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O filho da mãe

Escrito por 

Rui Carvalho é um guitarrista exímio que trocou de certa forma o rock pela doçura da guitarra clássica. Uma sonoridade que vai construindo de forma intuitiva e que desemboca em ritmos que descrevem uma viagem, mais frenética, mais intensa, mais calma, ou mais segura, mas de certa forma sempre imprevisível.

"Filho da mãe" tem uma conotação negativa, mas ouvindo a tua música não tem nada a ver.
Rui Carvalho: Essa é logo a primeira razão, coisas que nada tem a ver agradam-me, o que eu gosto sinceramente no nome é que passa uma ideia de dualidade, a maior parte das pessoas tem a ideia que é uma coisa má, mas há outra leitura da palavra, ainda mais se formos para o Brasil, em que existem milhares de páginas de facebook, vim eu a descobrir mais tarde, com filhos das mães que é basicamente uma página feita pelas mães com as imagens das crianças, dos bebes, é uma coisa querida. Acho que em Portugal existe isso um bocadinho do filho da mãe que é amigo, que não é ofensivo e eu gosto disso, no fundo que é agressivo, mas não é nada. Quem surgiu o nome foi a Cláudia, a minha mulher, ela deu a ideia e eu apropriei-me dela.

Em termos de composição dos temas, existem vários tipos de sonoridades, quando compões pensas só em termos desses sons, ou pensas apenas na guitarra?
RC: Eu toco guitarra clássica, toquei guitarra portuguesa, depois passei para a eléctrica e importei coisas da guitarra clássica, para a portuguesa e para a elétrica. Agora quando decidi voltar as origens, decidi lançar-me a solo, importei tudo o que tinha aprendido antes. Do ponto de vista da sonoridade deixo que as coisas fluam, não penso muito nisso e não tenho medo absolutamente nenhum. O que pensei para segundo álbum é: eu já estive aqui e agora quero tentar fazer alguma coisa diferente.


Falando do Palácio, o primeiro álbum, porque escolhestes a guitarra clássica?
RC: Não sei, não faço a menor ideia. É uma má escolha em muitos sentidos.

Porquê?
RC: Porque é uma guitarra com sons muito difíceis, para quem gosta de rock e este habituado a certo tipo de frequências elas não estão lá, é algo que se tem de tocar com alguma doçura e muita técnica, coisas que não tenho. Peguei na guitarra clássica, porque me era familiar. Foi assim que começou tudo. Gosto da ideia de tocar rock de uma maneira mais compassada, mais nervosa, tocar normalmente como algo que é visto como um instrumento muito controlado.

 

Então com um certo distanciamento como olhas para este primeiro trabalho?
RC: Passei pelas fases todas. Tive vergonha, achei-o insuportável, adorei-o, ouvi-o apenas duas ou três vezes, não sou uma pessoa que gosto de ouvir o que faço, faz-me confusão e embirrava com tudo. Agora, quando gravei o segundo olhei-o com todo respeito do mundo pensei que o álbum era bom. Gosto de o ouvir. Foi um disco mais à flor da pele, por outro lado, não foi pensado como álbum, comecei a tocar guitarra clássica e todos esses momentos foi apanhando-os e coloquei-os depois e mais 4 músicas, mas havia temas que já andava a tocar a quase um ano, foi sendo construindo aos poucos. Agora quando olho para atrás acho que resultou muito bem e identifica dois anos da minha vida, que já não faz sentido. Gosto de as tocar ao vivo, mas queria algo diferente.

 


Então o que mudou desta vez?
RC: Eu não sei ainda o que fiz, já ouvi algumas coisas, já o ouvi duas vezes, mas não tem muita coisa pronta, não tem masterização, mas aquilo que sinto que fiz um álbum viajante, mais fácil de ouvir, não há tanta coisa a ser dita ao mesmo tempo. Uma coisa que acho do "palácio" é que era algo eléctrico, nervoso, intenso e ansioso, não é apenas a minha leitura, é também de outras pessoas. Este novo trabalho é óptimo para uma viagem de comboio, por exemplo, as coisas conjugam-se umas com as outras, acho que é diferente por causa disso. Tem um não sei que de banda sonora. É mais contemplativo.

Neste trabalho discográfico usas novamente apenas a guitarra clássica?
RC: Levei montes de guitarras e só gravei com uma. É só guitarra clássica também.

Uma curiosidade partes muitas guitarras?
RC: Não, só parti esta e parti outra do meu pai quando era miúdo.

Mas, porquê?
RC: Porque eu me zango quando as pessoas começam a falar e bato e grito com a guitarra e elas calam-se o resto do concerto. Eu não faço muitas vezes isso, mas funciona. O que gosto é de tocar ao vivo, eu não sou um técnico exímio, nem nunca o hei-de ser na vida, nunca toquei perfeito. Gosto da emoção e projecta-la para as pessoas. Às vezes funciona, outras vezes não. E então é por aí, começo a sentir uma raiva e quem paga é a guitarra. Mas, para a próxima que vou comprar não vai acontecer isso. (risos)

Tens já um nome para este novo álbum?
RC: Tenho chama-se "cabeça".

Porquê?
RC: Porque é um monte de coisas estúpidas e erradas e que tenho na cabeça e que tem finalmente de sair.

Foi muito pensado?
RC: Foi muito pensado, mas a música de maneira nenhuma. O que aconteceu é que foi gravar para o Alentejo, os temas tinha improvisos e min-arranjos, eu nem sequer conheço bem o disco ainda, mas tudo foi feito lá. Foi pensado no sentido em que, eu queria fazer algo diferente e não tão exigente e intenso de um certo ponto de vista, queria que fosse mais solto e ao sabor do vento.

 

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