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As ecléticas

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Diana Coelho é uma jovem designer de jóias que nasceu em Lisboa, mudou-se para a Inglaterra, quando tinha 21 anos, onde concluiu um Master of Arts na Universidade Metropolitana de Londres. Fundou a sua marca em 2010, um conceito de design de joalharia contemporânea urbana, funky e moderna, que continua a desenvolver novos conceitos. Actualmente reside na Índia onde lecciona numa escola de design.

Gostava que me falasses do teu percurso, como é que uma lisboeta tira o curso em Londres e acaba na Índia?                         Diana Coelho: É verdade vivi em Lisboa, estive no secundário no agrupamento de artes, sempre tive desde pequena um gosto pelos trabalhos manuais e achei que esse seria o meu caminho profissional. Acabei por optar por arquitectura, mas não o acabei, fiz apenas dois anos, porque na altura tinha uma ideia diferente do curso, afinal era muito técnico e achei que não o queria ser arquitecta em termos de futuro. Decidi arriscar em joalharia, acabei por fazer uma formação técnica em que trabalhava com ouro e prata. Londres aparece depois, ainda cheguei a inscrever-me num escola em Portugal, mas o meu pai sugeriu-me fazer o curso nesta cidade inglesa ao mesmo tempo que aprendia inglês. Arrisquei e fui à aventura, foi uma mudança total da minha vida, estava habituada à minha zona de conforto e Londres é um mundo completamente diferente. Quando terminei o curso voltei para Lisboa, por saudades da família e trabalhei como designer de jóias durante quatro anos, fazia as minhas próprias peças e criava para várias empresas portuguesas. A crise acabou por mudar um pouco os meus planos e achei que valia a pena continuar a crescer profissionalmente fora de Portugal. Sempre apostei em ambientes internacionais e surgiu esta oportunidade na Índia. Estou a trabalhar para uma corporação privada em Singapura, que tem escolas de design pela Ásia.

Mas, ensinas apenas?

DC: Sou professora de design e joalharia e na parte da técnica ensino os alunos a trabalhar metais ou outros materiais, há um ano e um mês e tem sido muito bom.

Como tem sido essa experiência até agora?
DC: Tem sido um grande desafio, tem corrido bem, ao princípio tinha um certo receio por ser uma cultura tão diferente e encontrei alguns obstáculos, há muito caos, é um país com muita gente, a comida é diferente, mas é uma aventura. Eu gosto, por isso, tem sido um crescimento pessoal e profissional muito bom, é enriquecedor estar numa cultura tão díspar, acho que todas as pessoas deviam vir à Índia. Mesmo aquelas que dizem que nunca viriam até este país, nem que seja para aprenderem a valorizar o que tem, temos tanta sorte comparando com o indianos, aqui o contraste é muito grande, são mesmos muito pobres e fazem com tudo com uma maior leveza na vida.

Em termos de joalharia propriamente dita, continuas a criar colecções?                                                                                             DC: Obviamente que o meu tempo é mais limitado, devido ao ensino. Em termos do meu trabalho pessoal eu não digo que ficou de parte, eu sempre vivi da minha marca própria enquanto estava aliada a outros projectos. Em termos das minhas jóias, desde que vim para à Índia tenho tido muitas ideias que nunca teria se estivesse em Portugal, mesmo em termos de materiais. Por isso, não o vejo como algo que me prejudicou, mas sim como um complemento daquilo que sou enquanto designer, estar em contacto com os alunos, não é só a ensinar, mas também a aceitar as suas ideias e visões, mesmo que tenham menos experiência. A joalharia indiana é muito importante em termos culturais, mais nos casamentos. Mas, também na maneira como vêem a vida, são os maiores consumidores de ouro do mundo. A minha visão pessoal da joalharia acaba por ser muito diferente e isso acaba por adicionar uma outra perspectiva que não teria antes. Na Europa é mais um conceito de design, as jóias são mais contemporâneas. Aqui tem a ver mais com rituais simbólicos ligados a família, dar a uma noiva jóias em ouro é quase se fosse um dote e isso tudo inspira-me, dá ideias e acaba por ser uma mais-valia para aquilo que sou enquanto designer.

 

 

Então fala-me sobre essa nova fase em termos de materiais, quais os que usas actualmente nas tuas jóias?
DC: Os materiais tem muito a ver com as experiêncas que faço com os alunos, por exemplo, tenho uma coleccção que criei com cola quente, que em reacção com a água parece plástico, fica rija, é algo que nunca tinha experimentado e tem corrido bem. O desafio de experimentar com outras pessoas acaba por ser positivo, do que se estivesse só no meu espaço, sozinha não correria esse risco. Tenho outra colecção em madeira inspirada nos carimbos que os indianos usam para estampar tecidos. Todas estas coisas acabam por inspirar a minha criatividade, acabo por utilizar outras técnicas e explorar diferentes materiais. Uma das coisas que gosto da minha profissão, enquanto joalheira, é essa experimentação e que foge um pouco das técnicas tradicionais.

Então como definirias actualmente o estilo de Joana Coelho?
DC:Acho que é um estilo muito eclético, noto que em vez de encontrar um estilo único, que é o que muitos designers fazem e seguem sempre essa linha, eu não me consigo definir ainda dessa forma, eu prefiro explorar e experimentar. É por isso que faço colecções limitadas com peças únicas, são para um tipo de cliente que gosta de coisas diferentes e de explorar o seu próprio estilo. Como designer gosto dessa possibilidade, não só de trabalhar manualmente, sou que faço as jóias toda manualmente, mas o não estar restricta. Quando trabalhava como designer para outras empresas, tinha que seguir as directivas que regem a marca, que a fazem conhecida e eu quero que o meu trabalho seja reconhecido por ser diferente ter peças únicas que transmitem irreverência, algo único e exclusivo. Não tem de ser com materiais caro, embora goste muito de prata que é um material que aprecio muito trabalhar, mas neste momento o desafio é usar materiais que não sejam preciosos.

Também reparei que já não usas ouro.
DC:Não uso ouro, porque acho que faz mais sentido para aquilo que quero fazer e ando sempre a procura de pedras e missangas. Tem tudo a ver com aquilo que sou enquanto designer. Não sinto necessidade em criar colecções de materiais preciosos, não faz parte dos meus planos nos próximos tempos, mas talvez no futuro, na Índia materiais como o ouro são mais comercializados, mas ao mesmo tempo tem um mercado para a joalharia contemporânea diferente. A sociedade indiana esta a desenvolver-se imenso, é um país que esta a crescer e que estão mais abertos as novas tendências não só não moda, por isso, não me sinto pressionada a usar só o ouro.

Então, como é que as indianas olham para o design contemporâneo de jóias?
DC:Acho que é o que acontece em outros sítios, embora menos, em Portugal há muita mais aceitação, cá é um nicho de mercados. As peças tem de estar nos sítios onde se pode encontrar esse tipo de clientes, não é tanto um mercado, porque aqui não existe esse conceito, mas em boutiques, exposições, semanas da moda. Não é um trabalho para toda a gente, não algo que se possa produzir em grandes quantidades, são peças para um grupo de pessoas que tem esse interesse, mas tenho consciência que as minhas peças não são para serem produzidas massivamente. São jóias exclusivas e quem quer é porque gosta e tem vontade de usar. São peças que não se vêem em todas as lojas, é isso que gosto e pretendo do meu trabalho, é um caminho que escolhi. O meu site acaba por ser uma janela para a mundo, porque tenho clientes de vários países que me contactam e é assim que tenho conseguido manter o meu trabalho.

Fala-me o que será a marca, a tua visão, para os próximos anos?
DC:Eu não defini um plano, mas o meu objectivo é criar mais parcerias. Gostava muito de trabalhar com estilistas, apreciava esse desafio, conciliar as minhas jóias com uma colecção de moda, seja com um estilista português ou não. Outro projecto que tenho em mente, é criar acessórios, malas e lenços, queria abranger as minhas colecções com esse tipo de peças, que algo que quero fazer nos próximos tempos.

Mas, cá em Portugal?
DC: Não sei ainda quando voltarei Portugal, mas será onde estiver, quer seja na minha loja online, na Índia ou em outro país. Eu gosto do elemento global, obviamente que tenho uma ligação com o meu país, mas o objectivo é continuar a desenvolver o meu trabalho.

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