Como funciona o vosso processo criativo? Vocês conhecem-se desde a infância e portanto há uma empatia total.
PM: É um processo que varia. Um pode chegar com a música á sala de ensaio, ou já aconteceu, um aparecer com a letra e a melodia saiu logo no momento. Há sempre alguém que apresenta uma linha e a partir é desenvolver. É tentar perceber o que o André transmite e o que esta a pensar, depois vou tentar interpretar da minha forma, nunca como ele o faria. Nós combinámos, mas tudo se torna mais bonito quando temos diferentes perspectivas, porque ele escreve as letras e eu dou-lhe uma vida totalmente diferente da que ele como autor imprimiu. Eu vivo-as de forma distinta.
AA: Eu acho que se nos permitimos a presunção, a magia que pode haver na nossa música nasce daí e nunca tentámos desvendar com medo de quebrar o feitiço.
Então nunca discordam?
PM: Sim, muitas vezes.
AA: Discordámos, mas acho que é só nos pormenores.
Nunca chegaram ao ponto de dizer: esta canção não está dar certo, vamos parar.
AA: Não. (risos) Tudo chega a bom porto.
PM: Às vezes posso estar num dia em que tudo aquilo não esta a dizer-me grande coisa. Eu sei que vai mete-lo na gaveta, mas vai busca-lo outra vez. O André também sabe como vou reagir. Se ele apresentar noutra altura já vou ter outros estímulos que me vão permitir abordar o que ele me esta apresentar.
Outro dado curioso é que vocês definem a vossa música como meta prog, o que é isso?
AA: Isso era muito no início, era uma música muito instrumental e era tipo, eu só na bateria e o Pedro no teclado que fazia um som complicado e técnico. Então o que é que estamos a tentar fazer? Dizíamos que era meta prog, para além do prog, ou aquém de um tipo de música qualquer, um purgatório. O prog é sempre mal visto, nós também não sabíamos suficiente de música para toca-la, então estava ali uma alma penada. (risos)
Voltemos ao primeiro álbum, o que mudou desse trabalho até o “pintura moderna”? Vocês referiram há pouco que foi mais instrumental, mas para além disso?
AA: No primeiro havia algumas canções e são ainda mais esquisitas. Queríamos fazer canções sem guitarras à lareira.
PM: Foi mais experimental.
Dá-me a sensação ao ouvir este trabalho que há muita fusão, que existem muitas experiencias musicais.
PM: Provavelmente. Ouvimos muita música, desde Amália, Animal Colective e crescemos a ouvir Beatles. E se formos a ver eles foram os primeiros a terem fusão na sua música. Nós como consumidores ávidos percebemos que existe ali uma mistura de várias coisas. Há temas na nossa música em que pensámos como vamos apresentar isto ao vivo? Como os Beatles pensaram em algumas das faixas do “Sergeant Pepper”, que nunca chegaram a toca-las em palco, porque não era possível. Nós pensámos na abordagem para temas que gravámos em estúdio que levam uma produção mais forte, como é que duas pessoas conseguem apresenta-las?
Então há temas nestes álbuns que não sabem como apresenta-las em público?
PM: Sim, temos alguns. Sabemos que somos dois e que seriam necessários mais elementos para cobrirem outras partes que estão no disco.
Do último?
PM: Sim, é preciso haver empatia que ainda não aconteceu, não sei se vai haver com outro músico que possa pertencer ao Aquaparque. Somos lixados, somos uma bolha muito própria, damo-nos muito bem, respiramos um ar muito próximo enquanto músicos e é difícil uma outra pessoa poder entrar, é complicado, mas não fechámos a porta.
No entanto, tem estado a apresentar trabalhos ao solo, é um prelúdio do fim ou não? Ou é apenas um intervalo nos Aquaparque?
PM: É um momento paralelo. O André já tem com a Joana da Conceição o “tropa macaca”, desde que os Aquaparque se iniciaram. Eu apresentei-me ao vivo, mais recentemente, antes deste segundo disco. Em coisas mais circunscritas, mas sempre tivemos estes projectos em paralelo.
Tem já um terceiro trabalho em vista?
AA: Já começamos a tocar algumas das músicas deste novo trabalho, porque na promoção deste disco que já fez um ano em Abril, quando o andávamos a tocar, compusemos temas novos para manter tudo orgânico e fresco. Olhámos para o primeiro álbum, ver o que podemos tocar e que fazia sentido com os novos temas desta “pintura moderna” e depois como estávamos numa onda boa de trabalho, escrevemos dois ou três temas que incluímos nos concertos. Planos para gravar ainda não há.
Aquaparque porquê?
AA: Não há grande história, íamos começar a banda e precisávamos um nome e surgiu esse, porque é a ideia de diversão sem responsabilidade, é uma imagem do passado piroso dos aquaparques no Algarve e que podia muito divertida. A maior parte das bandas que foram muito boas, tiveram nomes que não quiserem dizer nada, os Blur.
PM: É uma memória boa, que não existe e não faz sentido.