, porque pessoas incultas não contestam o sistema.

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