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Os sensíveis

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Os sensible soccers são uma banda formada pelo Emanuel Botelho, Filipe Azevedo, o Hugo Alfredo e o Né Santos, que aposta em sonoridades electrónicas psicadélicas. Uma aventura musical, sem género à vista, que já se tornou um som de culto das novas gerações de portugueses e não só. Fomos falar com eles, excepto o Filipe que pelos vistos só gosta de suspirar.

Quando fundaram "os sensible soccers" vocês já possuíam a experiência de outras bandas, para além do futebol o que vos juntou neste projecto?
Né dos Santos: Basicamente, eu e o Hugo Alfredo somos de Vila do Conde e o Emanuel e o Filipe Azevedo são de São João da Madeira. Conhecemo-nos em Coimbra onde estávamos a estudar, o Hugo começou a compor e a fazer umas demos sozinho, depois enviou ao Emanuel que ouviu e acrescentou mais umas coisas. O Filipe Azevedo e eu entrámos no ano seguinte e desde logo embocámos no processo de gravação do EP em Outubro de 2011.
Emanuel Botelho: Eu e o Né tivemos a uma dada altura um projecto que era os "The Portugals" que começámos em Coimbra e era bastante diferente do que fazemos agora. Era uma banda muito mais pop, fundada na cena low profile, aqui viemos explorar outra coisa, pegámos no electrónico.
Hugo Alfredo: Quando vocês tiveram os "The Portugals" foi num determinado momento em Coimbra, os "sensible soccers" surgiram uns anos depois, em que já tínhamos atravessado a nossa fase de estudantes e estávamos os quatro bastante deprimidos e penso que foi isso que nos juntou mais do que propriamente futebol.


Então falemos um pouco da vossa música, pode-se auscultar uma série de influências na vossa sonoridade, não é só pop electrónico, há rock e até música ambiente. É uma mistura muito grande.
HA: A nossa ideia passa por aí, utilizar sons que foram usados ao longo de todo o século XX, desde a electrónica dos anos oitenta, a psicadélica dos anos 70, mais elementos pop e até de música de dança. Com esse conjuntos de sons tentámos criar uma coisa mais nossa, sobretudo sem uma forma assumidamente pop, ou seja, pouco cantamos, a nossa voz aparece como instrumento e são músicas e refrões cantaroláveis. Foi tentar pegar nesses elementos e explora-los ao máximo para ver até onde iam com eles.
EB: Não tentámos muito ser uma banda de género. Nós temos muita coisa diferente. Acho que não é só a música sequer que nos influência, a vida também nos vai influenciando e há toda essa questão de que somos apaixonados por música, ouvintes quase religiosos e isso faz-nos não conseguir estar restrictos a um só género, quer como ouvintes, quer como criadores.


Então o que mudou do primeiro EP para o Fornelo tapes.
NS: É uma questão da natureza das músicas. Lançámos o primeiro EP e depois temos alguns esboços que pela sua natureza achámos que não merecem grande produção. Então gravámos de forma caseira dois temas, que aparecem no Fornelo tapes volume I e basicamente foi por isso, essas músicas viviam do que eram e não de uma grande pós produção.
HA: Para gravarmos um EP, neste caso o segundo, vamos partir para aquele que se calhar é que é o nosso segundo trabalho. Tal como o Né disse, o Fornelo tapes é um trabalho intermédio que surgiu mesmo ao longo da nossa carreira. Para nos concentrarmos num novo projecto temos que nos dedicar durante meses a esse trabalho. O primeiro demorou 3 meses sensivelmente a gravar e misturar e foi um processo longo. Já para não falar da parte da composição que tinha sido feita meses antes e tinha durado muito tempo. A questão é nos fomos concentrando, para o podermos fazer tivemos de ter dinheiro para nos sustentar durante esses três meses em que não estávamos a fazer nada. Isso é muito complicado, é por isso que temos mantido um ritmo de edições mais pausado em prol de uma carreira com vários discos e não a construção de uma carreira curta com discos lançados num curto espaço de tempo. Também a natureza das músicas exige que se dedique muito tempo.
EB: Algo que atrasou bastante a criação deste segundo disco alargado, foi o facto de nós desde que lançámos o primeiro EP não temos conseguido parar de tocar. O lançamento foi no dia 1 de Outubro de 2011 e desde aí até agora demos mais de 50 concertos.


Impulsionados pela internet?
EB: De certa forma, o momento que foi mais viral foi quando fomos ao "boiler room". É um evento de dimensão mundial e nós participamos no primeiro que foi organizado em Lisboa. O nosso timing e a gravação que saiu posteriormente chegou a muita gente de fora que não nos conhecia de todo e isso foi o nosso momento.
HA: Há também outra fase muito interessante, após lançarmos o nosso EP em Outubro, e até antes de termos muitos concertos agendados fomos convidados para um concerto em "Serralves em Festa". É um evento que reúne muita gente da cidade do Porto e não só, por aí como 85 mil pessoas, que correu muito bem e deu-nos a ideia que se tratava de um segundo elam que estava a surgir em volta da banda. Depois disso começaram a aparecer alguns elogios por parte da imprensa nacional, portanto acho que se pode considerar que o nosso segundo remate foi este concerto em Serralves.

Este vosso novo trabalho que será para além do que já fizeram até este momento?
HA: É um trabalho mais directo, porque neste dois anos evoluímos e conseguimos por vezes obter o que nos interessava de uma forma mais rápida, do que se calhar no outro disco. Também já temos feitos algumas músicas no tempo que em estamos a dar concertos. O evoluir desses espectáculos e dos temas que estamos a tocar fazem com que a abordagem ao próximo disco seja mais fácil. Tirando isso, acho que este novo EP vai ser completamente diferente.
EB: Vai ser diferente do primeiro, se conseguirmos chegar a esse ponto, no todo vai ser algo mais coerente, vamos mais propriamente contar uma história do que mostrar uma colecção de canções como foi o caso do projecto musical anterior. É coerente no sentido em que somos assim de facto, com a nossa verdade.


Já tem um título para este novo EP?
NS: Ainda não temos.


Uma frase que o possa definir?
HA: Eu penso que vai bater, que vai ser um disco espiritual. Vai ter seis temas ou talvez alguns mais. Pretendemos lança-lo no próximo Outono.


Como vem o futuro em Portugal para os jovens músicos como vocês? É mais difícil, porque não se encaixam num género em particular?
EB:O futuro dos músicos é uma questão complexa. Vai ser muito fácil fazer música no futuro, vai ser muito mais difícil viver dela. É mais acessível, porque os meios para o fazer são mais baratos, os computadores estão ao alcance das pessoas que lhes permite produzir em sua casa sem ter de recorrer aos grandes estúdios e isso antes limitava tudo.
NS: Isso ajudou e é patente no nosso caso, não podíamos produzir a nossa sonoridade se não fosse por computador, não tivemos formação musical nenhuma, era uma heresia tentar fazer música há uns 10 anos atrás.
HA: Podemos considerar que o Filipe é um instrumentista, tem a parte da produção em termos musicais e formou-se nessa área. Nós, somos mais melómanos, gostamos muito de música e temos o bichinho. Quando apanhámos essas primeiras oportunidades, começámos a aproveitar e a evoluir. Da nossa parte foi uma procura intensa, apesar de surgir naturalmente, tocar e fazer música como banda, mas estávamos a pensar naquilo que iriamos fazer.
EB: Só para voltar um pouco atrás e completar o que estavas a perguntar em relação ao futuro, eu acho que já estamos a viver o futuro da música portuguesa. As pessoas têm cada vez mais possibilidades em aceder à música muito boa, tenho a certeza que nunca ouvi tanta como agora e aí há um outro elemento importantíssimo que é a internet, que veio mudar tudo. Porquê? Porque os músicos pequenos passam a dominar melhor os meios legítimos de divulgação que as próprias editoras, que ainda acreditam que tem de promover os músicos à moda antiga. Eles não têm bem a noção como funciona a internet e os músicos mais independentes têm. Isso veio provocar novas oportunidades. Agora, ser muito conhecido, ou ser conhecido por um grupo vasto de gente hoje em dia, e não o direi para o futuro, não vai significar ser rico com a música. Sinceramente não tenho nenhum desejo nesse sentido, se conseguir viver disso e tiver trocos para comprar tabaco, óptimo, perfeito. Mas, não tenho nenhum anseio nessa matéria. Acho que o panorama dos músicos actuais também, não tem esse anseio, fazem-no pela boa música, são apaixonados como nós e acho que é um momento bonito para a música portuguesa.
NS: Antes de pensarmos em ganhar dinheiro, ou viver da música, queremos estar confortáveis a fazer o que fazemos. No dia que sentimos que não nos estamos a identificar com o que estamos a fazer, nem sei como imaginar esse cenário, porque é algo que não vislumbro para nós.
HA: Há coisas que existem paralelamente a banda que faz com que se mantenha. Somos amigos uns dos outros, temos uma identificação intelectual, se assim se pode dizer, á parte da música.
EB: Não estamos sempre juntos. Vivemos ao longo do país, do Norte até o centro e isso faz com que tenhamos um ritmo diferente de banda.
NS: Sentimos que precisámos de estar juntos como banda.
HA: Depois sentimos que não podemos deixar de falar-nos. Começámos a ensaiar no centro comercial Stop, um sítio muito especial. Tinha-se tornado num shopping desactualizado, entretanto, as lojas abandonadas foram preenchidas por bandas, devem actualmente ensaiar nesse espaço algo como 200 grupos, são 3 pisos repletos de música. Foi importante numa fase inicial irmos para lá fazer música e posteriormente faze-lo na aldeia. É um pouco a fuga da cidade, onde nos sentimos confortáveis.
http://sensiblesoccers.bandcamp.com/

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