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Santa maria, a radiosa

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Faça comigo um roteiro artístico por uma das ruas mais interessantes da cidade do Funchal.

A tradição já não é o que era e em boa hora. Antes dizia-se que não se podia andar pela rua de Santa Maria com os seus becos escusos e as suas esquinas imprevisíveis. Ouviam-se piropos incómodos, suspiros inconvenientes, alertas que indicavam que era tempo de apressar o passo. Agora, a via engalana-se com novas tonalidades que cambiam o semblante das suas portas centenárias, antes carcomidas pelas intempéries e pelo tempo. É a movida das portas abertas de Zyberchema que nos convidam a um périplo demorado pelas várias facetas artísticas, que alegram com a sua profusão de cores e texturas, as entradas desta rua já não mais abandonada, já não mais vergonhosamente esquecida. Calcorreie as pedrinhas até a porta nº 11 e tente descortinar a criatura que guarda zelosamente a entrada. Mais para frente na esquina do número 37, um herói alado enfrenta um escorpião gigante que vence com a lâmina reluzente do seu afiado sabre, pelo menos é o que a nossa fértil imaginação sugere. Ao ziguezaguear pelas gentes que seguem o rumo das suas vidas no cruzamento, deparamo-nos com a estranha e curiosa obra de Mejia Urrita que apela a mais interpretação engenhosa e seguimos calmamente sem pressas até a venda da Donna Maria, que nos brinda com odores familiares, que acordam as incautas papilas gustativas. Na entrada, um menino Jesus nas suas escadas aconchegado, dá-nos as boas vindas para uma refeição bem regional, acompanhada no final por um madeira de honra. À saída somos brindados com as feras africanas do 58. Na porta número 62 tempo de homenagem, no que parece ser uma vela branca com a inscrição do todos os artista que transformaram esta rua num evento artístico ao livre.

Seguimos sempre em frente porque esse é o caminho. Duas elegante damas brindam com a sua esguia figura elegante no virar de uma esquina um projecto sem número, uma parede decorada com estranhas entidades, como que saídas de uma caixa de Pandora. São uns “malucos” invasores que intervêm nas fachadas maltratadas da cidade, conferindo-lhes uma nova vida. Um novo orgulho. Como o do olhar de quem aqui vive, que demonstra um novo brio por acolher povos provenientes de todos os cantos do mundo, num lugar onde antes morava a tristeza e o abandono. Mais uma paragem na Dona Chica Rabo de Peixe para saciar a garganta seca de tanto caminhar sem descanso e carregar as baterias com trechos de poesia. Continuámos o roteiro artístico até a porta número 97 ornada com os bonecos de massa tradicionais da cultura madeirense, mas no canto um belo esquivo rosto feminino parece brindar-nos com um beijo. Ultrapassámos esse mimo e alcançámos a recta final do nosso périplo, a 107 retrata a urbe colorida, quiçá a cidade sonhada, do outro lado, uma mítica sereia perscruta o horizonte azul dos mares turquesa da ilha. O mar, o eterno oceano interpretado pela pedra cinza com a sua caravela altiva confundem-se com a cantaria numa porta sem numeração. No final somos novamente esbofeteados pelas cores garridas da moderna omni surf shop, na direcção oposta, um lembrete ilustrado dos tempos antigos, no número 118, reside a interpretação pessoal de uma loja de comércio tradicional onde éramos saudados pelo nome e que no final de cada visita devolvíamos com a gentileza de um até amanhã se deus quiser. Agora sim despeço-me, não com até breve, mas com abraço as portas abertas de José Maria e a todos os sonhadores que o acompanham nesta viagem pelas ruas da cidade.

http://www.arteportasabertas.com

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