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O meu armário

Escrito por 

O vestuário assim como o ser humano evolui. Nos nossos dias é um código para as novas tribos

Desde os primórdios da humanidade, que o ser humano sentiu necessidade de cobrir-se, por motivos que não vale a pena estar a discorrer, e inteligentemente usou essa indispensabilidade para distinguir-se mesmo entre os seus pares. E neste ponto ainda não falamos de moda, mas de estatuto. O homem primitivo procurou evidenciar as suas capacidades de macho alfa através do vestuário, digamos que era um código não verbal do sucesso de determinado membro da espécie, numa era em que a fala não era primordial. Recordem-se que os homens das cavernas usavam peles, mas o melhor caçador evidenciava-se quando usava pelos de ursos ou outros felinos. E o sucesso da sua procriação dependia dessa capacidade de se exibir.

Ao longo dos séculos, a humanidade dividiu-se por extractos sociais que se diferenciavam pela riqueza dos seus tecidos e jóias, ou no plano oposto pela pobreza e crueza do vestuário usado. Marco Polo, Vasco da Gama e Cristóvão Colombo são alguns desses aventureiros que trouxeram consigo, maravilhas de outros mundos, que eram usados pelos poderosos como troféus para reforçar o seu capital político e poderio económico. Quem já não viu quadros e retratos famosos de Reis e Rainhas adornados de ouro e pedras preciosas e sedas luxuosas com bordados intricados?

No século vinte, o vestuário começa a ganhar a importância que lhe conhecemos e aí sim podemos falar em moda. Neste campo, são as mulheres que tem uma palavra a dizer. Foram sempre elas que estimularam o comércio, de uma forma indirecta, pela necessidade de acederem a tecidos, a materiais que as distinguissem uma das outras. Houve já também nessa altura, a urgência de criar um código de vestuário que era reservado apenas a alguns eleitos, os mais ricos, as elites. Surge então, a classe média com um vestuário que reflecte o seu sucesso. Recordam-se dos anos 80, os yuppies? Os rapazes da bolsa, com os seus chumaços, seus Ferraris e fatos Armani? Quem melhor do que eles transmitiram uma imagem de sucesso de uma década próspera e rica, de uma juventude que vencia não pelo trabalho braçal, mas sim pela sua argúcia e inteligência.

E eis-nos chegados ao século vinte e um, será que como no passado, podemos avaliar o sucesso, o estatuto de alguém pela roupa que vestem? Não me parece. Pensem, se no passado, a roupa era uma forma não verbal de acedermos a uma série de informações sobre um determinado indivíduo, na actualidade essa fronteira é muito difusa. Então vejamos, olhando para a imagem de Steve Jobs, um dos sócios fundadores da Apple que, foi considerado o patrão da década pela revista Fortune, podemos só ao olhar para a sua camisola de gola alta preta, os seus jeans e os ténis dizer que se trata de um dos homens mais influentes do planeta? Claro que não. Depois há aqueles que pela foto, como se costuma dizer, fazem de tudo. Vivem de falsas aparências, vestem tudo emprestado, comem nos eventos para que são convidados, pois vêem-se a verificar que não tem onde cair mortos. Então qual o papel do vestuário neste momento? Serviu para propagar a espécie, para demonstrar estatuto social e político e para marcar a emergência de uma nova classe social. Pensem? Não é com certeza apenas para cobrir-nos, tendo em conta que até o próprio conceito de moda mudou, os grandes costureiros morreram e com eles uma era de luxo exclusivo, agora, até Karl Lagerfeld desenha colecções para grandes cadeias de roupa.

O vestuário tem neste momento para mim, um papel menos óbvio e mais democrático se é que o podemos dizer, serve para diferenciar as diversas tribos humanas do mundo global, que nada tem a ver com o estrato social, riqueza ou sucesso. Tu és o que veste e isso é o reflexo do grupo onde te inseres. E para o efeito vou nomear só algumas.

Os rastas, são uma das tribos mais emergentes porque reflectem uma forma de vida, mais ecológica, pelo respeito pela natureza, pelos princípios vegetarianos e uma certa forma de estar muito Zen. As suas roupas são feitas de matérias-primas biológicas e de certa forma rudimentares. Se tocarem algum desses tecidos sentem a sua crueza, já que são feitos de forma artesanal. São os tais que defendem a legalização da cannabis e tratam bem os seus animais.

Temos os fashionistas, são o grupo que suspira pelas malas Birkin e pelos sapatos Miguel Vieira, são pessoas com alguma capacidade financeira e que “vivem” para as marcas.  Vestem-se e agem de acordo com as tendências, alguns são tão excessivos que se tornam ridículos.

As patricinhas e os Maurícios, são o equivalente aos queques da minha altura, os miúdos de bem, tá a ver? Todos com aquele look muito clean e que ficam horrorizados perante a forma de vestir dos restantes grupos.

Os cromos tecnológicos, são os que se seguem, já falei de Steve Jobs, mas qual é a primeira imagem que vós vêm à memória? É essa mesmo. O tipo dos óculos, com a camisa aos quadrados, o bolso superior cheio de canetas e calças de ganga, quando não são de vinco passadas pela mãe.

Os “gunas”, são o reflexo do mundo do futebol e para isso remeto a imagem de Cristiano Ronaldo, o expoente máximo para esta tribo. São os rapazes dos bairros sociais, que vestem calças de ganga rotas com t-shirt garridas e justas, a boina e o brinco de zircónio na orelha, porque diamantes só mesmo para os que podem e as famosas sapatilhas adidas contrafaccionadas.

Temos os emos, esses também não são muito difíceis de distinguir, minimalistas nas cores, quase sempre preto, e as t-shirts com heróis da DC Comics e os famosos ténis allstars. As raparigas usam apontamentos de cor e as também não menos famosas Docs Martins e ainda, usam design vanguardista. São muito etro, usam as malas que tiram dos armários das mães. Muito cool com uma mistura de rock punk, mas com lema do peace and love.

E tu onde te inseres?

www.sobretribos.blogspot.com/

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