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O sobrevivente

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Sérgio Godinho condensou num livro 40 anos de canções de sua autoria. Um percurso que refuta como sendo uma carreira, mas que visa ser sobretudo o assinalar de uma efeméride que se iniciou com o disco "sobreviventes".

40 letras, 40 canções é uma sumula de 40 anos de carreira, porque optar por um livro?
Sérgio Godinho: Eu achei que era interessante que as canções fossem reinterpretadas. Elas têm imagens imaginárias em si para cada pessoa, sempre gostei muito de pintura, das artes plásticas e sempre achei que era um cruzamento interessante e que um dia teria de ser feito. Era um velho trajecto que só foi concretizado agora, há dois anos, no ano dos meus quarenta anos de canções que assinalou o meu primeiro disco que é o "sobreviventes". Portanto, era uma aventura múltipla e uma repercussão das minhas canções no trabalho de outros criadores, fico muito contente como isto foi feito, porque o João Paulo Cotrim, o editor, é alguém que é extramente prestigiado no meio da ilustração e da banda desenhada. Foi a pessoa ideal para fazer estes cruzamentos, estes casamentos de canções, no caso de letras. É um outro universo, é como se houvesse outra música para essas canções.


Passados 40 anos somos o mesmo país que cantou no início da sua carreira?
SG: Tenho dois discos de antes do 25 de Abril, mas passados 40 anos não somos o mesmo país de maneira nenhuma. Não podemos falar de liberdade, há muitos atropelos, sobretudo há muito injustiça e desigualdade social. Eu saí durante 9 anos, vivi exilado, precisamente por causa de uma guerra colonial que foi criminosa. Desde logo, não existe essa realidade.


Digo isto porque as suas canções e do Zeca Afonso ouvem-se nas ruas e continuam actuais.
SG: Claro, porque há um ferrete social e económico que esta a atirar a gente para o desemprego, para um desespero social e isso é absolutamente verdade. Nesse aspecto as canções aplicam-se, porque falam disso, a maior parte não são estrictamente políticas, falam da vida, do amor, da sociedade, são críticas irónicas, personagens que vou inventando, é um universo ficcional que se cruza com a realidade. Mas, isso sempre aconteceu. A nossa sociedade sempre foi bastante imperfeita no acesso a uma boa vida económica, nomeadamente, a uma cultura que é algo com que nos temos que preocupar, porque é ela é muito pouco acarinhada.


A carreira que teve é algo com que sempre sonhou ou ultrapassou as suas expectativas?
SG: Não, nunca sonhei a longo termo. Foi um ímpeto criativo que me fez escrever canções e pelo meio escrevi outras coisas, como livros infantis. Agora, este ano, vai sair outro livro infanto-juvenil e estou a escrever contos, não para crianças, mas espero, para adultos. Mas, nunca sonhei a longo termo, por isso, quando atingi esta efeméride dos 40 anos, não quis que se chamasse 40 anos de carreira, porque pressupõe uma previsão ao longo termo de algo. As coisas foram acontecendo com previsão a menos, é um percurso digamos um pouco espontanista também faz parte de mim.


Há neste momento espaço para novos cantores com uma carreira como a do Sérgio Godinho?
SG: Sabe, o espaço não é famoso, os discos, ou CD, não se vendem. Hoje saca-se da internet legal ou ilegalmente, quando são legais teoricamente recebe-se dinheiro, mas é muito difícil para alguém poder singrar. Por outro lado, também há um acesso mais fácil a tecnologia para se poder gravar, poder fazer em casa manipulando com estúdios que são computadores no fim de contas e nesse aspecto as coisas são mais facilitadas. A estructura que pressupunha a gravação era cara e agora há muita gente em Portugal a fazer música de todo o género, ao nível de música é um enorme leque que foi aparecendo, falo do pop, do rock, ou da música clássica e de raiz. Muita gente se tem afirmado.


Mas, existem cantautores como o Sérgio Godinho que transformam poemas em música?
SG: O João Pedro Martins que é o compositor dos Deolinda é um excelente de escritor de canções. O B Fachada escreve bem, o JP Simões, os Clã há muita gente a escrever e coisas digamos substantivas. Vai sempre aparecendo gente nova.


Para os próximos 40 anos qual será o seu percurso?
SG: Acho que não vou fazer mais 40, por isso, não se aflija! (risos) Já ia ser muito velhinho. Vamos colocar objectivos muito mais modestos também? Compor talvez só para o ano, porque este ano estou muito fixado em escrever esses contos e os infanto-juvenis ainda me falta um por terminar, pelo meio há os concertos, não estou sempre a fazer isso. Estou a tentar encontrar uma voz comum a esses contos, não é algo desgarrado, são coisas que acabam sendo outras, aconteceu-me um pouco isso com o livro de poesia, o "sangue por um fio", que durante dois meses escrevia obsessivamente toda a noite e no dia seguinte tornava a olhar para aquilo, foi um processo gradual. Não sou um arrependista a criar, o meu processo é também fazer uma coisa que julgo estar bem e no dia seguinte descobrir que não esta assim tão bem quanto isso e depois melhorar.

 

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