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O erudito da guitarra

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Pedro Jóia possui um vasto currículo como intérprete e compositor da guitarra clássica e já tocou com grandes nomes da música portuguesa, espanhola e brasileira. Em 2001 lançou um álbum intitulado "variações sobre Carlos Paredes" e seis anos depois editou o seu último disco, "à espera de Armandinho", dois projectos musicais que se debruçaram sobre os dois maiores nomes da guitarra portuguesa do século XX.

Os seus primeiros projectos discográficos assentam sobre o flamengo. Em que é que este estilo musical influencia o seu percurso como músico?
Pedro Jóia: Eu comecei a estudar guitarra clássica quando era miúdo, desde os sete até o quinze anos de idade, aprendi a técnica e nessa fase descobri a música flamenga, através de um disco de Paco de Lucia. Apercebi-me que guitarra tinha uma dimensão diferente, comecei a apaixonar-me, a interessar-me e foi até Espanha para estudar este estilo musical, isso fez parte da minha formação enquanto guitarrista, é uma linguagem muito forte para mim.

Mas é muito diferente da guitarra portuguesa?
PJ: É completamente diferente. Absolutamente. O que se passa é que ao longo destes anos tentei fazer uma fusão entre estas duas linguagens. Transportar o fado para a minha guitarra que por si estava influênciada pelo flamengo.

Foi uma mistura que mostrou no disco dedicado ao Armandinho.
PJ: Na verdade fiz dois álbuns temáticos sobre a guitarra portuguesa, um sobre Carlos Paredes chamado "variações", de 2001 e outro sobre o Armandinho.

Vamos falar sobre esse trabalho discográfico, porquê abordar o trabalho de Carlos Paredes?
PJ: Desde logo porque o foi um dos grandes guitarristas da segunda metade do século vinte. O Carlos Paredes tive a oportunidade de conhece-lo pessoalmente, vi-o até mais ou menos bem, conversei e até fiz uma primeira parte de um dos seus concertos. Era um homem que admirava muito. Mais tarde, abordei outro mestre, da primeira metade do século vinte, o Armandinho, que obviamente não o conheci porque era um guitarrista mais antigo e morreu em 1945, mas dígamos que era o outro lado que faltava à guitarra portuguesa.

 

 

Foi difícil tocar com uma das suas referências musicais, o Carlos Paredes?
PJ: Sim, eu na altura tinha 21 anos e já o conhecia através dos meus pais que tocavam Carlos Paredes, para mim era um figura mítica, mas claro, ainda o apanhei com saúde, porque adoeceu dois anos depois e foi um orgulho imenso conhece-lo e sobretudo tocar com ele.

Não era um ídolo com pés de barro?
PJ: O Carlos Paredes? Não de todo. Ele é um grande vulto da música portuguesa.

Em que o Armandinho e o Carlos Paredes se distanciam e se aproximam?
PJ: Paredes é o estilo Coimbra e Armandinho é fado de Lisboa, as linguagens são muito diferentes e inclusivamente a forma de tocar é muito oposta. Apesar de usarem o mesmo instrumento.

Qual foi o maior desafio em tocar os dois? Foi mais difícil um do que outro ou não?
PJ: Dígamos que a música do Carlos Paredes é mais universal, mais fácil de adoptar como música de instrumento em oposição ao Armandinho, que é muito específico. Tive que penar muito e dissecar muito a música dele para conseguir transportá-la com honestidade para o meu instrumento.

É mais metódico?
PJ: É muito específico, muito diferente.

Acha que o Armandinho é um vulto esquecido da guitarra portuguesa e do fado, por isso, fez este disco?
PJ: Tal acontece porque o Paredes é nosso contemporâneo e o Armandinho não. Ouve-se falar nele nos guitarristas lisboetas que o tem muito presente.

E fora da capital?
PJ: Fora de Lisboa, não, porque o Armandinho é um compositor muito restricto à linguagem do fado de Lisboa.

Decidiu contudo fazer uma fusão de estilos, acha que é esse o caminho para a guitarra portuguesa?
PJ: É, acho que sim, para mim é um grande desafio. É também uma missão divulgar a música dos guitarristas portugueses e faze-lo com o meu instrumento que é universal, que é a guitarra clássica.

Acha que transformar o fado em música património da humanidade é importante ou não para a guitarra portuguesa?
PJ: É importante, mas não é po isso que o fado é mais ouvido ou respeitado, é apenas uma formalidade. As pessoas que não gostam de fado não vão passar a apreciar porque é património da Unesco, muitos nem sabem o que é isso. Mas, é reconhecido o que é importante.

E a guitarra portuguesa continua a estar no coração do portugueses?
PJ: Eu espero que sim, tenho muitas dúvidas, porque há imensa gente jovem que não a conhece. Mas, ao mesmo tempo existem muitos novos guitarristas o que é um bom indício.

Acha que há um futuro risonho?
PJ: Acho que sim, há muita gente a tocar guitarra.

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