É por isso que escolhe os tecidos mais fluidos, delicados e ricos? Já que é uma das características que se pode notar transversalmente em todas as suas colecções.
AB: Eu acho que sei o quer dizer, algo que é calmo, que flui. É a essência da marca, uma recolha. E é verdade que dedico muito tempo à escolha dos tecidos e talvez isso se note na passerelle. Depois consigo harmoniza-los de uma forma que se consegue ver para além deles, vê-se a própria forma. É uma atmosfera, um clima. Acho que isso de facto acontece.
Então para criar uma colecção parte primeiro dos tecidos, ou surge uma ideia e depois é que cria as peças? Como é que funciona o processo criativo?
AB: Não faço sempre da mesma maneira. Por vezes escolho um tema e tento encontrar tecidos que vão de encontro a essa ideia. No entanto, em outras ocasiões, sinto-me um pouco desorientado, porque como gosto muito da matéria-prima acabo por não encontrar tecidos adequados para as formas que recriei. Então acabo por fazer novas pesquisas ou uma transformação pessoal em cada tecido. Lembro-me agora de uma colecção inspirada na pintora Ana Vidigal e como não encontrava os têxteis com que ela faz as suas pinturas, eu tive que recriar em cima de coisas que já existiam. Ou então, já tenho à partida os tecidos e as cores e depois recrio o ambiente a seguir. Há muito das duas versões, não tenho o mesmo padrão de inspiração. Moda é isso. Não podemos estar cingidos ao mesmo, temos de manter a mente aberta. É um processo criativo de que gosto muito, porque estou sempre a crescer e isso é muito bom.
Mas, segue as tendências de alguma forma ou são apenas mais um ponto a acrescentar na colecção?
AB: Eu sigo as tendências no sentido em que quero que as roupas sejam bonitas, esse é outro dos meus objectivos. Eu vou busca-las porque acho que é uma mais-valia para o consumidor final, mas nunca deixo uma tendência demasiado patente. Para mim é muito gratificante saber que as roupas têm conteúdo e há muitas destas linhas de orientação que simplesmente não aprecio. As barrigas a mostra é algo que não consigo colocar nas colecções, ou calças de uma determinada forma, se achar que não se coaduna com a ideia, não uso. Embora reconheça que quando seguimos uma tendência de mais de perto o sucesso é maior, porque há mais peças de vestuário do género no mercado e o público está mais receptivo. É um bocadinho sigo e não sigo! (risos)
Faz alguma distinção entre a colecção que cria para o mercado nacional e a que idealiza para os clientes internacionais?
AB: Não, eu acho que a mulher portuguesa é mais conhecedora do universo inteiro de moda e hoje em dia não faço essa distinção. A moda é mais universal. Faço as peças orientadas para a marca Anabela Baldaque, do que para um país.
Em relação a sua passagem pelo Portugal Fashion foi importante e continua a ser ter essa janela para o exterior?
AB: Sim, foi e é. Chegámos mais longe a um público maior e falo da roupa de autor. As colecções vão para uma loja própria onde estão acessíveis ao público em geral. Ter uma passerelle onde estão presentes os jornalistas, os clientes mais importantes, as pessoas que estão a aprender, é um leque vasto de audiência que está disponível para ver se a nossa mensagem chegou. É recíproco a todos os níveis, quer da roupa que fala connosco, quer das pessoas que estão nos desfiles a verem. O que nos dizem a seguir é importante para termos em conta na colecção seguinte e por isso, é muito importante estar na passerelle. Como faço isto há muito tempo, com as colecções de primavera-verão e outono-inverno, isto orienta-me de muitas formas e é um foco em cima de nós, o que é muito bom.
Falando da próxima colecção outono-inverno 2013/14 que vai apresentar, qual foi o tema que a inspirou?
AB: O tema é "E fez-se luz ". É o título da colecção, isto porque tem baços e brilhantes, tem uma atmosfera de cores diferentes do que costumo utilizar, mas não posso adiantar muito mais, porque vai ser apresentada depois no dia 20 de Março. Acho que é são peças muito bonitas, é uma colecção muito feliz, mas ainda estou no processo de testes, que é algo que faço constantemente e de repente posso mudar tudo.
Mas, "E fez-se luz" é um degradé de cores claras, ou pelo contrário mais escuras?
AB: São cores claras, é muito raro recorrer a um preto, mas por exemplo, tenho peças em azul Tiffany com bordeaux, verdes águas com amarelos, que normalmente são tons que as pessoas não conjugam. É uma outra abordagem, respira juventude, há muita energia, porque é muito cintilante, já que é pontuada com brilhantes. Eu acho que vai ser uma surpresa.
Vamos falar da colecção primavera-verão 2013 que já foi apresentada e esta nas lojas, qual foi o tema foco para esta estação?
AB: O tema foco é uma espécie de manifesto, "a vida outra vez, se faz favor" foi a minha maneira de expressar. Em termos têxteis conjuguei todos os tecidos e teve muitos estampados com pormenores pequenos e grandes e muita alegria. Para além de ser ter reflectido na passerelle, temos muitas pessoas na loja e isso se deve as cores mais claras que transmite muito positivismo.
Desta colecção houve uma peça em particular que se destacou perante as restantes?
AB: Um casaco de trespasse azul que abriu a colecção e esteve em muitas revistas, mas nem foi pela publicidade, o que aconteceu é que as clientes gostaram dessa peça de vestuário na loja e o que hei-de dizer? É bonito, gosto muito dele. Eu quando o idealizei nunca pensei que teria tanto sucesso. Não tive essa consciência! (risos).





