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Terra sem Sombras em Reguengos de Monsaraz

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Reguengos de Monsaraz é a nova etapa do festival Terras Sem Sombra, e ainda uma mostra Espanha e Olival tradicional versus intensivo em destaque.

O festival inaugura a sua presença em Reguengos de Monsaraz a 23 e 24 de Fevereiro, propondo um fim-de-semana bastante diversificado que traz ao coração da região um dos mais reputados ensembles de música da câmara da actualidade, o Trío Arbós. Este concerto é também o primeiro acto de Mostra Espanha 2019, resultado da colaboração bilateral luso-espanhola. A um programa musical de excelência unem-se ecos da pintura mural do tempo de D. Manuel I, entre a estética e a política, e uma estimulante leitura das paisagens de um concelho impar, hoje banhado pelo lago Alqueva, onde coexistem tradição e modernidade. Numa parceria com o Município, o Terras sem Sombra põe em destaque a identidade de um território único.

A igreja de Nossa Senhora da Lagoa, matriz de Monsaraz, abre as portas dia 23, sábado, às 21h30, para acolher o concerto A Ordem Natural das Coisas: Música Espanhola e Portuguesa dos Finais do Século XIX. Mestres supremos do repertório tardo-romântico, o pianista Juan Carlos Garvayo, o violoncelista José Miguel Gómez e a violinista Cecilia Bercovich apresentam um repertório de grande beleza, composto por obras de Felipe Pedrell, Joaquín Malats e Enrique Granadas que elevam o potencial expressivo da literatura musical para trio. Juntaram-lhes três fados de Alexandre Rey Colaço, transcritos especialmente para trio por Garvayo, um resgate musicológico digno de nota. Um belo desafio para o agrupamento distinguido, em 2013, com o Prémio Nacional de Música de Espanha.

Filho de pai francês e mãe espanhola, mas com raízes portuguesas, Rey Colaço nasceu em Tânger, em 1854, e faleceu em Lisboa, em 1928. A sua obra é um testemunho do intenso relacionamento entre músicos portugueses e espanhóis na transição do século XIX para o XX.

O fresco do Bom e do Mau Juiz

Em 1958, foi descoberto no antigo tribunal de Monsaraz uma invulgar pintura a fresco, de finais do século XV, que evoca, alegoricamente, as Justiças Divina e Humana.

Uma observação atenta da rara iconografia do painel permite entendê-lo à luz da época, pondo em destaque um tema então muito debatido, o do bom governo dos povos, patente numa célebre obra de Diogo Lopes Rebelo, dedicada a D. Manuel I, que coloca o rei “mais próximo e junto de Deus” – prenúncio do Absolutismo. O recente aprofundamento da análise plástica e científica deste conjunto veio facultar, também, novas leituras para a compreensão das alegorias em torno da justiça recta e da justiça fraudulenta.

Estas várias dimensões focam a atenção da actividade patrimonial do Terras sem Sombra que terá lugar a 23, a partir das 15h00. São guias, em tal aproximação a uma obra-prima da arte tardo-gótica portuguesa, a historiadora Ana Paula Amendoeira, directora regional de Cultura do Alentejo, e o químico António Candeias, do Laboratório Hércules, que coordenou da recente intervenção desta estrutura da Universidade de Évora na composição mural montesarense.

A manhã de domingo, 24, será dedicada, a partir das 9h30, à interpretação da paisagem do concelho de Reguengos de Monsaraz, sob a orientação dos geógrafos Teresa Pinto Correia e José Muñoz-Rojas. Tradicionalmente, dominava o montado, sobretudo de azinho, com produção pecuária e associado a áreas de cereais. Em contraste, a vinha e o olival tradicional ocupavam inúmeras parcelas dedicadas a uma pequena agricultura familiar.
Porém, nas últimas décadas esta estrutura registou importantes alterações. A vinha tem-se expandido em unidades de produção mais especializada, que visam já um mercado global. O olival tradicional perdura, mas foram instaladas outras parcelas com produção intensiva e super-intensiva. Complementarmente, a albufeira do lago Alqueva trouxe uma transformação marcante. Pensando no futuro e na própria qualidade de vida de quem vive nesta paisagem e quem com ela se relaciona, interessa entender tais dinâmicas, avaliar o que se perde e o que se ganha e que desafios se colocam a uma gestão integrada.

Todas as actividades, organizadas em parceria com o Município de Monsaraz, são de acesso livre e sem inscrição prévia, partindo o Terras sem Sombra a seguir para Valência de Alcântara, Olivença, Beja, Elvas, Cuba, Ferreira do Alentejo, Odemira, Barrancos, Santiago do Cacém e Sines.

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