Então com um certo distanciamento como olhas para este primeiro trabalho?
RC: Passei pelas fases todas. Tive vergonha, achei-o insuportável, adorei-o, ouvi-o apenas duas ou três vezes, não sou uma pessoa que gosto de ouvir o que faço, faz-me confusão e embirrava com tudo. Agora, quando gravei o segundo olhei-o com todo respeito do mundo pensei que o álbum era bom. Gosto de o ouvir. Foi um disco mais à flor da pele, por outro lado, não foi pensado como álbum, comecei a tocar guitarra clássica e todos esses momentos foi apanhando-os e coloquei-os depois e mais 4 músicas, mas havia temas que já andava a tocar a quase um ano, foi sendo construindo aos poucos. Agora quando olho para atrás acho que resultou muito bem e identifica dois anos da minha vida, que já não faz sentido. Gosto de as tocar ao vivo, mas queria algo diferente.
Então o que mudou desta vez?
RC: Eu não sei ainda o que fiz, já ouvi algumas coisas, já o ouvi duas vezes, mas não tem muita coisa pronta, não tem masterização, mas aquilo que sinto que fiz um álbum viajante, mais fácil de ouvir, não há tanta coisa a ser dita ao mesmo tempo. Uma coisa que acho do "palácio" é que era algo eléctrico, nervoso, intenso e ansioso, não é apenas a minha leitura, é também de outras pessoas. Este novo trabalho é óptimo para uma viagem de comboio, por exemplo, as coisas conjugam-se umas com as outras, acho que é diferente por causa disso. Tem um não sei que de banda sonora. É mais contemplativo.
Neste trabalho discográfico usas novamente apenas a guitarra clássica?
RC: Levei montes de guitarras e só gravei com uma. É só guitarra clássica também.
Uma curiosidade partes muitas guitarras?
RC: Não, só parti esta e parti outra do meu pai quando era miúdo.
Mas, porquê?
RC: Porque eu me zango quando as pessoas começam a falar e bato e grito com a guitarra e elas calam-se o resto do concerto. Eu não faço muitas vezes isso, mas funciona. O que gosto é de tocar ao vivo, eu não sou um técnico exímio, nem nunca o hei-de ser na vida, nunca toquei perfeito. Gosto da emoção e projecta-la para as pessoas. Às vezes funciona, outras vezes não. E então é por aí, começo a sentir uma raiva e quem paga é a guitarra. Mas, para a próxima que vou comprar não vai acontecer isso. (risos)
Tens já um nome para este novo álbum?
RC: Tenho chama-se "cabeça".
Porquê?
RC: Porque é um monte de coisas estúpidas e erradas e que tenho na cabeça e que tem finalmente de sair.
Foi muito pensado?
RC: Foi muito pensado, mas a música de maneira nenhuma. O que aconteceu é que foi gravar para o Alentejo, os temas tinha improvisos e min-arranjos, eu nem sequer conheço bem o disco ainda, mas tudo foi feito lá. Foi pensado no sentido em que, eu queria fazer algo diferente e não tão exigente e intenso de um certo ponto de vista, queria que fosse mais solto e ao sabor do vento.





