Curiosamente, há alguns dias deparei-me com uma entrevista esclarecedora e curiosa sobre um documentário intitulado "Tim's Vermeer", sobre um americano, Tim Jenison, inventor e empreendedor que movido por uma grande paixão pelas obras do artista holandês, aliada a sua curiosidade natural e uma persistência obsessiva, descobriu a resposta para o insólito metódo de Vermeer: uma lente e um pequeno espelho angular, ou seja, a lente foca a cena que se pretende pintar, mas como o que é reflectido acaba por ser projectado ao contrário, de cabeça para baixo, um pequeno espelho próximo do rosto do artista volta a inverter a imagem com a precisão desejada. Eureka! E em retrospectiva será que precisavámos mesmo de ter sabido o como? Não retira de alguma forma o mérito ao pintor? Cabe a cada um de nós responder a essa questão da forma que entender, para mim, a resposta é simples, não! Quando olhámos para qualquer obra-prima da pintura, independentemente do autor, ficámos fascinado pela beleza quase sobrenatural das telas, são quadros que tocam quase ao divino, pelo menos aos olhos de uma simples mortal, como é o meu caso. No entanto, se pensarmos bem, elas não resultaram apenas de um rasgo de genialidade, por detrás de cada uma delas estão muitas horas de estudo e trabalho. O facto de Vermeer ter usado um subterfúgio para melhorar os seus quadros em nada o diminui, muito pelo contrário, as cores, a forma como a luz é capturada e o enquadramento das cenas resultam da sua interpretação pessoal e de um esforço diário quase tão incansável como o de Jenison. É verdade que acaba com uma certa ideia romântica do génio, mas como dizia um professor meu na faculdade, 10% é talento e os restantes 90% é de muito suor. Agora, da próxima vez que revisitar Amsterdão, vou olhar para a o quadro "a leiteira" ou "a aula de música" com um outro olhar inteiramente renovado.