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O recriador de sons

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Reflicta por instante, o que é música? Já pensou? Pois, não tem nada ver. Jerome Faria, mais conhecido por NNY, desconstrói o nosso conceito sobre sons, cadências e ritmos criando uma nova tonalidade musical mais abstracta que se traduz numa experiência auditiva inusitada. Uma viagem com texturas e nuances que se faz acompanhar por imagens. Confuso? Nem tanto, basta ouvir e deixar-se levar…

Fala-me sobre o teu percurso musical.
Jerome Faria: Essencialmente comecei mais ou menos como os adolescentes começam, tocando guitarra e bateria em bandas de garagem. Entre os 16 aos vinte anos, fiz parte de vários grupos, desde rock, heavy mental e até participei em arraiais. Tocava piano, baixo, guitarra, consoante as necessidades. Entretanto em 2003 comecei a interessar-me pelo computador como ferramenta de produção. Aí comecei a explorar mais as possibilidades que existiam com o som, como matéria-prima para além do conceito de música como canção, ou pelo menos a estrutura tradicional.

O teu trabalho tem uma forte componente visual. Quando é que começou a fazer sentido inserir imagens nas tuas apresentações musicais?
JF: Eu previamente já tinha um interesse pela imagem antes de começar a trabalhar em música e dada a natureza abstracta dos sons com que trabalho achei que era um auxiliar interessante principalmente na Madeira. É um tipo de música que é pouco comum, pareceu-me uma boa ideia associar a imagem como representação visual com o que estou a fazer. As imagens que uso são reactivas, ou estão de uma maneira que as pessoas se podem aperceber mais facilmente da influência desses padrões. Acaba por ser mais interessante para quem não conhece, se deixar prender pela imaginação ao ver imagens e uma representação visual da música.

Fazes recolhas de sons na natureza antes sequer de criar estas novas tonalidades?
JF: Sim, mas não posso dizer que exista um processo fixo. Eu tanto posso usar instrumentos musicais, como a natureza e ruídos do dia-a-dia.

Como inicias esse processo criativo?
JF: É mais um processo de pesquisa e aprendizagem. Procurar uma nova técnica, um novo sintetizador, qualquer coisa que me permita adquirir um novo conhecimento. Os resultados acabam por sugerir outras ideias e misturo gravações anteriores com as actuais. Muitas vezes tento reproduzir sinteticamente um som natural, tento faze-lo a partir do zero. Ou mesmo do dia-a-dia e tento desconstrui-lo, ou decompor até ser uma coisa completamente diferente. É esse o processo de experiencia que acaba por sugerir ideias e depois é uma questão de intuição.

A tua música como há pouco referistes é abstracta. O público que assiste aos teus espectáculos entende no final?
JF: Uma palavra que é usada muitas vezes como descrição dos concertos é viagem. Acaba por ser interessante, porque aquilo que procuro fazer é também essencialmente sugerir um universo, um ambiente em quem está a ouvir participa com a sua imaginação. Eventualmente. Não há uma estrutura rítmica ou melódica no meu trabalho. Não faz muito sentido que as pessoas procurem que aconteça alguma coisa. Normalmente, são camadas de estruturas e nuances que depois levam a que as pessoas se deixem levar. Eu gosto pensar que a minha música evoca um sentimento de nostalgia em certos momentos. Esse aspecto de deixar-se levar numa sala com cinquenta ou cem pessoas acaba por ser uma experiência individual, porque cada um interpreta-o de forma diferente.

Nas tuas composições utilizas o som e a imagem. Já pensastes em usar um terceiro elemento, dentro das temáticas que abordas nos teus concertos?
JF: Já pensei e tenho um projecto em desenvolvimento que é ligado à imagem, mas com a componente narrativa que é o chamado filme-concerto. Ou seja, estar a criar em tempo real, com improvisação, uma banda sonora para um filme mudo. Acho que este tipo de estilo musical têm uma influência significativa sobre as emoções que as imagens evocam. Nesse âmbito, gostava de interagir com outros instrumentos, para capturar nuances ou sons dos ditos tradicionais, sejam ruídos, ou pancadas de um violino. Todas as formas de não tocar um instrumento, mas que emitem som.

Um concerto que estás a prever para quando?
JF: Espero eu, este ano, já que estou a trabalhar nele a cerca de um ano e meio. Devia ter acontecido o ano passado, mas por questões práticas não foi possível. A ideia era estreá-lo cá na Madeira, numa sessão de cinema. Era importante para o filme em questão. Trata-se de um registo importante na história do cinema e especialmente do mudo. Seria importante para quem não conhece este filme vê-lo e também para quem o tenha visto, ter uma interpretação diferente. O título é “ o consultório do Dr.Caligary”. É uma sinfonia que é feita pelo computador que irá processar esses sons, ou seja, os músicos irão tocar em tempo real os seus instrumentos e eu tentarei usar essas tonalidades e irei processa-los de maneira que, neste caso a matéria-prima acaba por acontecer no momento e eu tenho o mesmo papel de improvisação que os músicos, através do computador.


http://www.nothing.scene.org/nny/work.html

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