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Neando pelo mundo

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É uma pequena empresa de calçado vegan, de origem portuguesa, que procura estimular não só a utilização de materiais alternativos na confeção dos sapatos, como também fomenta uma produção ética das suas coleções, é uma forma de consciencialização ecológica e social, uma filosofia de vida sustentável em prol dos seus pés e do planeta.

Como é que surge o projecto da Nae?
Paula Pérez: O projecto surgiu em 2008 em primeiro lugar apareceu por causa da minha filosofia de vida, sou vegan, não consumo qualquer produto de origem animal. Por outro lado, estamos num país produtor de calçado e eu tinha essa necessidade em termos de sapatos, então decidi testar essa minha veia empreendedora dígamos assim.


Outro dos motivos prende-se com a escassez de opções ou nenhumas no mercado nacional?
PP: Sim, quando analisava as marcas que não usavam pele na sua produção de calçado ia sempre parar à China, que é feita com pouca qualidade e nós sabemos os princípios que as regem em termos da própria produção. De facto, não havia uma resposta por parte do mercado para sapatos vegan em 2008.


Fale-me então das colecções, se não utiliza peles, então que tipo de materiais usam para a produção do calçado?
PP: Nós utilizámos sobretudo dois tipos de materiais, um, são microfibras sintéticas têxteis, são muito resistentes e são produzidos com base em processos ecológicos, portanto, não passam pelo processo de curtume e tratamento da pele que é muito poluente. Depois, temos a cortiça que no fundo é um material natural que provém do sobreiro e que é tratado no sentido de ser cortado, adaptado e transformado como se trata-se de uma "pele" sintética.

Então como fez a pesquisa de mercado para encontrar essas fibras sintéticas? Foi um processo difícil? Existe este tipo de produto em Portugal?
PP: Foi um bocadinho difícil, porque tivemos de recorrer a produtos vindos de fora. Todos os nossos sapatos são feitos em Portugal, mas existem alguns componentes, e são vários, por exemplo, o material do corte, da sola, teve de vir maioritariamente da Itália, ou Alemanha que são os dois países que nos fornecem materiais com qualidade igual ou superior da pele e que permitem fazer a sua substituição.

Qual foi a primeira peça que desenhou para a Nae e porquê?
PP: Nós estávamos à procura de uma linha básica, calçado de salto raso que pudesse dar resposta as necessidades mais básicas das pessoas. De ter um sapato normalíssimo e então a ideia da colecção andou em torno desse tipo de sapatos com sola de borracha com microfibra preta.


Sim, mas verifiquei que se trata de uma colecção robusta, há botins e sapatos com salto.
PP: Sim, exactamente. Isso foi em 2008. Depois começámos a desenvolver outro tipo de calçado que pudesse responder a outras necessidades, para pessoas que gostassem de calçar um sapato para poder ir trabalhar e começámos a desenhar calçado mais clássico e mais casual. Portanto, somos bastante heterogéneos na linha, não seguimos apenas um estilo de sapatos baixos, tentámos ir até todos os segmentos para responder as necessidades das pessoas, porque nem todas gostam de saltos rasos.

Essa necessidade de fomentar vários segmentos surge a pedido dos clientes, ou são vocês que entendem que é essa a evolução natural da marca?
PP: Nós achámos que as pessoas vegan, ou ecológicas não tem de ser propriamente hippies, também gostam de sapatos mais clássicos. Olho para mim que gosto de calçar sapatos altos e não tinha nada, não gostava de calçado muito baixo, mas tinha de ser vegan, tinham de respeitar alguns princípios de ecologia e que fossem produzidos em Portugal. Achámos que a evolução natural da sociedade passa pela consciencialização ambiental e queremos responder a todos os tipos de mercado.


Então que são as mulheres Nae? Para além de serem vegan o que procuram nos seus sapatos?
PP: Elas têm sobretudo uma preocupação ambiental e social, para além de serem vegan. Por norma, as pessoas recorrem ao calçado da China, que é produzido com base na exploração infantil, de mulheres, enfim, exploração humana em geral. Esse target de pessoas rejeita claramente isso. Prefere comprar menos e mais caro, mas pelo menos sabem o que estão a comprar. Acho que cada vez há uma maior preocupação por parte das pessoas em saber o que está por detrás do produto que estão a adquirir.

Podem não ser necessariamente todas vegan?
PP: Sim, até porque nós agora estamos a apostar num estilo com maior design e as pessoas podem comprar por causa desse factor e não por ser vegan.


Quando lançou a sua primeira colecção foi difícil inseri-la no mercado ou nem por isso?
PP: Nós começámos por inicialmente lançar-nos online para saber qual era a receptividade a marca e nas redes sociais, porque não tínhamos loja, nem qualquer força industrial por detrás. E verificámos que a aceitação veio em primeiro lugar da Alemanha, que é um país que esta mais á frente em termos de consciência ambiental e mesmo nessa questão do ambientalismo são muito avançados. São pessoas que rejeitam determinados tipo de processo de compra. E começámos à apercebermos do interesse por parte dos Alemães e da Itália que foi outro dos países interessados em encomendar os nossos sapatos. E em 2009 surgiram as lojas ecológicas interessadas em comercializar calçado vegan.

Fora de Portugal?
PP: Sim, a aceitação foi fora da Portugal.

E no território nacional foi um percurso mais lento pelo que me dá a entender.
PP: Sim, foi bastante lento. Practicamente não estamos presentes no nosso país. Há dois motivos, um é que não existe ainda uma grande consciência ambiental, em termos materiais não é um nicho de mercado. Aqueles que necessitam vão comprando online, porque nos temos a loja virtual e vendemos bastante para Portugal, mas não justifica ter uma loja. Por outro lado, nós não temos lojas vegetarianas em Portugal, ao contrário de outros países, como Espanha, Alemanha, Itália e França. Então a abordagem passava pelas lojas multimarcas, mas muitas delas estão com dificuldades financeiras e o facto da economia estar retraída não esta a ajudar muito para que consigamos penetrar no mercado, porque as pessoas procuram sempre o que é mais barato.


Qual é o próximo passo para a Nae?
PP: Estamos a trabalhar em duas frentes. Uma é aprofundar a nossa penetração no mercado europeu, porque temos muito por fazer e há muita receptividade do nosso calçado. Estamos a pensar em dar melhores preços as lojas de marcas, para poderem ter uma boa margem de lucro e pretendemos agora trabalhar em volume e escala para entrar com mais força no mercado. Por outro lado, estamos a fazer os primeiros contactos para fora da União Europeia, nomeadamente, na Austrália e a China, já temos um distribuidor de Hong Kong que nos contactou no sentido de distribuir á Nae nesses países e vamos ver como esta abordagem vai correr.


Em termos das colecções que tipos de inovações pensam introduzir no futuro?
PP: Queremos seguir a linha do que temos estado a fazer até agora, apostar cada vez em materiais ecológicos, por exemplo, nas solas de madeira. Arriscar no cânhamo que é um material natural, resistente, pouco explorado no bom sentido e desenvolvido para o mercado do calçado. Abordar novos materiais, como a fibra de coco e algodões biológicos, já que, trabalhámos muito em torno dos materiais, porque são a nossa base em termos de calçado vegan. E depois o design que para nós é muito importante, pretendemos desenvolver protocolos com algumas escolas em Portugal, vamos ver o que é que dá.

 

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