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Os reis da festa e da alegria

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Formados no final de 2006 os Melech Mechaya, com João Graça no violino, Miguel Veríssimo no clarinete, André Santos na guitarra, João Novais no contrabaixo e Francisco Caiado na percussão, são hoje apontados como a primeira e mais proeminente banda de música Klezmer em Portugal. Uma sonoridade que se mistura com outras influências musicais e cujo resultado são composições que nos fazem sorrir e dançar sem parar.

Como é que decidiram criar este projecto musical? Como é que tudo começou?
Miguel Veríssimo: Nós conhecíamos os cinco, erámos amigos comuns uns dos outros, uns do conservatório de música de lisboa, outros da praia e sítios assim. Houve um dia que um dos professores trouxe um livro de partituras de música tradicional judaica, música Klezmer, que mostrou ao João e ao André e depois eles experimentaram. Posteriormente convidaram-me a mim e mais dois, e mais três, e quando demos por nós estávamos os cinco a experimentar e a fazer as nossas próprias músicas. Ao fim de sete anos estamos aqui.

O que vos atraiu neste tipo de música, o facto de ter muitos instrumentos pouco vulgares quando comparado com a música portuguesa?
João Graça: Acho que não teve tanto a ver com os instrumentos, se bem que foram eles que nos uniram que ajudou a criar este tipo de formação, mas acho que tinha a ver mais com a energia da própria música Klezmer. É uma sonoridade muito forte e festiva, embora não a conhecíamos muito bem, já a tínhamos ouvido de alguma forma, contactámos com ela, ou em concertos ao vivo, ou em discos de música Klezmer. Depois achámos que era una sonoridade importante explorar em Portugal.


A vossa sonoridade nasce de uma mistura de diversas variantes musicais, como o fado e outras. Isso nota-se no primeiro EP "Budja Ba". Esta fusão acontece naturalmente ou foi sendo construída?
MV: Foi surgindo de maneira natural à medida que fomos explorando as músicas. Naturalmente incorporando outras sonoridades, outros ritmos que simplesmente nos pareceram apropriados e facilmente chegámos até eles. O nosso EP que é muito pequeno, só tem cinco músicas, foi a nossa primeira obra discográfica. Ainda é um trabalho bastante verdinho e não reflecte o aspecto que temos hoje. À medida que vamos fazendo músicas novas, nós respeitosamente não respeitámos as regras da música tradicional, vamos fazemos o que nos soa bem e que achámos que é interessante. A música portuguesa provém da inevitabilidade de sermos portugueses e é natural chegarmos a essas sonoridades.


Os vossos trabalhos discográficos também se pautam por terem músicas em parcerias, escolhem músicos de diversas sonoridades. Como é que chegam a conclusão que determinado tema necessita de uma determinada voz, como foi no caso da Mísia e outros.
JG: Acho que isso começou logo com o "Budja Ba", o primeiro disco e convidámos as tucanas. Este é um processo muito democrático, temos uma música e achámos em conjunto que funcionaria bem a voz, neste caso, porque aquilo que é isso que nos falta de uma forma genérica e depois pensámos em pessoas com quem temos alguma identificação musical, ou percurso de projectos artístico e de vida. Até agora acho que tem corrido muito bem, no " aqui em baixo tudo esta bem" convidámos o Frank London, o líder carismático dos Klezmatics, foi uma colaboração pontual no disco, mas temos trocado alguns emails. Com a Mísia essa parceria extravasou o trabalho discográfico e participámos recentemente em concertos ao vivo e em outros projectos.

Então em que se diferenciam estes dois trabalhos?
MV: Sim, este disco apesar de ser de 2011 está com uma vida bastante comprida, isto tem a ver com o facto de ter sido editado intencionalmente em Portugal e ter sido distribuído este ano na Europa, EUA e Japão. É um trabalho discográfico que já estamos um pouco cansados de tocar, mas nesses países chegou a pouquíssimo tempo e por isso continuámos a promove-lo, embora estejamos a trabalhar já no próximo. A grande diferença entre este novo trabalho e o "Budja Ba" é a maneira como fizemos a música que lá esta. No Budja Ba todas as músicas passaram por um filtro muito forte que foram os concertos ao vivo e aquilo que esta lá foi uma tentativa de reproduzir o que fazemos ao vivo. No "aqui em baixo é tão simples" foi diferente, pensámos nas músicas sem a ditadura de entreter que tentámos que aconteça nos concertos ao vivo, que é por as pessoas a dançar e rir e cantar e pensámos neste disco como um objecto artístico mais especifico, mais único. Então ficámos muito satisfeitos com este trabalho, que achámos que resultou muito bem e lá esta é gravado dois anos depois, muitas músicas depois, muitos quilómetros depois. Isso só mostra um estágio bastante diferente da nossa maturidade enquanto grupo, executantes e compositores.


O segundo álbum teve uma grande aceitação, mas como já referiste houve esse grande salto internacional. A que devem o vosso sucesso? Acham que o vosso som tem quase uma conotação universal que lhe permite ser transversal pelos vários tipos de público independentemente da língua ou não?
André Santos: Eu acho que tem a ver com isso, com a própria mensagem da música que é muito universal e que toca emoções muito fortes. A questão de não haver a barreira da língua que poderia impedir que a nossa música fosse menos aceite lá fora, não existe, pode ser uma porta de abertura, mas também pode ser um entrave. Depois os nossos concertos são muito interactivos e aqui o Miguel tem essa capacidade de compreender e partilhar isso com o público e faze-lo sentir que esta muito próximo de nós e não como algo de muito distante, mas que afinal não é e que na verdade também quer participar. Acho que as pessoas, creio eu, podem sentir isso, uma vivência do espectáculo. Acho que tudo junto pode explicar em parte termos tido concertos em Espanha e fomos também a Bélgica, Croácia e Cabo Verde. A reacção acaba por ser a mesma que em Portugal e não encontrámos muitas diferenças. O publico envolve-se ri-se, dança e manda bocas quando tem de mandar. (risos)


JG: Uma das coisas curiosidades é que o nosso público é muito heterogéneo em termos de idades, de estractos e tribos sociais, temos de tudo em todos os sítios onde vamos. Sentimos que a única constante na audiência é a diversidade e gostámos muito disso e de haver esta coisa tão imaterial que são sons, é a música, toca as pessoas que se despem de preconceitos e juntam-se durante uma hora em comunhão.


Depois de vos ouvir, o público não fica surpreendido quando descobrem que são portugueses? Não perguntam se são de Israel ou do médio Oriente?
MV: Sim, normalmente lá fora acontece sempre isso. A pergunta que normalmente nos fazem é se somos judeus. E não somos judeus, não temos nada a ver com nada judaico, apenas gostámos deste tipo de música. Também já aconteceu em Portugal num concerto inteiro a falar português nos perguntarem se erámos portugueses. (risos).


Já adiantaram que estão já a pensar no vosso terceiro trabalho discográfico, então o que irá acrescentar para além do que já mostraram?
MV: É uma boa pergunta, nós ainda não sabemos. Estamos num processo lento, gostamos de "aqui em baixo tudo é simples" mas, não queremos repeti-lo, nem fazer uma coisa completamente diferente. Então estamos num processo de compor coisas novas, pesquisar músicas tradicionais para as quais possamos criar uma roupagem nova e depois havemos de fazer uma selecção daquelas que achámos que são melhores. Mas, neste momento não temos ideia do que será o próximo disco. A música tem que ter a ultima palavra.

 

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