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PZ é um ET?

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Começou a fazer música no seu quarto com um computador, um sampler, e um ou dois sintetizadores quando tinha 16 anos. Á medida que foi aprendendo a mexer em máquinas e a tocar vários instrumentos, num modo auto-didata, foi desenvolvendo uma sonoridade própria. A fama surge com o tema “cara de chewbacca” , que se torna um sucesso viral e lança o alter-ego de Paulo Pimenta para as luzes da ribalta nacional. As “mensagens da nave-mãe” é o seu mais recente álbum, uma viagem electrónica salpicada de letras irónicas e de um certo non-sense que já se tornou a imagem de marca de PZ.

És um artista inconformado ou um ET vanguardista?
PZ: Inconformado com algumas coisas, mas não me levo muito a sério, por isso, as minhas músicas tem alguns aspectos irónicos, humorísticos e de algum cinismo perante a sociedade em que vivemos. Eu tento dar uma visão muito diferente, mas relacionada com a nossa cultura, sobre certos aspectos que são relevantes para mim, usando lá esta, a ironia e algum “non sense”, mas sempre com elementos portugueses.

Ao meu ver alguns dos temas do último álbum reflecte o que acabas de dizer, esse inconformismo.
PZ: Alguns.

Nota-se na canção “censura”, abordas mesmo os problemas em que se debate actualmente na sociedade portuguesa.
PZ: Acho que sim, eu gosto de trabalhar numa perspectiva moderna em termos das letras e da música. Actualmente em Portugal estámos a passar momentos difícies, mas ao mesmo tempo é um país que tem coisas boas, gosto de misturar tudo isso e não ter aquela atitude depressiva em relação ao que se esta a passar, mas tentar através da música mostrar um lado não tão cinzento, mas com laívos de humor negro. As letras surgem por tudo o que influencia à minha volta, na cidade em que vivo, o tempo em que estámos a viver. Eu gosto de explorar esses temas simples, do dia-a-dia na minha música.

Este disco é mais electrónico que o teu anterior trabalho com uma sonoridade mais do anos 70, este tem um som mais sofisticado.
PZ: É por isso que se chama “rude sofisticado” porque essa sonoridade dos anos 70 e 80 provém dos drum machines e sintetizadores que uso dessa época, eu gosto muito desse tipo de sons. Neste novo álbum uso a guitarra, o baixo, mas é puramente o mais electrónico, usei mais os sintetizadores, com programação de bits, às vezes eu próprio tocava os bits, é mais programático e mecânico este “mensagens da nave-mãe”. A base electrónica é a assinatura de PZ, dá-me a liberdade de ter o que quiser a minha maneira e de expôr as minhas influências do tecno, da electrónica e do hip-hop que sempre estiveram presentes.

No “rude sofisticado” houve uma certa polémica com algumas das canções, nomeadamente, a cara de chewbacca.
PZ: “A cara de chewbacca” não é do “rude sofisticado”, foi uma colaboração que fiz com o músico DB, que é um músico de Gaia que faz bits, por isso é que se chama DB mais PZ, fiz duas músicas com ele, a “cara de chewbacca” e “tu és a minha gaja”. Foi um projecto interessante, porque lá esta hoje em dia com as redes sociais surgem essas colaborações, através do email ele deu-me a conhecer as suas músicas, ele tinha uma base instrumental que é a da canção da “cara de chewbacca”, num álbum de bits que se chama “retroactivo”, eu ouvi a melodia e lembrei-me de um refrão sobre uma gaja que tinha cara de chewbacca, parti-me logo a rir e tentei fazer uma história em volta disso. A partir daí conhecemo-nos, demo-nos muito bem e ele acompanha-me nos concertos. Depois fiz uma música para ele cantar por cima, “tu és a minha gaja”. A polémica em torno da música “cara de chewbacca” surgiu com a provedora da RTP.

Que acusa-a de ser sexista.
PZ: Sim, no início o problema eram os palavrões, depois foi mais longe e disse que era imoral, que denegria o papel da mulher na sociedade actual. Eu acho que é uma interpretação muito séria da música e não teve o sentido de humor. A maior parte das pessoas percebem que a música é uma paródia e nunca tive o objectivo de ofender ninguém. É uma canção para as pessoas sentirem uma música diferente, que tem piada, mas que obviamente não é para ser levada a sério. Acho que tem a ver com as conversas normais machistas que temos entre amigos, as mulheres também tem esse tipo de conversas, tentei explorar um bocadinho, não criar tabus e explorá-los de uma forma engraçada e divertida.

Consideraste um músico do cocooning? Porque tu crias a tua música individualmente, no teu mundo que é o teu quarto, onde dispões de todo o tipo de novas tecnologias, quase agorafóbico. Achas que geracional ou surge por és uma pessoa introvertida, mais intimista?
PZ: Acho que é uma mistura. Como eu digo em “100% natural”, que é quase o mote para o disco, “é uma mistura essencial para a minha postura superficial”. Também é algo geracional, porque as pessoas, dos anos 90 e 2000, podem fazer os seus bits e as suas músicas no seu espaço privado, podem criar um tema composto a solo no seu conforto caseiro, mas eu não sou agorafóbico, gosto também de estar com outras pessoas obviamente. De facto, não sou muito expansivo, sou-o através da música que me dá essa liberdade para fazer o que quiser dentro da minha estética musical. Sim, também sou uma pessoa que gosta de fazer música intimista, diferente, explorar o meu interior através de coisas que me vêm do exterior, mas acho que isso é a base para qualquer pessoa que faz música, não só apenas nas letras, mas também para as partes instrumentais. Eu já tive outros projectos, por exemplo, com o meu irmão, em 2008, que lancei através da minha editora” meifumado”, ele toca nos dixieland band que é um grupo de improviso onde também toco, tenho várias facetas diferentes, mas o PZ é uma viagem mais interior e intimista.

O teu alter-ego é também uma visão muito personalizada, porque achas que não cabe lá mais ninguém.
PZ: Cabe mais hoje em dia nos concertos ao vivo. Tenho dois amigos que gostam e sabem tocar a minha música, que é o Fernado Sousa e o André Simão. No Porto já temos uma comunidade de músicos que tocámos uns com os outros para apresentar ao vivo os nossos projectos pessoais, depois tornam-se parte da equipa. Ao princípio eu comecei a tocar sozinho na minha máquina e de pijama, depois trouxe os meus músicos para tocar os sintetizadores, o baixo e as guitarras. Agora temos uma nave-mãe que foi um projecto de video desenvolvido por um grupo de amigos meus, para o PZ, e lá esta a minha música, parte de mim e a minha maneira de fazer as coisas, depois para a mostrar ao exterior gosto de envolver mais pessoas e incluo todos esses elementos no espectáculo ao vivo.

Tens também uma imagem muito própria, foi por isso que também criaste uma editora?
PZ: Foi inconscientemente, quando criei a editora ainda não existia o projecto PZ. O meu primeiro disco, o “anti-corpos”, que lançei em 2005 foi se calhar o mais importante porque foi muito intimista, estava a sair de uma depressão clínica e então comecei a fazer música e quase foi uma terapia, daí o nome. Depois isso deu-nos liberdade para editar, fazer as coisas à nossa maneira. Não temos timings, não temos prazos e quando queremos lançar um videoclip lançámos, contactámos com outras bandas, neste momento a editora cresceu temos os “mind da gap” os “expeão” e editámos o primeiro álbum do “we trust” que foi gravado nos estúdios da “meifumado”. Também já gravámos trabalhos para outras pessoas, meu irmão, o Zé Pimenta já trabalhou com a “Capicua”, os “mão morta” e muitos mais. Foi inconsciente, mas o “meifumado” dá-nos a liberdade de fazer o que nos dá na cabeça, mas sempre com um cunho muito pessoal e cuidado.

Isso extende-se aos videoclipes? Porque embora pareçam ser muito caseiros, parecem cuidados e que não são feitos ao acaso.
PZ: Por acaso surgem ao acaso, “o que me vale és tu” e “passeio” foram ideias que me surgiram no momento, até tentei fazer uns takes a seguir que não sairam tão bem. No “passeio”, as riscas que aparecem na garagem foram feitas por um primo meu que usa esse espaço para os seus projectos artísticos, que é o David Gonçalves. Eu cheguei lá um dia para fazer outro videoclip e resolvi fazer sobre o passeio. Portanto, são coisas que surgem naturalmente, eram três da manhã e estava com uma insónia, coloquei a câmara e pus-me a dançar e esses auto-produzidos acabam por ter um cunho muito pessoal e espero que especial também.

Também és do Porto. É muito importante mostrar a cidade?
PZ: Não é muito importante. Apenas é a cidade em que eu vivo, é a minha cidade, onde vivem os meus amigos, a minha família embora seja de Famalicão, eu estudei no Porto e gosto de viver nesta cidade. A minha cultura mais próxima dentro da portugalidade é a do Porto, do Norte e tento mostrá-la e também como uso expressóes do norte e isso transparece na música, mas não faço questão de o dizer. Tanto é assim que acho que Portugal tem sítios fantásticos, é um privilégio tocar como PZ em sítios como Lisboa, nos Açores ou na Madeira, são sítios que devido a minha preguiça seriam improváveis de conhecer, mas que foi possível, através da minha música.

Eu sei que és um músico intimista, mas os concertos não te causam uma certa ansiedade, mesmo tendo a nave-mãe e toda a máquina musical por detrás?
PZ: Bem, tu nunca sabes quantas pessoas vão aparecer nos concertos, mas ultimamente tem-me corrido tão bem os espectáculos que eu divirto-me mesmo em palco, para mim são experiências únicas e eu gosto cada vez mais de tocar ao vivo.

Dos três álbuns, em especial os anteriores, haveria alguma coisa que mudarias?
PZ: Penso que não, as coisas são assim, são fotografias musicais do momento, não mudaria nada. Quando quero fazer coisas novas faço um novo álbum.

Qual te reflecte melhor como artista?
PZ: Acho que é sempre o último, são as reflexões mais recentes e é sempre difícil para mim ver de fora. O “anti-corpos” foi especial porque é o primeiro e define um pouco a minha linha, o “efervescente” é um hino pessoal e foi das primeiras músicas que fiz como PZ . O “rude sofisticado” também porque comecei a notar que a minha música chegou a mais pessoas, desenvolvi os meus videoclipes, comecei a dar mais concertos e foi um marco, mesmo o nome gosto muito e o último, “mensagens da nave-mãe” por isso mesmo. Não tenho nenhum favorito depende do momento, da altura.

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