
67 anos depois Maria da Conceição Silva mal pode de tanto bailar e cantar desde o inicio da estrada até o palheiro onde em convívio com os amigos e família celebra com o mesmo entusiasmo e alegria a que é agora uma das maiores tradições da ilha da Madeira. A paisagem, essa, modernizou-se. Os palheiros foram na sua grande maioria recuperados, os animais domésticos desapareceram, os terrenos foram abandonados, as plantas endémicas abundam, mas o panelo continua. Desta feita, Cecília de Andrade, a cozinheira de serviço, comanda as "tropas" para alimentar 150 caminheiros do club dos pés livres que mais uma vez cumprem a tradição. São 45 quilos de couves, 10 kg de semilhas (batatas), 10kg de batatas-doces, 10kg de cenouras, 15kg de pimpinelas, 30kg de carne de vaca e porco, e vários quilos de enchidos que compõem o cozido à Madeirense. O "segredo" diz-me, está na forma como é aromatizado, com ramos de tomilho fresco, que é depois retirado da cozedura. Cada uma das verduras e carnes é colocada camada após camada, até quase o topo da panela que é preenchido com as couves e nos pequenos intervalos são colocadas as chouriças, as farinheiras e as morcelas. Tudo é cozido não num fogão de lenha como antigamente, mas a gás lentamente durante duas horas, até a água da cozedura é escoada para cozer o arroz. Nada é desperdiçado no panelo.

Mas, se a tradição antes ditava que se podia comer com as mãos, agora cada um traz o seu prato, os seus talheres e o seu copo para poder saciar a fome após um percurso duro. Depois de saciada a mais básica das necessidades humanas, nada melhor para acabar um final de dia maravilhoso e cansativo, do que ter uma barriga cheia ouvindo música tradicional à maneira. Até para o ano.






