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Sensibilizar com a natureza

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Foi uma iniciativa criada por Andreia Nóbrega e um grupo de amigos para alertar para a destruição dos espaços naturais da ilha da Madeira, em particular, na Praia do Portinho, no Caniço.

Num passado não muito longínquo, no inicio do século XX, desde o topo da falésia da praia do Portinho, avistavam-se as brancas velas dos navios próximos da costa e o movimento frenético das gentes na sua labuta diária mesmo à beira do calhau. O ruído ensurdecedor da caldeira de carvão, de martelos a bater e das correntes a arrastarem-se pelas negras pedras rolantes ajudavam a marcar o compasso ritmado dos muitos braços que içavam para terra os barcos que por aqui passavam em busca de passageiros, o povo que carregava às costas o fruto do seu trabalho, os seus pequenos nadas, para serem transportados até à cidade. A pequena baía protegida por muros de rocha vulcânica constituía o refúgio ideal para a propriedade da família Blandy e o estaleiro que garantia o concerto das fragatas flageladas pela força do mar e do tempo. Era um buliço constante de pessoas, trabalhadores e bens que só terminou em 1970, quando a empresa inglesa decidiu transferir toda à sua actividade até o Funchal. Desse ano em diante tudo mudou... o barulho das máquinas e o ecoar das vozes marcados pelo sal e pelo sol foram substituídos pelo rolar dos calhaus embalados pelas ondas, o vento a acariciar as canas selvagens e o piar passageiro das aves marinhas. O arsenal, construído pelo homem, pouco a pouco foi-se desmoronando e a natureza invasiva foi ocultando esses resquícios de um passado já sem nome.

 

 

 

Quase 95 anos depois, o Portinho é palco de uma iniciativa popular, pacífica, que envolveu várias pessoas, através de várias actividades de cariz artistico, um almoço comunitário e música, organizado por Andreia Nóbrega, que afirma que, "decidi tomar esta iniciativa no ano passado, porque estive cá e notei algumas máquinas no terreno que estavam paradas, apercebi-me que há um projecto imobiliário, que é um hotel, que me deixou descontente. Falando com pessoas, amigos e família notei que este sentimento não é só meu, é de muitos. Os madeirenses sentem que os seus espaços naturais estão a ser todos ocupados, especialmente à orla marítima costeira e é demais. São muitas áreas ocupadas por projectos que não são muito pensados, são mega-empreendimentos, tudo muito concentrado e apropiam-se da costa. Não estou a fazer uma manifestação, é uma concentração de pessoas que pensam o mesmo, que gostam deste espaço e gostam de usufrui-lo, porque não sabemos quando será ocupado. O que se pretende é usar ainda algumas áreas que são nossas". Quanto as alternativas para esta zona, refere que, "preferia que não houvesse alternativa, que não fosse construído nada. É impensável. Como esta é o ideal".

 

Já Sérgio Urbano, outro dos rostos deste evento, considera que, "há o projecto de um mega-hotel que esta aprovado na Câmara Municipal de Santa Cruz desde 2011, inclusivé foi à edilidade para obter mais dados e não tinham, o mesmo se pode dizer da direcção regional de Portos e outras entidades relacionadas com o gestão da orla costeira. O Portinho é um espaço natural lindissímo e queríamos sensibilizar as pessoas para esta zona que esta abandonada. É uma iniciativa que envolve pessoas lindas, de forma pacífica e comunitária. No fundo queremos documentar este espaço para que não se perca na memória, já que não existem registos bibliográficos. É um lugar com história, vão destruir tudo para construir um hotel que não se insere nesta zona, isto vai ser um projecto de cimento e betão. Deveria estar mais enquadrado na paisagem, da história que também é nossa e que se vai perder".

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