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O arrancar páginas

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Trata-se de uma restrospectiva crítica sobre as publicações dedicadas a moda.

Sou fã de revistas de moda desde a minha adolescência, ainda hoje há duas publicações que compro religiosamente todos os meses só para ler os artigos, ver as tendências e admirar as fotografias das campanhas publicitárias. Leio e folheio tudo mais do que uma vez por mero prazer, mas como leitora atenta não pude deixar de notar algo ao longo do tempo que o número de páginas para a publicidade aumentou exponencialmente em detrimento das reportagens interessantes que abordavam várias temáticas ligadas ao universo feminino em todas suas vertentes. Estou a falar disto porquê? Recentemente vi um vídeo que criticava precisamente as revistas de moda pelo perpetuar não só dos modelos corporais impossíveis de atingir para a grande parte das suas leitoras e que potenciam a baixa auto-estima das mulheres em geral, mas também como as revistas ao longo do tempo se transformaram em meros catálogos de vendas de luxo, porque ao arrancar as imagens de publicidade, restavam apenas algumas páginas de conteúdo jornalístico. Não pude deixar de concordar com todos os argumentos desta exposição, que aliás, também defendo veemente, e um dos que mais me toca, se calhar pelo aspecto profissional, foi o lento desaparecimento dos artigos de teor informativo substituídos por pseudo-entrevistas as atrizes internacionais e nacionais que afinal não passam de manobras publicitárias, onde “casualmente” se aborda um produto, ou marca que utilizam no seu dia-a-dia e que ocupam no mínimo três a quatro páginas. Não tenho nada contra a publicidade, garanto, também gosto de folhear as imagens sofisticadas de malas, sapatos, roupas e perfumes, é um fraquinho que eu tenho, mas não posso deixar de lamentar que o evoluir visual das campanhas não seja acompanhado por grandes reportagens com informação importante e pertinente e muitas das vezes nada glamorosa. Fico triste com esta realidade que já venho notando há vários anos, porque se fizermos este mesmo exercício de arrancar as páginas publicitárias de uma revista de moda nacional muito conhecida, por exemplo, no início do anos noventa e fizermos o mesmo na sua última edição, o resultado é demolidor.
Actualmente há uma clara diminuição dos artigos de teor informativo e a publicidade, camuflada ou não, domina o espaço da publicação quase por completo. Um dos principais motivos, ao meu ver, porque isto tudo acontece é por causa do aglomerar de vários meios de comunição social num único grupo económico, dou-vos um exemplo que veriquei sobre uma entrevista da Meryl Streep, li o mesmíssimo texto ilustrado por fotos diferentes e com a ordem das perguntas alteradas em diferentes publicações do mesmo grupo, porquê? Porque ajuda a reduzir custos em termos de pessoal, pesquisa de conteúdos e potenciais deslocações, por isso, é mais fácil para uma empresa comprar de agências noticiosas internacionais um determinado número de textos que são iguais para todo o mundo, do que ter um grupo de profissionais credenciados a produzi-los localmente, o que em termos economicistas acaba por maximar as receitas de venda de espaço publicitário não só pelo maior número de páginas numa só revista, como pelas restantes publicações que pertencem ao grupo empresarial, gerando assim mais lucro.

Eu vou ser franca, eu gosto de revistas de moda, gosto de folhear publicidade e quero continuar a consumi-las, mas não deixa de ser lamentável, que sejámos vistas pelos agentes económicos como meras consumidoras fúteis que carecem de ser devidamente apreciadas e informadas. E sabem o que mais me irrita nisto tudo? É que as redacções e as chefias nestas publicações são, por norma, constituidas por mulheres como nós e o que ganhámos com isso? Nada, pelos vistos, a estupidificação massificada é mais lucrativa do que conteúdos mais informativos e socialmente, etnicamente e até corporalmente mais apropriados. Tenho mesmo que deixar de comprar revistas de moda que perpetuem estes modelos...

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